Procurando apostar na eficácia e na rentabilização dos recursos, Audi e Porsche anunciaram a união de esforços no desenvolvimento de novos veículos. Embora, desde já, com – pelo menos – uma excepção: os eléctricos, sector em que a competição interna promete continuar. E de forma aguerrida.

Segundo avança a Automotive News, que cita um comunicado divulgado pelos dois fabricantes, a decisão é uma consequência dos esforços do Grupo Volkswagen na procura de uma maior eficácia na utilização dos recursos, forma também de combater os prejuízos resultantes do chamado escândalo Dieselgate. Esta união de esforços decorre igualmente de um plano que a equipa liderada pelo novo CEO do gigante automóvel alemão, Matthias Müller, executivo que no passado não só liderou a Porsche, como comandou o departamento de novos produtos da Audi, se encontra a finalizar. E que visa o impulsionamento, no seio do grupo, das novas tecnologias, como é o caso do automóvel autónomo, do veículo eléctrico e dos serviços digitais.

Segundo as duas marcas, que até há bem pouco lutavam internamente pelos recursos do grupo destinados à pesquisa e desenvolvimento, a conjugação de esforços centrar-se-á no desenvolvimento de novas plataformas, assim como de módulos e componentes. Projectos em que a liderança será partilhada por representantes de ambas os fabricantes, sendo que, nos próximos meses, equipas conjuntas definirão, de forma mais específica, as áreas de cooperação, elaborando ainda um caminho a percorrer até 2025.

Audi vs. Porsche: a disputa pela inovação

Desde a sua compra por parte do gigante do grupo alemão, em 2012, a Porsche tem vindo a emergir como um forte rival interno da Audi, em termos de inovação e de desenvolvimento tecnológico. Levando mesmo a que soluções por si desenvolvidas, como é o caso da plataforma MSB, utilizada no modelo Panamera, tenha sido a escolhida para outras propostas das restantes marcas do grupo, como o Bentley Continental. Isto embora a Audi tenha desenvolvido e possua uma plataforma semelhante.

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Entretanto, com o rebentar do escândalo Dieselgate, a marca dos quatro anéis acabou por ser afectada, perdendo mesmo dois directores do seu departamento de pesquisa e desenvolvimento, assim como o responsável máximo pela sua divisão de electrónica automóvel. A qual, recorde-se, tem vindo a realizar um trabalho pioneiro no domínio da condução autónoma e da tecnologia de baterias.

Ainda assim, e apesar destes reveses, o fabricante de Ingolstadt tem conseguido manter-se como o centro de excelência do grupo, nomeadamente nos SUV, segmento em que, pouco a pouco, construiu um crescente e muito lucrativo negócio, fornecendo até plataformas às outras marcas do grupo, incluindo a Porsche.

Ao mesmo tempo, e com a condução autónoma a assumir-se como um futuro e importante sector de negócio na indústria automóvel, a Audi posiciona-se já como a principal responsável pelo desenvolvimento dos futuros carros autónomos do Grupo Volkswagen.

Veículo eléctrico ou… o próximo embate

De fora do acordo de colaboração agora anunciado fica a disputa pela liderança, no seio do conglomerado alemão, no desenvolvimento dos futuros veículos eléctricos do grupo. Incluindo a pesquisa em termos de tecnologia e packs das baterias, assim como no domínio dos motores.

Recorde-se que a Porsche já desenvolveu a sua própria plataforma para veículos eléctricos, denominada J1, a qual deu a conhecer no concept Mission-E. Realidade que não impediu a Audi de continuar a trabalhar no seu próprio veículo eléctrico, o qual é por alguns apontado como um futuro rival do Tesla Model X.

A disputa pela liderança no veículo eléctrico não deverá, contudo, ser a única oportunidade para (mais) um embate entre os dois fabricantes, no futuro, já que, também em domínios como o desenvolvimento e produção dos motores de oito cilindros a gasolina, para os desportivos de maiores dimensões no seio do Grupo Volkswagen, o confronto promete voltar a aquecer. Isto porque a Porsche decidiu assumir a produção deste tipo de motores, não só para consumo próprio, mas também com vista ao seu fornecimento a outras marcas do grupo, apesar de a Audi já possuir uma fábrica na Hungria, onde produz este mesmo tipo de motores.