André Gomes é uma das maiores promessas do andebol português. Joga no ABC, participou este ano na Liga dos Campeões pelos minhotos, já foi falado como possível reforço de FC Porto, Benfica e Sporting para a próxima época (parece que os dragões ganharam a corrida, mas ainda não há nada oficial). A disputa dos grandes nacionais está nos genes desta família e já tinha sido assim com o pai, Jorge, futebolista brasileiro que jogava no Boavista e, antes das férias, vinha assinar pelo Sporting e acabou por vincular-se ao Benfica. Estávamos em 1979. Hoje, quase 70% do plantel encarnado é estrangeiro; na altura, Jorge Gomes foi o primeiro… e com autorização especial.

Ao contrário do Sporting, que na década de 30 teve estrangeiros como o guarda-redes brasileiro Jaguaré ou o avançado romeno Possak e que conquistou o único título europeu da história (Taça dos Vencedores das Taças), em 1964, com cinco brasileiros no plantel (Osvaldo, Géo, Bé, Durval e Augusto), o Benfica teve de pedir autorização aos sócios para poder contratar estrangeiros para o futebol. Na primeira Assembleia Geral, em 1976, o “pedido” foi recusado; mais tarde, a 1 de julho de 1978, o “sim” ganhou. E na época seguinte avançou a medida.

Yazalde, número 22 da Argentina, foi Bota de Ouro em 1974 no Sporting, ano em que se tornou o primeiro estrangeiro a alinhar em Portugal a disputar uma fase final do Campeonato do Mundo

Jorge Gomes foi o primeiro (ele que, quando veio para Portugal, jogando no U. Lamas antes de ir para o Boavista, teve receio de vir porque tinha visto imagens do 25 de Abril sem saber que era uma revolução pacífica), seguiu-se o brasileiro César. Como a realidade mudou. Para ambos os lados. E há mais de dez anos que não existe um jogador português a marcar num dérbi entre Sporting e Benfica em Alvalade a contar para a Primeira Liga.

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Assim, é preciso recuar a 1 de dezembro de 2006 (data do 99.º aniversário do primeiro Sport Lisboa-Sporting) para vermos golos portugueses, mais concretamente de Ricardo Rocha e Simão (um dos maiores produtos da formação verde e branca), no triunfo do Benfica de Fernando Santos por 2-0 em Alvalade. Daí para cá, só os estrangeiros picaram o ponto: Vukcevic e Cardozo em 2007/08 (1-1); Liedson (2), Derlei, Reyes e Cardozo em 2008/09 (3-2); Salvio e Gaitán em 2010/11 (0-2); Wolfswinkel em 2011/12 (1-0); Wolfswinkel e Cardozo (3) em 2012/13 (1-3); Montero e Markovic em 2013/14 (1-1); Jefferson e Jardel em 2014/15 (1-1); e Mitroglou em 2015/16 (0-1).

Uma espécie de novo acordo ortográfico

Os tempos mudaram. E muito. O único ponto que ainda assim se foi mantendo foi a representatividade dos atletas brasileiros nos plantéis de Sporting e Benfica, sendo a segunda “força” em ambos os casos. Ao todo, os 52 jogadores dos rivais lisboetas são oriundos de 14 países, nove dos quais europeus.

Olhando para os 26 jogadores que compõem o plantel orientado por Jorge Jesus, quase metade são portugueses (11, incluindo os três campeões europeus de seleções Rui Patrício, William Carvalho e Adrien e mais sete formados no clube), seguindo-se cinco brasileiros. A Holanda é a terceira grande potência com três jogadores, entre os quais o goleador Bas Dost e o seu suplente Luc Castaignos, seguindo-se Costa Rica e Argentina, com dois. Lituânia, Uruguai e Eslovénia são os outros países representados no conjunto verde e branco.

Adrien é o capitão do Sporting e lidera a armada portuguesa dos leões; o também internacional Pizzi está no top-5 europeu dos jogadores com mais partidas realizadas na presente temporada

Já em relação aos 26 jogadores do plantel comandado por Rui Vitória, existem quase tantos portugueses (oito, com Pizzi, Rafa e Nélson Semedo à cabeça) como brasileiros (sete, incluindo o capitão Luisão e as figuras Ederson e Jonas). No caso do Benfica, a Argentina é o terceiro país mais representado com Salvio, Cervi e Lisandro López, seguida da Sérvia (Fejsa e Zivkovic) e da Grécia (Mitroglou e Samaris). Peru, México, Suécia e Espanha são os restantes países com presença no conjunto encarnado.