“The Boss Baby”

Pegar num bebé, vesti-lo como um executivo e pô-lo a comportar-se e a falar como um executivo e pespegar-lhe a voz de Alec Baldwin, é uma ideia com piada. Só que em Portugal a ideia esbate-se, porque a nova longa-metragem de animação da DreamWorks, “The Boss Baby”, de Tom McGrath, só se vai estrear em versão dobrada, e não também em versão original legendada. O filme pretende ser, ao mesmo tempo, uma sátira à cultura e à mentalidade empresarial, para apanhar o público adulto, e uma história fofinha sobre o efeito da chegada de um bebé a uma família com um filho único, habituado a ser o centro das atenções e dos mimos, e que de repente se vê arredado para segundo plano. O argumento é laborioso e algo confuso, mesmo para os mais crescidos – o ponto de vista é o da imaginação fértil do filho de sete anos, mas a coisa não é apresentada com suficiente clareza -, e o que safa (parcialmente) “The Boss Baby” é a qualidade da animação digital, onde convivem um “look” clássico e outro arrevesado, para as sequências mais fantasiadas.

“Juventude”

“Lord Jim”, de Richard Brooks, “Posto Avançado do Progresso”, do português Hugo Vieira da Silva, ou “A Loucura de Almayer”, de Chantal Akerman, são algumas das adaptações de livros e contos de Joseph Conrad ao cinema. A elas junta-se agora “Juventude”, a primeira longa-metragem de ficção do documentarista francês Julien Samani, uma produção de Paulo Branco que conta com alguns actores portugueses no elenco. A fita centra-se em Zico, um jovem que aspira romanticamente pelo mar alto e por terras distantes, e consegue ser aceite como grumete num cargueiro decrépito e com uma tripulação muito pouco simpática. Os meios de “Juventude” são obviamente limitados, mas mesmo assim, Samani consegue levar a bom porto, e dentro de uma duração aceitável, esta história de uma iniciação à vida marítima que vem acompanhada de uma decepção. É que muitas vezes, mesmo no mar alto, os sonhos mais bonitos vão desfazer-se contra o muro da realidade dura e feia.

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“Contos da Lua Vaga”

Apenas um terço da vasta obra do mestre nipónico Kenji Mizoguchi (1898-1956) sobreviveu e está disponível hoje. Oito desses filmes, alguns já vistos em Portugal e outros inéditos, e exibidos em cópias restauradas, compõem o Ciclo Kenji Mizoguchi que vai estar no Espaço Nimas, em dois tempos. O primeiro, de hoje a 10 de Maio, inclui “Contos da Lua Vaga”, “Os Amantes Crucificados” e “A Mulher de Quem se Fala”. O segundo, a partir de 11 de Maio, apresentará “Festa em Gion”, “A Senhora Oyu”, “A Imperatriz Yang Kwei Fei”, “O Intendente Sanshô”, “Rua da Vergonha” e “O Conto dos Crisântemos Tardios”, mantendo em cartaz “Os Amantes Crucificados”. “Contos da Lua Vaga” passa-se no Japão em guerra civil do século XVI, e é ao mesmo tempo uma fábula moral, um filme realista e uma história sobrenatural, onde se revela uma tensão constante em toda a obra de Mizoguchi, entre o respeito pelos valores tradicionais e o impulso individualista, e ressalta o tema contínuo e unificador da sua filmografia: a mulher e a sua situação na sociedade japonesa. “Contos da Lua Vaga” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.