O El Clásico não lhe corria de feição.

Mas ele tentava, voltava a tentar. “Ele” é Messi. Volta e meia, como Messi que é, colava a bola como que por íman na canhota e seguia em direção à baliza do Real, driblava o primeiro, o segundo, o terceiro e quem mais lhe surgisse pela frente, mas o derradeiro drible (aquele que o deixaria só com Navas pela frente, cara a cara) tardava em sair, quando queria desmarcar alguém era a desmarcação que não saía, e sempre que rematava de fora da área (o menor dos males, portanto) o remate esbarrava em alguém e nem à baliza chegava.

Kroos não o deixava um segundo que fosse. E “perseguia-o” por todo o relvado do Bernabéu – quando Messi recuava até à defesa do Barça para construir jogo desde trás, Kroos era a sombra; mais adiante, na ala ou pelo centro, Kroos continuava a ser a sombra. Quando o alemão lhe perdia o rasto por instantes, Casimiro tratava de cortar o mal pela raiz, nem que para isso precisasse de derrubá-lo à lei da falta.

E foi de Casimiro o primeiro golo da noite em Madrid.

Antes, e até ao golo do brasileiro, era Ronaldo quem mais tentava, sempre a driblar em velocidade, sempre a rematar à primeira nesga de espaço que tivesse, mas sempre (6’ e 20’) com Stegen a defender.

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Quanto ao golo do Real, foi aos 28’. Tudo começou num canto de Kroos à direita, o guarda-redes do Barça tira a bola a punhos da área, mas esta continuaria do lado do Real – e em Marcelo, à entrada da área. O brasileiro cruza-a para o poste mais distante, onde Sérgio Ramos remata de primeira ao poste. Não foi golo aí, mas foi-o logo em seguida, pois a bola seguiu caprichosa para o poste contrário, onde Casimiro, sozinho, só teve que encostar. 1-0 no estádio Santiago Bernabéu.

Messi ficou cabisbaixo.

Mas ficou-o durante pouco tempo. É que foi dele o empate aos 33’. Cinco toques bastaram para o golo. Um: Busquets entregou a bola a Rakitic à direita e na esquina da área. Dois: o croata entrega-a depois e de pronto em Messi à entrada desta – o argentino vinha de trás, a mil à hora. Três: com um só toque de pé direito, Messi tira da jogada Modric, Carvajal – o maior “nó” levou-o ele – e Nacho. Quatro: este é um toque subtil, curto, e só para ajeitar a “menina” para o remate. Cinco: remate colocadíssimo de canhota, sem hipótese de defesa para Navas.

Há seis jogos diante do Real que Messi não “molhava a sopa”, ou seja, há mais de dois anos. É mau, sim. Mas o que antes fez não foi coisa pouca: já marcou 22 golos ao rival de sempre do Barça, 12 deles em pleno Bernabéu.

O Real não se ficou. Perdeu o galês Bale por lesão ainda antes do intervalo, mas a pressão dos da casa era mais do que muita, não permitindo que o Barça metesse pé em ramo verde. Foi assim até final da primeira parte, continuou a ser assim no recomeço do jogo. Aos 53’, Stegen fez uma defesa “à andebol”. Marcelo cruza da esquerda para a área, Benzema antecipa-se a Piqué, desvia de primeira nas barbas do guarda-redes do Barça, mas o alemão defende com o pé esquerdo, todo no ar, e evita o 2-1.

Mais adiante, aos 67’, não foi Stegen quem defendeu, mas Ronaldo quem falhou. E oportunidades destas o português não é de falhar. Benzema desmarcou Asensio nas costas da defesa do Barça, este entrou na área pela direita e isolou Ronaldo no poste contrário. O remate foi de primeira, a baliza estava à mercê, mas a bola sairia por cima da barra.

