“Eleições, sim. Quero eleições agora.” Quem o exige é o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, no seu programa de televisão. Mas não se refere a eleições presidenciais — essas continuam agendadas para o próximo ano. As declarações dizem respeito às eleições para os governos estatais – que se deveriam ter realizado em dezembro passado e que foram adiadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Maduro mostra-se “ansioso” para conhecer o resultado destas eleições e deixa claro: quer que se realizem “agora”.

Estou ansioso para que venham as eleições dos governadores [estatais] e, quando vierem as autárquicas, que venham as autárquicas. Ansioso. Porque o nosso terreno natural é a luta de ideias.”

Em pleno horário nobre, as palavras de Maduro surgem na véspera de novos (e grandes) protestos, marcados pela oposição para esta segunda-feira. A capital, Caracas, é o palco principal destas manifestações que, em três semanas, já provocaram a morte de pelo menos 20 pessoas – e a detenção de cerca de mil.

Com eleições autárquicas a realizarem-se ainda este ano – e com eleições estatais em atraso – é ainda incerto se os eleitores venezuelanos serão chamados a votar para dois governantes no mesmo dia. Já a oposição parece querer uma total dissolução de governos – a nível nacional – e pede a Maduro que se demita e que sejam convocadas eleições presidenciais antecipadas.

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O chefe de Estado aproveitou o seu talk show (“Domingos com Maduro“) para responder à oposição e reiterar que está aberto para um “diálogo político”. Pede, ao mesmo tempo, que os opositores se desviem dos “caminhos da violência e do golpismo” e se concentrem em encontrar “caminhos de paz”. Vira-se para Roma e pede ao Papa Francisco que “siga com atenção” aquilo que se passa na Venezuela, uma semana depois de o arcebispo de Caracas ter apelado ao fim dos confrontos.

Sobre as eleições estatais e autárquicas, Maduro é assertivo: está “ansioso” e que se realizem “agora”. Mas abstém-se de comentar a possibilidade de convocar eleições presidenciais antecipadas.

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A oposição aponta o dedo ao Governo de Maduro pela crise económica que deixou a Venezuela com falta de alimentos, medicamentos e bens essenciais. Em dados avançados pela CNN, as reservas da Venezuela diminuíram este ano para metade do valor registado em 2015: o país tem cerca de dez mil milhões de dólares (nove mil milhões de euros) em reservas.

Os protestos das últimas semanas começaram por ser pacíficos e em resposta à tentativa do Supremo Tribunal (com uma maioria do Governo) de se apropriar de poderes do Congresso (dominado pela oposição).