Desde a abertura das portas da escola La Sibelle, em Paris, os eleitores chegam em grande número, indiferentes à ameaça terrorista, e as expetativas são que haja “mais participação”, segundo o presidente franco-português de uma mesa de voto.
Hermano Sanches Ruivo preside a mesa número 41 da escola La Sibelle, que tem duas mesas de voto onde estão inscritos 3.000 eleitores, e para o vereador-executivo da câmara de Paris esta é uma eleição “diferente das precedentes”.
“Temos o sentimento que vamos ter mais participação porque está muito mais renhido. A própria mobilização é dessa forma mais consequente. Agora, é um dado adquirido, a abstenção é um partido em França, essa noção em que uma série de pessoas dizem ‘Eu não quero participar’ é de facto uma realidade”, afirmou à Lusa.
O franco-português explicou que face a uma “outra fase do terrorismo e da vida da democracia”, foram reforçadas as medidas de segurança, os membros das mesas de voto foram formados para uma maior vigilância e há um segurança à entrada desta escola do 14.º bairro de Paris.
Pela primeira vez, as eleições presidenciais acontecem num período de estado de emergência instaurado após os atentados terroristas de 13 de novembro de 2015 e o voto decorre três dias depois do ataque na avenida dos Campos Elísios, tendo sido mobilizados para todo o país mais de 50 mil polícias e guardas, apoiados por 7.000 militares.
“Tentamos claramente ter a maior segurança possível, não colocando uma espécie de pressão, de medo sobre a própria população. Aqui, as equipas estão formadas, temos um número de alerta que devemos acionar logo que possa surgir [um problema]”, afirmou Hermano Sanches Ruivo.
O franco-português acrescentou que “o segurança na entrada faz um primeiro trabalho”, depois os membros das mesas de voto devem vigiar com algum cuidado”, há “equipas militares e equipas de polícia que vão todo o dia passar pelas diferentes mesas de voto” e há “o plano Vigipirate que implica que militares vão passando com alguma regularidade pelos diferentes espaços”.
“Bonjour! Vai votar na mesa 40 ou 41?”, pergunta o presidente da mesa de voto à entrada da sala, face à afluência das pessoas, reencaminhando-as para as mesas da esquerda ou da direita, onde as equipas de voluntários verificam os seus cartões de eleitor e as convidam a recolherem as 11 folhas em que estão escritos os nomes dos diferentes candidatos.
Willian Litolff, com o cartão de eleitor número 977, entra numa das cabinas de voto e instantes depois sai com o envelope em direção à mesa da urna, onde é feita uma última verificação da sua identidade, assinando depois as folhas de presença e inserindo o voto na caixa transparente, seguido de um sonoro “A Voté” (“Votou”).
“Foi uma escolha difícil, mas decidi há alguns dias. Desta vez havia quatro candidatos próximos e hesitava entre dois. Então, escolhi Mélenchon porque é uma esperança para França, ainda que talvez não passe à segunda volta”, afirmou o jovem à Lusa, à saída da sala.
Michel Mourachoff, de 72 anos, já tinha feito a escolha “há muito tempo” e preferiu Emmanuel Macron porque “é o que se quer ocupar de todos os franceses e é preciso renovar as equipas”, mesmo que admita não gostar de tudo o que consta do seu programa.
Philippe Debrun, de 78 anos, contou que “não foi nada uma escolha difícil” e votou François Fillon: “Ele tem um programa bem feito. Se não passar à segunda volta, vou votar por eliminação porque não quero que vença Marine Le Pen”, indicou.
Mesmo se os diários franceses indicam que a primeira volta das presidencias se realiza sob a ameaça terrorista, Jeannette Kremen, de 61 anos, disse não ter medo de ir votar porque também pode “ser atropelada ao sair de casa”, afirmando que até hesitou em exercer o seu direito de voto mas “por falta de solidez dos candidatos”, tendo acabado por deslocar-se “porque o voto foi uma luta de séculos”.
“Votei Mélenchon porque penso que é preciso passar a uma sexta república porque o Governo francês é uma democracia monárquica. É preciso que alguém dê um pontapé a isto durante cinco anos e que acabe com todos os podres que tem havido nos últimos 30, 40 anos na vida política francesa. Não concordo com a saída da Europa, mas não acredito que o faça porque tem de consultar o povo francês”, indicou.
Cerca de 47 milhões de eleitores são chamados hoje às urnas para eleger o sucessor de François Hollande perante onze candidatos: Marine Le Pen, Emmanuel Macron, Jean-Luc Melénchon, François Fillon, Benoît Hamon, Nathalie Arthaud, Philippe Poutou, François Asselineau, Nicolas Dupont-Aignan, Jacques Cheminade e Jean Lassalle. Caso nenhum seja eleito hoje, com maioria absoluta, a segunda volta das eleições presidenciais está marcada para 07 de maio.
As mesas de voto abriram às 08:00 (07:00 em Lisboa) e encerram às 20:00 em Paris e nas grandes cidades, fechando uma hora mais cedo nas outras localidades.