Não chegou ao golo o Real, chegaria o Barça. Disse “golo”? Não foi; foi um golão. Aos 73’, e à entrada da área, Rakitic ameaçou que chutaria de pé direito, não o fez, trocou a bola para a canhota e, com isso, trocou as voltas a Kroos, rematando depois, e por fim, quase à “gaveta” – que é como quem diz, a bola foi colocadíssima na direção do poste esquerdo de Navas.

Agora era Ronaldo o cabisbaixo e não Messi.

E mais cabisbaixo ficaria quando percebeu que, perdendo 1-2, jogaria os derradeiros minutos com menos um colega em campo. É que aos 77’ Sérgio Ramos tem uma entrada dura sobre Messi quando o argentino escapava em contra-ataque e viu o cartão vermelho direito. Ramos entre de sola e a pés juntos, a bola não estava lá quando o fez, a entrada é, por isso, “a matar”, e nada há a apontar à decisão do árbitro.

Zidane reagiu. Tirou Benzema e fez entrar James Rodríguez. Isto aos 82’. Três minutos depois o colombiano empataria o jogo. Marcelo cruzou para o primeiro poste, James foi mais veloz que Busquets e desviou para o empate – Stegen ainda tentou mais uma daquelas suas defesa “à andebol”, mas o remate foi tão à queima que nem na bola tocaria.

Era tudo? Era… se Messi não existisse, era. Mas ele existe.

O árbitro Hernández Hernández (não é gralha; o senhor utiliza dois apelidos iguais e a noite até lhe correu bem, pois mal se deu por ele — o que é bom) deu dois minutos de tempo extra. E ao derradeiro segundo do derradeiro minuto: 2-3. Sergi Roberto arranca meio-campo fora, ninguém o derruba, ninguém o impede de se aproximar da área do Real e, lá chegado, Sergi entrega a bola a André Gomes, deixando-a o português mais à esquerda em Alba. O cruzamento não é para a área nem para a molhada que lá se acotovelava; o cruzamento é recuado, para a entrada desta, onde Messi surgiu a rematar de primeira, um remate preciso e precioso entre Navas e o poste esquerdo, “sem espinhas”.

Ronaldo esbracejou, praguejou, voltou a esbracejar. Depois parou, por fim parou, em silêncio e de sobrolho franzido. Outros do Real ficaram tombados sobre o relvado, de mãos no rosto. Messi tirou a camisola e correu, correu, correu. Viu amarelo. E não voltou a vestir a camisola. O jogo havia terminado ao seu remate.

Contas feitas, a cinco jornadas do fim — o Real tem um jogo em atraso em relação ao Barcelona e ainda jogará no estádio de Balaídos, em Vigo — o título está longe de estar entregue: o “El Clásico” acabou com a vitória (2-3) do Barça no estádio Santiago Benabéu, em Madrid, assumindo assim os catalães a liderança da La Liga — ainda que com os mesmo 75 pontos do Real. Messi foi o melhor em campo e resolveu o jogo no último minuto.

Quanto ao que falta jogar, e além da deslocação a Vigo, o Real vai à Corunha jogar com o Deportivo, recebe o Valência, viaja até Granada, recebe o Sevilha e termina o campeonato em Málaga. O Barça, por sua vez, recebe o Osasuna no Camp Nou, continua em Barcelona mas para jogar no estádio do Espanyol, recebe o Villarreal, vai às Canárias para defrontar o Las Palmas e termina o ano (ou melhor, o campeonato; ainda tem a final da Taça do Rei, depois, contra o Alavés) com a receção ao Eibar. Olhando ao calendário, dir-se-á que Real (que ainda está na Liga dos Campeões e, por isso, vai desgartar-se mais) tem uma tarefa mais complicada do que o Barça.

É verdade que tem um jogo a menos e pode voltar a ficar a três pontos. Mas caso vença na Galiza o Celta e escorregue depois, a igualdade pontual não lhe serve: empatou 1-1 na Catalunha e perdeu 2-3 em Madrid, estando por isso em desvantagem no confronto direto com os catalães. Vai ser até à última, está visto. “Culpe-se” Messi.