Boyacá foi, ao longo das últimas décadas, uma das regiões mais pobres da Colômbia. Ao mesmo tempo, foi também uma das que mais riqueza gerou — e, por conseguinte, mais criminalidade. Desde logo, a região foi, na década de 1980, rica na exploração de esmeraldas — quase 90% de todas as esmeraldas comercializadas no mundo tinham origem em Boyacá. Essa procura desregrada foi responsável pelo surgimento de dois gangues em Boyacá, “Borbur” e “Coscuez”, gangues que conduziriam à morte de mais de três mil locais.

Mais tarde, em meados de 1990, quando (por culpa da exploração intensiva) as esmeraldas começaram a escassear, a criminalidade não desapareceria da região e parte da população voltou-se ao cultivo, produção e venda de cocaína.

Curiosamente, foi nesse período que foi assinado o “Plano Colômbia”, um acordo entre os governos norte-americano e colombiano para combater um narcotráfico, num investimento que chegou aos 10 milhões de dólares. Contudo, o narcotráfico ao invés de ser erradicado, enraizou-se mais ainda em Boyacá: de acordo com o Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime, UNODC, a região chegou a ter 322 hectares ocupados pelo cultivo de cocaína.

O governo colombiano tentou de tudo para combater o flagelo da cocaína e a criminalidade na região. Primeiro, pulverizando as plantações com glifosato — a estratégia não resultou em pleno devido à própria tipologia dos terrenos em Boyacá. Mais tarde, o governo ordenou que militares destruíssem as plantações uma por uma. Algo que também não foi totalmente conseguido por causa da presença das FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, na região. Isto em meados de 2008.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Foi nessa mesma altura que chegou à região o “Programa de Familias Guardabosques”, que apostava no desenvolvimento alternativo (no caso, através da plantação de cacau) e na erradicação de cultivo ilícito, pagando mensalmente aos agricultores 200 mil pesos (64 euros) mensais e oferecendo-lhes meios e formação.

Contudo, seria difícil conversar os agricultares da troca – é que um quilo de cocaína valia 319 euros e um quilo de cacau 2,5 euros. Seria… mas não foi. Dois anos depois o programa chegaria ao fim, mas os agricultores continuaram a ser apoiados, entre outros, pelo Ministério da Agricultura. Segundo a UNODC, dos 322 hectares de plantação de cocaína existentes em 2007, somente 10 hectares resistiam em 2012. Ao todo, em toda a Colômbia, 27 mil famílias são “cacaoteros”, ou seja, plantadores de cacau.

Na região de Boyacá (que é conhecida como “Distrito Chocolate” desde que em 2014 venceu o prémio “Cacau de Ouro” atribuído pela fundação suíça SECA) mais de metade das 1.276 que lá habitam têm como único meio de subsistência a plantação de cacau.