O fotógrafo João Pina venceu o prémio Estação Imagem 2017 Viana do Castelo com o trabalho “Rio de Janeiro — Preço pelos eventos desportivos”, anunciou este sábado a organização, que atribuiu a distinção de fotografia do ano a Felipe Carnotto.

O prémio Noroeste Peninsular, dedicado este ano aos Caminhos de Santiago, foi para Xoán A. Soler, pelo trabalho “A Emoción da Chegada”, enquanto na categoria Notícias foi distinguido o fotógrafo Tiago Miranda pelo trabalho “Mama Sumae”, sobre a força militar de Comandos, tendo José Carlos Carvalho recebido uma menção honrosa por “A Campanha dos Afetos”, com enfoque na campanha presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa.

No desporto, o fotógrafo Octávio Passos foi galardoado pelo trabalho “Corrida de cavalos é uma roleta animada”, realizado no Marco de Canavezes.

Já a Bolsa Estação Imagem, que pretende abranger iniciativas ligadas ao Alto Minho, foi dada a Leonel de Castro, pelo projeto “Braços minhotos no horizonte marítimo”.

No campo de Assuntos Contemporâneos, foi distinguida Ana Brígida por “6 de maio”, sobre como “no município da Amadora, muitos inquilinos afrodescendentes vivem com condições de habitação deploráveis”, enquanto João Ferreira venceu na categoria Vida Quotidiana por “Arquipélago” em Cabo Verde.

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O fotógrafo Paulo Pimenta, com “Do outro lado”, ganhou na categoria de Artes e Espetáculo, com Artur Machado a receber uma menção honrosa por “O rio”, no festival Paredes de Coura.

Ana Brígida venceu também no domínio do Ambiente por “Binóculos na Savana”, categoria na qual Gonçalo Delgado recebeu uma menção honrosa por “Inferno”, na vila do Soajo, no Parque Nacional da Peneda Gerês.

A série de retratos de Jesús Madriñán, com o título “Dopo Roma (Depois de Roma)”, venceu naquela categoria.

O júri internacional reuniu-se na semana passada em Viana do Castelo, presidido pelo diretor de fotografia da AFP, Francis Kohn, com a participação de Bénédicte Kurzen, da agência NOOR, de David Guttenfelder, da National Geographic, de Tyler Hicks, do New York Times, e de Andrei Polikanov, da russa Takie Dela.

“Como é que não se banaliza a violência?”

Há um ano e meio que João Pina, vencedor do Prémio Estação Imagem 2017, não tem “base”, pelo que tem andado a fotografar pela América do Sul em busca de quem o publique e lhe dê guarida.

Venceu hoje, em Viana do Castelo, o galardão principal destes prémios de fotojornalismo com um trabalho em que tentou equilibrar o retrato da violência em torno dos grandes eventos desportivos no Rio de Janeiro, Brasil, com a preocupação de não banalizar imagens de brutalidade.

“É uma pergunta que me faço todos os dias e para a qual não tenho uma resposta concreta: como é que não se banaliza a violência? Continuo a achar que é necessário mostrar às pessoas fotos muito fortes — e às vezes brutais — contextualizando-as com outras que ajudem a que não fujam com o seu olhar para outro lado”, disse à Lusa, momentos depois de receber o prémio pela reportagem “Rio de Janeiro — O Custo Humano dos Grandes Eventos Desportivos”.

As fotografias do repórter de 36 anos, a preto e branco, como a clivagem racial da sociedade carioca, como o contraste entre as festas futebolísticas ou olímpicas brasileiras e correspondentes pobrezas ou criminalidades circundantes, apelam sobretudo a um olhar para fora “da arena que está dirigida para a imprensa”, que contemple “o que está à volta disso e a violência urbana”, revelou o jornalista natural de Lisboa.

“Cada pessoa, cada leitor, tem a sua sensibilidade. Eu tenho a minha e tento, na posição de leitor, não me sentir desrespeitado pelo trabalho que faço”, acrescentou João Pina, admitindo que “há momentos em que é muito difícil escolher as imagens”, sobretudo quando chega a dúvida quanto ao “que incluir, não incluir, o que é demasiado forte”.

“O que quero eu dizer com isto?”, resumiu, no que para Bénédicte Kurzen, da agência internacional de fotografia Noor – e membro do júri dos oitavos prémios Estação Imagem – é a pergunta essencial em alturas “nada originais” de ataques políticos e populares a todas as formas de jornalismo.

Para a fotojornalista francesa, o forte sentido deontológico da profissão “é a sua coluna vertebral”.

“Temos um código que é muito claro: não mudar, não tocar, não fabricar, não reconstituir. É muito simples e, ao mesmo tempo, muito difícil. A fotografia tem sido historicamente usada para propaganda. É um meio que parece sempre verdadeiro, mas que tem sido usado para fins políticos desde que existe”, recordou, advogando que a novidade, atualmente, passa pelo seu “aproveitamento constante por parte de um político para desacreditar meios de comunicação”.

“Estamos em guerra”, asseverou, concluindo que parte da solução, também “nada original”, será “desempenhar a profissão o mais profissionalmente possível, para que não haja margens para ataques”.

Também membro do júri do Estação Imagem — para além de multipremiado fotógrafo de conflitos para o New York Times – Tyler Hicks considerou à Lusa que “o fotojornalismo é mais importante hoje do que nunca, devido a todas a notícias que surgem atualmente a partir de fontes desconhecidas”.

Para o veterano da profissão, “numa altura em que todos têm o direito e capacidade de fotografar e gravar tudo o que os rodeia, os repórteres estabelecidos, que encaram a profissão como um modo de vida sério, com integridade” e de cuja responsabilidade em ser fiel à verdade depende o seu modo de vida, ganham uma nova importância.

“É uma importância que deve elevar a profissão a um lugar em que continue a possuir uma legitimidade dentro da indústria, para que as pessoas saibam de onde vêm as notícias autênticas, honestas e verdadeiras”, refletiu o fotojornalista, que louvou ainda o “caráter regional da fotografia portuguesa, que lhe confere uma perspetiva mais pessoal”.

No discurso de aceitação do prémio Estação Imagem 2017, João Pina relembrou que “na última década, foram assassinadas 45 mil pessoas no Rio de Janeiro”. Reiterando a sua função de contar histórias, admitiu, perante o público do Teatro Municipal Sá de Miranda, estar ainda a descobrir como desempenhar a própria profissão.

“Não sei. Sou engolido neste furacão e continuo a fotografar isto assim… a tentar encontrar respostas às minhas perguntas”, desabafou o ‘freelancer’, pouco antes de revelar a sua ausência de “base”.