Actualmente na fase final de desenvolvimento e com o lançamento no mercado agendado já para 2017, a próxima geração do navio-almirante da Audi, o A8, anuncia-se com uma certeza: o modelo estará apto para disponibilizar o chamado Nível 3 (de um total de cinco) da condução autónoma. O que, basicamente, significa que poderá conduzir-se, acelerar e travar sozinho, sem requerer a intervalos regulares a intervenção do condutor – desde que exista legislação nos diferentes países que permitam que tal aconteça.

A notícia é avançada pela Automotive News Europe, acrescentando que as alterações à lei, e nomeadamente à Convenção de Viena sobre Trânsito Rodoviário de 1968, estão já a ser debatidas na Alemanha, um dos países que pretende ser o primeiro a colocar a circular nas suas estradas automóveis equipados com os níveis 3 e 4 da condução autónoma.

Segundo refere a mesma publicação, o projecto de alterações encontra-se já na Câmara Alta do Bundestag, o qual poderá vir a aprovar a nova legislação, em questão de semanas. Sendo que o projecto do Governo alemão prevê, entre outros aspectos, que os fabricantes automóveis assinem uma declaração, em conjunto com os clientes, na qual ficam explícitas e acordadas as situações concretas em que o condutor poderá passar a responsabilidade da condução para o automóvel, de forma a que não se criem falsas expectativas.

O elegante Prologue serviu para testar as linhas do novo topo de gama da Audi, com dois anos de antecedência

Ao mesmo tempo, uma caixa negra idêntica à dos aviões e instalada no carro, permitirá gravar todas as situações em que o condutor decida entregar ao automóvel a condução. Para que, em caso de acidente, os investigadores possam facilmente apurar se era o condutor, ou o próprio automóvel, que estava aos comandos.

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Denominada “Condução Autónoma Condicionada” pela Sociedade de Engenheiros Automóveis (SAE, na sigla em inglês), a tecnologia de Nível 3 que a Audi pretende instalar no novo A8 funcionará a velocidades abaixo dos 60 km/h, em situações de tráfico congestionado em auto-estradas com separador central. Sendo que, a partir do momento em que o condutor activar o sistema, este entregará a condução ao automóvel e poderá, por exemplo, ler um livro, ver as notícias do dia no seu tablet ou responder a e-mails. Não podendo apenas, por exemplo, adormecer, uma vez que, perante situações de trânsito particulares e que requeiram a atenção do condutor, o carro não deixará de o alertar e colocar a hipótese deste retomar a condução. Ficando depois à consideração do condutor recuperar, ou não, os comandos.

A Tesla tem o melhor Nível 2 de condução autónoma do mercado e os novos modelos à venda desde Dezembro, já possuem o hardware necessário para atingir o Nível 3 e 4, assim que a legislação o permitir. A Audi pretende passar directamente para o Nível 3, sem chegar a disponibilizar o 2

Recorde-se que propostas que hoje em dia já anunciam capacidades de condução autónoma, como a Tesla e o seu Autopilot, são classificadas apenas de Nível 2, ou “automação parcial”. Desde logo, pelo facto de exigirem que o condutor mantenha permanentemente o olhar na estrada e esteja preparado para, a qualquer momento, retomar a condução.

Mercedes vai com calma

Entretanto, ao mesmo tempo que a Audi acena já com a oferta de uma realidade de condução autónoma quase plena, propostas rivais do A8, como é o caso do Mercedes Classe S, deverá chegar ao mercado, também este ano, naquele que é o seu mais recente restytling, mas ainda sem condução autónoma de Nível 3.

De novo a referência. Renovado Classe S em Julho

“Na nossa opinião, a tecnologia não está ainda num nível em que possamos passar a responsabilidade da condução para o veículo”, comentou o chefe de Desenvolvimento da Daimler, Ola Kallenius, durante o último Salão Automóvel de Genebra.

De acordo com o mesmo responsável, o Classe S renovado contará com “um extremamente sofisticado sistema de condução autónoma de Nível 2”, o qual, segundo anunciou já também a Daimler, permitirá ao próprio carro “acelerar e desacelerar, mesmo quando em vias que não auto-estradas”. Isto, além de conseguir mudar autonomamente de faixa, como acontece com o novo Classe E.

Recorde-se que a Daimler já possui uma parceria com a Bosch no sentido de desenvolverem em conjunto a próxima tecnologia de Nível 4, ou até mesmo Nível 5, para aplicação nos automóveis da Mercedes-Benz. E, muito provavelmente, também da Smart.

BMW prevê Nível 3… para 2021

Mas se a Audi parece acelerar a fundo, enquanto a Mercedes-Benz prefere optar por colocar algum travão, já a BMW, outra das marcas premium alemãs, responde com o pé nos dois pedais: embora garantindo estar pronta para disponibilizar tecnologia de condução autónoma tanto de Nível 4 como de Nível 5, pelo menos para já, a opção passa por comercializar não mais que Nível 3, e apenas no modelo de produção que resultará do protótipo iNext. Cuja chegada ao mercado só deverá acontecer em… 2021.

Apesar desta espécie de contenção, um dos vice-presidentes sénior da BMW, Elmar Frickenstein, também garantiu, em declarações ao Automobilwoche, que a decisão quanto ao nível de condução a aplicar não está, no entanto, ainda totalmente tomada.

No último Salão Automóvel de Genebra, o CEO da BMW, Harald Krueger, anunciou que o fabricante tinha decidido passar directamente o Nível 2 para o Nível 4 da Condução Autónoma. Tal como, aliás, outros construtores automóveis, como a Ford a ou a Volvo, estariam, de resto, a ponderar fazer. “Desta forma, aprende-se com os resultados, o que funciona e quais os melhoramentos necessários”, afirmou.

Importa recordar que o Nível 4 da Condução Autónoma é descrito pela SAE como “automação elevada”, já que o carro assume grande parte das funções de condução, ainda que o condutor possa tomar o controlo dos acontecimentos, a qualquer momento. Já no Nível 5, ou de “automação completa”, o veículo dispensa a presença de um volante, uma vez que está capacitado para cumprir todas as funções relativas ao acto de conduzir, sem qualquer intervenção do condutor.