A eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos precipitou “uma caça às bruxas” contra jornalistas em todo o mundo, afirma o relatório da liberdade de imprensa divulgado esta quarta-feira pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF). “As repetidas intervenções de Donald Trump a qualificar o quarto poder (‘media’) e os seus representantes entre os ‘seres humanos mais desonestos do mundo’ por difundirem ‘notícias falsas’, pôs termo a uma longa tradição norte-americano de luta pela liberdade de informação”, apontou o relatório anual da RSF.

Os EUA figuram no 43.º lugar do índice da liberdade de imprensa elaborado pela RSF – contra o 41.º no ano anterior – integrando o grupo de países com “situação satisfatória”, imediatamente depois do Burkina Faso e antes das Comores, Taiwan e Roménia.

O discurso de ódio utilizado pelo novo chefe da Casa Branca e as suas acusações de mentiras ajudaram a desinibir os ataques contra os meios [de comunicação social] em todos os países do mundo, incluindo nos democráticos”, afirmou a organização.

Segundo a RSF, os grupos e as pessoas declaradas antissistema, como o próprio Trump, utilizam o descrédito relativamente aos ‘media’ como “arma preferida”. Mas não é só Trump, ressalvou a RSF no relatório, assinalando que no Reino Unido, durante a campanha pelo ‘Brexit’ [saída do Reino Unido da UE], o então líder do xenófobo Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), Nigel Farage, fez do ataque aos órgãos de comunicação social o pilar fundamental da campanha.

Também em Itália, o chefe do movimento Cinco Estrelas, Bepe Grillo, afirmou que preferia expressar-se através do seu blogue do que responder a “perguntas fastidiosas” da “casta” jornalística, e chegou a pedir um “júri popular para determinar a veracidade das informações publicadas pelos jornalistas”.

Tudo isso, observou a organização, faz com que os ataques contra a liberdade de imprensa tenham sido muito mais virulentos no último ano do que nos anteriores, “ainda que a deterioração não seja [algo] novo”. Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Holanda ocupam os primeiros cinco lugares do índice mundial da liberdade de imprensa. A Coreia do Norte – o pior classificado –, Eritreia, Turquemenistão, Síria e China figuram nos cinco últimos.

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