Como se nada tivesse acontecido na noite passada. Foi assim que decorreu o Dortmund-Mónaco reagendado para esta quarta-feira, quer dentro quer no exterior do Signal Iduna Park — a segurança foi naturalmente reforçada, mas tudo decorreu com normalidade em redor do estádio. Lá dentro, e apesar das explosões (as autoridades alemãs consideram que estas tiveram “motivações terroristas”) que feriram o catalão Marc Bartra e o retiraram do jogo, o Dortmund nunca pareceu afetado.

E a primeira ocasião de golo até foi para os da casa, logo aos 11′. O lateral Piszczek subiu meio-campo fora, ninguém o travou, este desmarcaria depois o ponta-de-lança Pierre Aubameyang nas costas do central Jemerson, o gabonês ganhou-lhe a frente, enquadrou-se com a baliza e rematou. Mas o remate foi feito em queda e passou um palmo por cima da baliza à guarda de Subašić.

Depois, o Dortmund começou a desconcentrar-se em demasia na defesa (na ausência de Bartra foi o médio Bender que assumiu o centro da defesa ao lado de Sokratis e a falta de entrosamento entre os dois foi evidente) e acabaria por cometer um penalty aos 16′. Mas tanto Fabinho quis colocar a bola rente ao poste esquerdo, que o que conseguiu mesmo foi falhar. O guarda-redes Bürki adivinhou o lado, mas nem precisou de tocar na bola. Quanto à falta que deu origem à grande penalidade, o central Sokratis foi surpreendido nas costas por Kylian Mbappé e, em desespero de causa, agarrou o francês quando este seguia isolado para a baliza alemã.

Logo a seguir, aos 19′, golo do Mónaco. Tudo começou no português Bernando Silva, que conduziu a bola pelo centro do meio-campo, sempre em velocidade, sempre com a bola controlada no pé esquerdo como que por íman, entregou-a depois na esquerda em Lemar, que dentro da área a cruzou para o poste contrário e para Kylian Mbappé. O francês só teve que encostar (o desvio é pouco “ortodoxo” mas o que conta é a eficácia) para o 1-0 em Dortmund. Fica no entanto a ideia que Mbappé se encontra em fora-de-jogo na altura do passe de Lemar.

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O segundo golo não tardaria (35′) e foi novamente do Mónaco. Mas tudo neste golo é improvável — para não dizer que é surreal. Desde logo é improvável o homem que fez o cruzamento, Andrea Raggi, que é defesa central de origem e destro. Mas foi de pé esquerdo que, depois de subir pelo flanco — qual extremo –, cruzou para a área. Depois, lá dentro, a bola seguia para Falcao ao segundo poste, mas Sven Bender (o tal que não é central mas trinco) saltaria de braços no ar e ele próprio, com a mão direita, desviaria a bola para a própria baliza. Pediu falta, Bender, acusou Falcao de um empurrar pelas costas, mas a verdade é que o colombiano nem dele se aproximou na disputa da bola.

Thomas Tuchel não gostava do que via e ao intervalo resolveu tirar Schmelzer e Bender, entrando na sua vez Şahin e Pulisic. A aposta do treinador revelou-se acertada: o norte-americano foi um quebra-cabeças à direita e Şahin tomou para si o meio-campo logo no recomeço. Não tardaria pois até que o Dortmund reduzisse para 2-1. Foi aos 57′. Raphaël Guerreiro, à esquerda, cruza para dentro da área, Pierre Aubameyang, de costas voltadas para a baliza, fez a única coisa que podia fazer: tocou na bola de calcanhar. Sem querer ou querendo, o que realmente fez foi desmarcar Shinji Kagawa nas costas dos centrais do Mónaco, o japonês tocou a bola de pronto para o lado e Dembélé só teve que encostar para dentro da baliza.

O Dortmund encostava o Mónaco às cordas. Mas ao tapar a cabeça, destapou os pés. Que é como quem diz, descorou a defesa e deu-se mal. Aos 79′, 3-1. O erro da defesa do Dortmund é grosseiro. Os alemães tentaram circular a bola perto da própria área — o que queriam realmente era tirar o Mónaco da “toca” e fazê-lo subir no relvado –, Weigl passou a Ginter, Ginter tentou passar a Sokratis, mas Kylian Mbappé é velocíssimo, tirou a bola ao grego, seguiu na direção da baliza e, à saída do guarda-redes Roman Bürki, colocou a bola na “gaveta”, ou seja, no canto superior direito da baliza à guarda do suíço.

Era tudo? Eliminatória resolvida? De todo. O Dortmund insistia, o Mónaco resistia. Mas 84′ quebrou-se-lhe a resistência. A bola é cruzada à direita Christian Pulisic e acabou, dentro da área, nos pés de Shinji Kagawa. O japonês tinha o central Jemerson pela frente, driblou-o, o brasileiro ficou estendido no relvado e com uma valente dor de rins, e depois Kagawa “só” teve que rematar para a baliza.

Contas feitas, tudo se resolverá a 19 de abril no estádio Louis II, no Mónaco. Mas o que mais importou hoje (pelo menos para os adeptos de futebol e destes dois clubes) não foi o resultado, mas a reação dos jogadores ao terror que ontem os abalou. Ou não abalou, afinal. No relvado, não.