Um duelo entre a nacionalista Marine Le Pen e o candidato independente Emmanuel Macron continua a ser o cenário mais provável para uma segunda volta das eleições francesas, com o ex-ministro da Economia de François Hollande a tornar-se Presidente de França em maio. Contudo, estes dois principais candidatos estão a perder terreno nas sondagens, com o republicano François Fillon a mostrar alguma resiliência apesar dos escândalos e, por outro lado, com uma ascensão súbita do candidato comunista Jean-Luc Mélenchon.

“As coisas estão a tornar-se interessantes na corrida presidencial francesa”, escreve esta manhã o banco de investimento holandês Rabobank, em nota de análise enviada aos clientes. “Interessantes” significa, neste caso, imprevisíveis, sobretudo porque as sondagens estão a mover-se no sentido de uma corrida a quatro na primeira volta das eleições: Le Pen, Macron, Fillon e Mélenchon vão disputar os dois lugares que dão acesso à segunda volta.

Apesar de os mercados financeiros, de um modo geral, olharem para uma vitória de Macron como um dado adquirido, nestas últimas semanas antes da primeira votação está a gerar-se algum nervosismo (até pela experiência recente com sondagens erradas). Para já, as sondagens da primeira volta dão um empate no topo, entre Le Pen e Macron, mas Fillon resiste e Mélenchon está em alta.

  • Emmanuel Macron: 23,6%
  • Marine Le Pen: 23,6%
  • François Fillon: 18,4%
  • Mélenchon: 18%

Estes resultados, mais aproximados do que há alguns meses, são a média entre as últimas três sondagens divulgadas em França. A partir daqui, os analistas do Rabobank calcularam os seis cenários possíveis para uma segunda volta, sem lhes atribuir probabilidades mas indicando o que poderia acontecer em cada um dos duelos:

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Macron vs Le Pen: Macron venceria com vantagem de 22 pontos percentuais

Macron vs Fillon: Macron ganharia por 32 pontos percentuais

Macron vs Mélenchon: Macron venceria por 6 pontos percentuais

Le Pen vs Fillon: Fillon ganharia por 10 pontos percentuais

Le Pen vs Mélenchon: Mélenchon venceria por 14 pontos percentuais

Fillon vs Mélenchon: Mélenchon ganharia por 26 pontos percentuais

Os cálculos do Rabobank ajudam, sobretudo, a tentar perceber para onde se moveriam os eleitores na segunda volta. A principal conclusão é que se Le Pen for uma das candidatas a passar à segunda volta será derrotada. Mesmo se vier a defrontar Fillon, Le Pen perderá com uma desvantagem de 10 pontos percentuais — segundo as sondagens mais recentes, quando ainda faltam algumas semanas para as eleições e muito possa ainda acontecer.

“Estamos, claramente, perante uma corrida a quatro”, afirmou Emmanuel Riviére, da empresa de sondagens Kantar Sofres, citado pela Bloomberg.

O candidato comunista Jean-Luc Mélenchon teve boas prestações nos debates televisivos e está a subir nas sondagens. (Foto: ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP/Getty Images)

Um outro indicador intrigante é que a escalada do comunista Mélenchon tem sido tal que, caso consiga ultrapassar Le Pen e disputar a Presidência com Macron, Macron só venceria por seis pontos percentuais. Uma margem relativamente escassa, indicada pelas sondagens, que coloca o candidato comunista muito próximo de poder vencer a eleição. Para os mercados, “Mélenchon não seria um candidato bem visto, devido à natureza das suas políticas”, diz o Rabobank.

Candidato às eleições francesas usa holograma num comício

Mélenchon tinha menos de 12% dos votos antes dos debates televisivos. As boas prestações nos debates terão ajudado o candidato apoiado pelo Partido Comunista a conquistar alguns votos entre os indecisos e aqueles que tendem a decidir o sentido de voto mais perto da data das eleições.

A ideia que fica, contudo, é que Mélenchon estará a tirar algum eleitorado a Emmanuel Macron, candidato independente mas que é visto como sendo mais próximo do centro-esquerda. Perante a ascensão da candidatura do comunista, Macron já começou a atacá-lo através das redes sociais: “Mélenchon é uma pessoa ótima mas as suas promessas são impossíveis e o seu programa seria um desastre para França. Ele é pela destruição da União Europeia, a Europa que nos protege. Ele é pela taxação massiva. Pessoalmente, não sei como se criam empregos sem empresas”, escreveu Macron.

“Fillon acredita num milagre”

Numa segunda volta entre Mélenchon e Fillon, o candidato esquerdista ganharia por larga margem. Mas à primeira volta Mélenchon teria a mesma votação que François Fillon, um republicano admirador de Margaret Thatcher que era visto como favorito mas caiu devido ao envolvimento num escândalo com pagamentos à mulher, Penelope. Apesar desse escândalo, Fillon parece ter uma base sólida de apoio e o jornal francês Journal du Dimanche escreveu ontem que “Fillon acredita num milagre”.

A prioridade de Fillon continua a ser ir buscar votos ao centro, ou seja, a Emmanuel Macron. Num comício em Paris, Fillon disse que “quem apoia Macron está a ser enganado. Se ele vencer, quando nomear a sua equipa, vão ver que os socialistas estarão de regresso e quem sairá a perder é França”.

Recusando-se a desistir por causa dos escândalos, o conservador está a concorrer com uma ideia simples: “Não vos peço que gostem de mim, estou a pedir-vos o vosso voto porque é o que melhor defende os interesses de França”.