O Santuário de Lourdes, em França, recusa a existência de “concorrência” com Fátima para atrair fiéis ou turistas, preferindo sublinhar a “complementaridade” que há entre os vários locais de culto mariano, com “tonalidades” diversas em todo o mundo.

“Apercebemo-nos que não estamos em concorrência porque todos celebramos a Virgem Santa”, disse à Agência Lusa o vice-reitor do Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, Xavier d’Arodes, acrescentando que “há uma complementaridade profunda entre todos os santuários marianos, indo os peregrinos de um a outro”.

Para Xavier d’Arodes, “cada santuário tem uma tonalidade própria” e quando se vem a Lourdes procura-se “uma cura para uma doença física ou psicológica”. Há centenas de locais de culto mariano (em todo o mundo, estando Lourdes e Fátima entre os mais importantes e os mais visitados. “Atualmente assistimos a um aumento do número de pessoas que vão aos santuários, porque as pessoas estão à procura de referências”, disse Xavier d’Arodes, recordando uma imagem antiga que compara “locais de culto” com “hospitais de campanha”.

O vice-reitor de Lourdes acredita que, num contexto de descristianização do continente europeu, “aqueles que estão, por vezes, em dificuldade, que se interrogam sobre o sentido da sua vida”, vão a um santuário como iriam a um hospital tratar da sua saúde. O complexo de igrejas do Santuário de Nossa Senhora da cidade dos Pirinéus franceses foi construído em finais do século XIX, na sequência de várias aparições da Virgem Maria perante uma camponesa de 14 anos, Bernadette Soubirous, a partir de 1858.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Xavier d’Arodes também rejeita que Lourdes não seja mais do que tudo um local turístico, com os hotéis a invadir a cidade e a chegarem aos locais de culto. “Claro que há uma pressão de hotéis”, admite d’Arodes, mas explica que é “por razões diferentes na estrutura da peregrinação dos fiéis”.

Os peregrinos que vão a Lourdes são, na sua maioria, doentes que precisam de serviços hospitalares, ficando na cidade “vários dias”, ao contrário de Fátima, onde “a experiência é muito mais curta”, segundo o vice-reitor. “As pessoas participam na celebração, em Fátima, por volta do dia 13 de cada mês, mas em seguida partem muito rapidamente, enquanto em Lourdes a peregrinação dura mais tempo, por isso precisamos de estruturas de acolhimento que não há em Fátima”, explica Xavier d’Arodes.

O Santuário de Nossa Senhora de Lourdes é uma área com várias igrejas e outras instituições construída em torno da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, local da primeira “aparição”. A fama de Lourdes cresceu muito nos anos seguintes a 1858, quando mais de 2.000 curas sem explicações foram reconhecidas pelo posto médico instalado no local. Entretanto, a Igreja também reconheceu cerca de sete dezenas destas curas como sendo “milagrosas” e validou oficialmente as “aparições” logo em 1862.

O número dois do santuário de Lourdes realçou as “relações excelentes” com Fátima: em 1947 a estátua de Nossa Senhora de Fátima viajou até Lourdes e em 2008, aquando das comemorações dos 150 anos da primeira aparição na cidade francesa, os reitores e padres de Fátima também vieram a Lourdes.

“Há relações muito fortes entre os dois santuários”, insiste Xavier d’Arodes, assegurando que tanto ele como o reitor de Lourdes irão a Fátima em 13 de maio próximo, para assistirem às comemorações do centenário das aparições naquele local de culto, que terá a presença do papa Francisco.

Na cidade francesa, de maio a outubro de 2017, todos os dias 13 haverá uma evocação a Nossa Senhora de Fátima e todas as procissões previstas terão imagens dessa santa. Por outro lado, a cerimónia presidida em 13 de maio próximo pelo papa Francisco, em Fátima, será retransmitida num ecrã gigante instalado na Basílica Saint-Pie X, em Lourdes. “Para nós, é uma grande alegria podermos também celebrar o centenário das aparições em Fátima”, concluiu Xavier d’Arodes.