Cabo Verde quer ter ainda este ano um programa de reinserção social de toxicodependentes, que pretende organizar e melhorar a comunicação e articulação entre instituições, reforçar capacidades dos doentes, descentralizar ações e ter planos de emprego.

A intenção foi avançada esta sexta-feira à agência Lusa por Cristina Andrade, coordenadora do Escritório das Nações Unidas Contra Dragas e o Crime (ONUDC) em Cabo Verde, no final de uma reunião para apresentar e validar conclusões e recomendações de um encontro realizado no ano passado para avaliar as necessidades na reinserção social dos toxicodependentes.

“Já este ano Cabo Verde vai ter esse programa finalizado e pronto para ser implementado”, projetou a responsável, indicando que o documento irá priorizar a organização e melhoria da comunicação e articulação entre instituições que trabalham nessa área.

“O interessante é que as instituições que vem trabalhando nesta área de uma forma isolada estão interessadas em melhorar essa comunicação e articulação”, notou.

Cristina Andrade salientou que essas instituições estão também disponíveis a adotar uma “intervenção integrada” e assim contribuir para favorecer a reinserção social dos toxicodependentes, com o fim último de ajudar o país.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As instituições e parceiros identificados para participar no futuro programa de reinserção social de toxicodependentes estão ligados a áreas como a saúde, emprego, juventude, direitos humanos, solidariedade, educação, género, família, crianças e igrejas.

A coordenadora do ONUDC disse que, além de organizar as instituições, há outra necessidade de envolver a comunidade e a família desde o início do processo de tratamento.

“Um aspeto importante que identificamos aqui é fazer todos entenderem que a reinserção social inicia-se no momento ou mesmo antes de a pessoa pedir ajuda, depois aprofunda-se nas estruturas de tratamento”, sublinhou.

A coordenadora da ONUDC disse também que as respostas devem ser descentralizadas “e com qualidade” em todos os concelhos e estruturas de saúde do país, como forma de facilitar o acesso aos dependentes e o processo de reinserção social.

Segundo Cristina Andrade, o programa irá incluir ainda atividades para o reforço das capacidades sociais e pessoas dos toxicodependentes, que também vão beneficiar de ações de empregabilidade, num tratamento que termina quando a pessoa ganha autonomia.

Segundo dados no ano de 2015, Cabo Verde registou mais de 200 pessoas em tratamento, sendo 194 no Espaço de Respostas Integradas às Dependências, 45 na Granja de São Filipe e 14 na Unidade Livre de Drogas da Cadeia Central da Praia.

A maioria das pessoas está em tratamento por causa do álcool (34%), seguido do ‘crack’ (32%), canábis (20%) e cocaína (9%), sendo que a primeira substância consumida ao longo da vida foi o álcool (60%), seguida da canábis (36%).

De acordo com o primeiro inquérito sobre a prevalência do consumo de substâncias psicoativas na população geral de Cabo Verde, 7,6% dos cabo-verdianos declararam ter experimentado qualquer substância ilícita ao longo da vida.

As substâncias ilícitas mais consumidas são a canábis, mais conhecida em Cabo Verde por ‘padjinha’, e a cocaína, com o álcool a ser a substância lícita mais consumida na população cabo-verdiana, com uma prevalência de 63,5%.