Os polvos, as lulas e outros animais da família dos cefalópodes conseguem editar as instruções transportadas pelos próprios genes, concluiu um estudo publicado esta terça-feira na revista científica Cell. Estes moluscos marinhos não seguem à risca a informação armazenada no seu ADN: eles têm capacidade para interferir e mudar essa informação numa possível estratégia evolutiva que pode justificar a sua alta inteligência e comportamentos complexos, acreditam os cientistas. Isso é possível quando o organismo produz uma molécula que diversifica as proteínas produzidas pelas células e induz variações da informação genética.

Para entender este fenómenos é preciso conhecer dois conceitos: ADN e ARN. O primeiro, ácido desoxirribonucleico, é uma cadeia em dupla hélice que transporta todas as informações genéticas que fazem de cada indivíduo único. A cor dos nossos olhos, o tom da nossa pele ou a predisposição natural para uma determinada doença, por exemplo, são características individuais que estão previstas do ADN. O ARN, ácido ribonucleico, é formado apenas por uma cadeia e é muito mais pequeno que o ADN porque não passa de uma cópia de um segmento de ADN, a partir do qual é sintetizado num processo chamado transcrição. Uma das principais funções do ARN é transportar instruções de uma parte específica dos genes e dá-las às células para produzirem as proteínas do organismo.

O que os polvos fazem é editar o ARN que está armazenado nos núcleos das células cerebrais em vez de induzir mutações diretamente no ADN. Assim, o organismo vai produzir proteínas diferentes das previstas inicialmente e induzir variações da informação genética que levem as células a fazer algo diferente do que tinha sido comandado pelo ADN. Só ainda não é certo em que circunstâncias é que esses animais põem esta estratégia em prática, embora os cientistas creiam que pode justificar a inteligência e os comportamentos complexos dos polvos.

Este mecanismo já tinha sido identificado noutros animais, incluindo no ser humano, mas nunca com a dimensão encontrada nos cefalópodes: enquanto nas pessoas e nas moscas da fruta esta edição do material genético acontece em apenas 1% das vezes que o corpo transcreve ARN a partir do ADN, em polvos e lulas essa estratégia foi observada em 60% das vezes nas células do cérebro.

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