Com 22 anos de carreira, os portugueses The Gift têm pouco a provar dentro de portas, são uma das bandas pop mais bem sucedidas. Sónia Tavares, Nuno Gonçalves, John Gonçalves e Miguel Ribeiro souberam crescer e tornaram-se numa marca de criatividade e numa empresa disciplinada que toma conta de todas as vertentes do negócio da música — a editora La Folie é propriedade da banda de Alcobaça.

Altar, The Gift (La Folie Records, 2017)

No meio de toda esta dinâmica, musical e empreendedora, os The Gift sempre prestaram grande atenção ao pormenor e por isso não foi surpresa que o convite que inevitavelmente marca este novo álbum resultasse num bom casamento: Brian Eno é um escultor de sons, um homem de detalhes, ex-Roxy Music e mestre de estúdio, com um currículo de produção que inclui, só para dar um exemplo, alguns dos álbuns mais importantes dos U2. E o som de arranque do Windows 95.

Foi Brian Eno quem produziu e co-escreveu Altar com os The Gift, um desafio importante para a banda e que nos entra pelos ouvidos logo nos primeiros acordes do tema de abertura (“I Loved It All” [Intro]). Não menos importante, a mistura fina de Flood (o nome de código do famoso engenheiro de som Mark Ellis).

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Seguem-se os três singles, escolhidos a dedo (“Clinic Hope”, “Big Fish” e “Love Without Violins”). Não terá sido por acaso: são os melhores temas do álbum. Não são só os mais orelhudos, mas os mais bem conseguidos — e o vídeo de “Big Fish” vai marcar 2017, que não restem dúvidas.

Altar é um disco muito bem feito, todas as palavras e sons estão onde devem estar. Mas, à exceção dos três singles (e talvez da faixa n.º 6, “Malifest”), falta-lhe ritmo para bater o pé ou para dançar, que é o que a banda sabe fazer melhor. Do resto esperava-se mais sal, o tempero extra não faz mal e podia dar mais sabor aos momentos de menor impacto.

Mas uma coisa parece certa: perfeccionistas como são, os The Gift vão fazer deste novo álbum uma maravilha ao vivo. E a dupla britânica Brian Eno e Flood pode bem ser a prancha que faltava para os The Gift darem o salto para o outro lado da carreira internacional que têm construído, com uma projeção nos mercados onde se fala a língua que cantam — Altar é totalmente cantado em inglês. Um passo mais que merecido para uma banda singular em Portugal.