Emmanuel Macron não se considera favorito na corrida à presidência de França, que disputará contra Marine Le Pen, da Frente Nacional, no próximo dia 7 de maio.

“Eu sou um exemplo vivo de que o que está previsto nas sondagens não é uma realidade irreversível. A maioria dos colunistas políticos dos jornais mais conhecidos não depositaram um único euro na minha candidatura”, disse numa entrevista à TF1 o candidato centrista, que concorre pelo seu partido “Em Marcha!” numa plataforma conotada com a esquerda moderada.

Macron sabe que “há raiva em França” e “uma França que recusa as mudanças e que se sente desacreditada pelo mundo político” mas diz que é o candidato melhor colocado para “reconciliar o país”. Não fosse ele, de repente, apoiado por quase toda a gente que é alguém na política francesa, que se uniu contra Marine Le Pen.

“Hoje eu sou o único que consegue reunir o contingente republicano. O que emerge é um claro contraste entre duas ofertas que estão a redefinir a política francesa: um progressivo, outro nacionalista”, disse também Macron.

Emmanuel Macron falou também na reforma na lei do trabalho, que tem sido uma das suas maiores bandeiras mas também um dos pontos que mais o afasta da esquerda. Macron elege o desemprego em França como “o maior problema” do país diz que o país é “o último no quadro europeu nessa matéria”.

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O que não é bem verdade. Segundo números do Eurostat França tem 10% da sua população ativa no desemprego mas Espanha tem quase o dobro — 18%. “Se queremos criar postos de trabalho então precisamos de um quadro legal rigoroso. Devemos baixar os custos com o trabalho e diminuir a tributação das empresas, para que eles possam investir. O terceiro pilar é a formação de pessoas na alas mais vulneráveis da sociedade, especialmente aqueles que estão desempregados ou têm menos qualificações”, disse Macron.

“Não vejo o voto em mim como um cheque em branco”

Nunca levantando a voz, Macron deu uma entrevista onde tentou dar a conhecer um lado humilde, calmo, em tudo diferente da candidata Marine Le Pen. Garantindo que não vai tomar “um voto a seu favor como um cheque em branco”, Macron disse contudo que ninguém se devia iludir: “o que está em jogo é uma presidência progressista contra uma presidência extremista”.

É uma enorme responsabilidade para um homem de 39 anos, que nunca foi eleito para qualquer cargo político e que está conotado com a esquerda de Hollande, de quem foi ministro da economia. Mas as perguntas sobre a sua eventual falta de experiência não parecem assustar Macron. “Vivo com muita seriedade e humildade o período que estamos a atravessar mas não existe uma idade ideal para uma pessoa se tornar Presidente. Eu tenho uma experiência diferente, dentro do governo e dentro do setor privado. Marine Le Pen não a tem”, disse o candidato do “Em Marcha!”.

O autocolante de “homem do sistema” é, porém, um que ele recusa. “Somos todos o resultado do sistema mas eu não sou o resultado do sistema político, eu sou novo na política — é mais uma das diferenças entre mim e Marine Le Pen: eu não sou um herdeiro político”. Depois de uma cena feia na fábrica da Whilpool, na cidade nortenha de Amiens, onde Macron foi vaiado e Le Pen aplaudida apesar o centrista ter crescido na cidade, Macron sentiu a necessidade de aproveitar também esta entrevista para sublinhar que “quer ir ao encontro do cidadão comum para procurar respostas concretas e reais” e que o seu projeto “fala para todos os franceses: para o rural, para o citadino, para os agricultores e para os industriais”.

Brigitte “não será paga pelo contribuinte” mas terá “papel público”

Brigitte Trogneux é uma presença permanente junto a Emmanuel Macron e será também durante a sua presidência caso ele seja escolhido pelos franceses para ocupar o Palácio do Eliseu. “Não sou ainda presidente, não vou responder, é preciso humildade e dignidade”, respondeu Macron quando questionado sobre o papel que a sua mulher ocupará na sua presidência. Mas, logo depois, disse acreditar que as mulheres têm “direitos plenos e abrangentes” e que a sua mulher terá “uma vida, uma voz e um papel” públicos mas que o seu contributo “não será pago pelos contribuinte”. Uma facadinha post-mortem em François Fillon, o candidato do Partido Republicano, um eleitorado do qual Macron tanto precisa?