A Direção Geral de Saúde (DGS), as faculdades de Medicina e as associações de estudantes estão a trabalhar em conjunto e a olhar para os currículos de Medicina para perceber de que forma poderão “alterar a formação dos médicos”, no sentido de inserir “conteúdos na área da fisiologia do exercício”, avançou ao Observador Pedro Teixeira, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (PNPAF), da Direção Geral de Saúde (DGS).
Esta é apenas uma das linhas de intervenção que constam do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física, apresentado esta terça-feira, que tem como principal “objetivo aumentar a atividade física dos portugueses”, explicou Pedro Teixeira.
Mas com efeitos mais a imediatos, uma outra medida: já a partir de junho vão estar disponíveis uma série de perguntas no sistema informático utilizado nos centros de saúde. Basicamente, os médicos de família não vão precisar de mais de 45 segundos para saber se os seus doentes estão ou não a praticar exercício físico e com que regularidade e intensidade o fazem.
E o programa não se fica por aí. A ideia passa por expandir o projeto EuroFit, que consiste em utilizar os clubes de futebol para promover a atividade física junto dos adeptos em programas de 12 semanas. Até agora só o Benfica, Porto e Sporting o testaram, mas a “ideia é disseminar esse programa por outros clubes, sendo que neste momento estamos em negociação com outros dois”.
Por fim, ainda uma campanha de sensibilização que pretende alertar para a importância da atividade física, com a participação de pessoas ligadas ao mundo do desporto, da cultura e outras conhecidas do grande público.
As pessoas já estão mais sensíveis e despertas e algumas modalidades têm crescido, como a corrida, mas ainda estamos muito sedentários”, frisou Pedro Teixeira.
As recomendações internacionais apontam a prática ideal de 150 minutos semanais de atividade física moderada no caso dos adultos ou 7.500 passos por dia. Já no caso das crianças, recomenda-se uma hora de atividade física moderada por dia (onde se inclui a Educação Física). Por atividade física moderada entende-se, por exemplo, uma caminhada rápida, o suficiente para “aquecer um bocadinho” e “acelerar o coração”.
Já no ano passado, na apresentação da Estratégia Nacional para a Promoção da Atividade Física, da Saúde e do Bem-Estar, a DGS tinha recomendado uma deslocação “ativa” para o trabalho, por forma a combater o sedentarismo que é considerado “um dos principais fatores de risco para as doenças crónicas não transmissíveis”. A Organização Mundial de Saúde estima que haja um milhão de mortes todos os anos na Europa por causa da inatividade física.
Por essa altura, a DGS aconselhou a optar pela “utilização de escadas em detrimento do elevador” e desaconselhou, por exemplo, a ficar sentado mais do que 20 ou 30 minutos sem uma pequena pausa de um ou dois minutos.
Maioria da população não pratica desporto. Custos podem chegar aos 900 milhões
De acordo com o último Inquérito Nacional de Saúde, com dados de 2014, a maioria da população com 15 ou mais anos (5,8 milhões) não praticava qualquer atividade desportiva ou de lazer de forma regular. Daqueles que responderam afirmativamente, 15,4% disseram praticar exercício uma a duas vezes por semana e 20% dos inquiridos com mais de 15 anos respondeu praticar exercício físico pelo menos três vezes por semana. Apenas 422 mil pessoas respondeu fazer exercício todos os dias. Os homens praticavam mais exercício que as mulheres, tanto em termos de regularidade, como de duração dos treinos.
No mesmo inquérito, levado a cabo pelo INE, 2,5 milhões de pessoas com 15 ou mais anos referiram deslocar-se a pé diariamente — uma situação mais frequente no caso dos jovens (15 a 24 anos) e população a partir dos 55 anos — e apenas cerca de 75 mil utilizavam a bicicleta nas suas deslocações diárias.
De acordo com o Programa Nacional de Promoção da Atividade Física, estima-se que, em Portugal, a inatividade física seja responsável por 8% dos casos de doença das coronárias; 11% dos casos da diabetes do tipo II; 14% dos casos de cancro da mama e
15% de cancro colorretal.
A Direção-Geral da Saúde cita ainda a Organização Mundial de Saúde que estima que, para um país de 10 milhões de habitantes onde metade da população é fisicamente inativa, o custo anual da inatividade física é de cerca de 900 milhões de euros. “A aplicar-se a Portugal seria um valor considerável, equivalente a 9% do orçamento do Ministério da Saúde para 2017”, afirmou o diretor do programa Pedro Teixeira.