Liderada por Carlos Ghosn desde 2001, a Nissan tem, desde 1 de Abril, e pela primeira vez em 16 anos, um CEO japonês. Hiroto Saikawa, de 63 anos, promete apresentar no Verão o plano estratégico da marca para a próxima meia dúzia de anos, dando seguimento ao Power 88, de igual prazo, implementado pelo seu antecessor. Mas desde foi já adiantando, em entrevista ao Automotive News, alguns dados essenciais relativos ao futuro do segundo maior construtor japonês.

Ressalvando que o novo plano de actividades será definido em consonância estratégica com a Renault e a Mitsubishi, o mais recente activo adicionado à Aliança, Saikawa não se coibiu, todavia, de assumir que dois pontos principais merecerão atenção imediata e redobrada: os veículos eléctricos e o papel da casa dos três diamantes enquanto novo parceiro global da Nissan (ver infobox).

Mitsubishi abre portas

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Já com executivos de topo nomeados para gerir as suas principais áreas de atividade, a Mitsubishi irá, no futuro, ver reforçados os seus principais factores distintivos, reconhecidos pelo mercado nas mais variadas latitudes, caso das suas competências no domínio dos sistemas de tracção integral e dos veículos de todo-o-terreno, bem como no dos híbridos plug-in, até por ser uma solução que deverá registar um aumento da procura, mas nunca foi aposta da Nissan ou da Renault. Ao mesmo tempo, esta poderá ser uma oportunidade para a entrada da Renault no sempre muito apetecido mercado norte-americano – não por via de uma presença directa, para já absolutamente descartada, mas através de alguns modelos que poderão ser interessantes para a região, e aí poderiam ser comercializados sob a insígnia da Mitsubishi.

No curto prazo, a grande novidade da Nissan na área da mobilidade eléctrica será o lançamento da nova geração do Leaf, mais evoluído e com uma autonomia ampliada. O modelo estará à venda no Japão (e, possivelmente, noutros mercados) ainda este ano, chegando, seguramente, aos restantes durante 2018. Esperando-se que permita ao seu construtor recuperar parte do protagonismo que teve aquando do lançamento do modelo original.

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Mas Saikawa está consciente que muito mudou neste capítulo nos últimos anos, e que um novo Leaf, por si só, não chegará para impor a marca que lidera num segmento cada dia mais concorrido. Tanto assim é que, não deixando de adiantar que a Nissan vai lançar um automóvel eléctrico com cerca de 500 km de autonomia antes de 2020, o executivo japonês tem como certo que, com o evoluir da tecnologia das baterias, a diferenciação entre os eléctricos rapidamente deixará de ser feita com base na respectiva autonomia, antes passará a ter por base factores como os que hoje permitem aos automóveis com motores térmicos distinguirem-se entre si, e recolherem as preferências de quem os compra, seja a estética, o preço, a tecnologia empregue, a qualidade intrínseca do produto, o comportamento dinâmico, a reputação do seu construtor ou a adequação ao uso a que se destina, entre outros.

Hiroto Saikawa

Na perspectiva de Hiroto Saikawa, o grande factor de desenvolvimento será o alargamento das gamas de veículos eléctricos da maioria dos construtores, que muito aumentará a competividade deste sector, e deverá conhecer um extraordinário crescimento no período 2020-2025. A Nissan não fugirá à regra, e até já tem planos bem definidos neste particular: sem muito revelar acerca do tema, o novo responsável máximo da marca não deixou de adiantar que está já em preparação a transição dos actuais motores térmicos para os eléctricos nas futuras gerações dos seus modelos mais populares a nível global – os SUV.

Está praticamente garantido que, na geração a seguir à próxima, os SUV da marca deverão já contar com motores eléctricos. Contas feitas, e sabendo-se que uma nova geração de um modelo, contando com o inevitável restyling de meio de ciclo, deverá durar 7/8 anos, tudo aponta para que, em 2025, tenhamos já no mercado o Qashqai e o X-Trail de ligar à corrente, dado que as suas novas gerações serão apresentadas, ou no final deste ano, ou durante 2018. Interessante será verificar se, lá para meados da próxima década, estes modelos (como outros do género, vendidos pela Nissan noutras paragens) ainda disponibilizarão motores de combustão interna, ou serão exclusivamente propostos em versões eléctricas.

Para o novo CEO da Nissan, a introdução de um Leaf com mais autonomia não chega para que a marca nipónica atinja a meta a que se propõe no domínio da mobilidade eléctrica

Certo é que, para já, as vendas de veículos eléctricos da Aliança Renault-Nissan estão ainda bastante aquém do almejado por Carlos Ghosn há alguns anos, quando previu 1,5 milhões de unidades para 2016, ou seja, cerca do dobro do que, na realidade, foi alcançado. O que não invalida que o consórcio seja o líder mundial neste sector, que o Nissan Leaf continue a ser o eléctrico mais vendido no mundo, e o Renault Zoe o mais procurado no seu género na Europa.