Com a Torre Eiffel como pano de fundo, mais de 100 emigrantes lesados do BES/Novo Banco voltaram a protestar este sábado em Paris para reclamar as poupanças e mostrar aos turistas que “Portugal não é o país que se pensa”.

Carlos Costa é um dos membros do grupo Emigrantes Lesados Unidos que desde janeiro tem organizado protestos uma vez por mês na capital francesa, estando agendada já para o último sábado de maio uma nova manifestação “junto de instituições portuguesas”.

“Estamos aqui para divulgar neste sítio turístico – porque há aqui muitas nacionalidades que passam aqui por Paris – para divulgar que Portugal não é o país que a gente pensa.

Portugal é o país só do sol, o resto a prova está aqui à frente dos nossos olhos: temos o sistema financeiro completamente corrompido, sobretudo da parte do BES/Novo Banco”, disse à Lusa Carlos Costa.

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O português e a sua família tinham “as poupanças de uma vida” no ex-BES e vai continuar a organizar protestos para mostrar “esta tristeza que está aqui a acontecer aos emigrantes que foram roubados e há três anos que isto está a durar”, alertando que “há pessoas que estão prontas a fazer coisas graves” e que “podem perder a cabeça de um momento para o outro”.

Na praça do Trocadero, perante centenas de turistas que passavam e paravam para ler os cartazes, muitos deles em várias línguas, Manuel Sousa, de 65 anos, segurava uma faixa onde se lia “Portugal – o país onde o terrorismo financeiro é aceite”, afirmando à Lusa que voltou a protestar para dizer “basta!”

“O que está a acontecer financeiramente em Portugal, nem só com o Novo Banco mas com os bancos em geral, é um autêntico terrorismo financeiro, são autênticos atentados. Verificamos que temos um Governo e um Presidente em Portugal que fazem bons anúncios mas ficam na linha da treta, ficam mesmo na linha da mentira”, expressou o reformado que vive há 47 anos em França.

Associando-se aos ‘slogans’ entoados em coro, como “Lesados na rua, a luta continua”, Rodrigo Pinheiro Lourenço exibiu um cartaz com a frase “Tudo o que foi ganho em Paris foi burlado em Portugal”.

“Metia tudo lá, erro que fiz, a partir de agora nada, nada, nada mesmo em Portugal. É absurdo. Mesmo férias não me apetece muito. Se estou aqui é porque acredito mas estou-me a aperceber que o governo atual e todas as promessas que foram feitas não estou a ver isto avançar muito. Estou a ficar desiludido”, contou o emigrante de Amarante de 41 anos que chegou a França com 14.

Na praça que dá para a Torre Eiffel, cantou-se “Grândola Vila Morena” quatro dias depois do 25 de Abril e pediu-se “justiça”, uma palavra gritada repetidamente por Sérgio Morgado que tem estado em todos os protestos dos emigrantes lesados do BES em Paris e em Portugal e trouxe uma faixa com uma fotografia do primeiro-ministro e o Presidente da República com a frase “promessas leva-as o vento”.

“É importante que o senhor primeiro-ministro nos ajude, com a promessa que nos deu, que nos ajude ao obrigar a direção do Novo Banco a reunir connosco e a entrar num acordo porque isto pode começar a piorar. Por exemplo, nós podemos começar a organizar manifestações, chegar ao consulado e bloquear o consulado”, adiantou o português de 55 anos, acrescentando que se podem também fazer protestos em exposições portuguesas em Paris.

Além de várias bandeiras de Portugal, havia também bandeiras do Bloco de Esquerda (BE), e Cristina Semblano, membro do secretariado do núcleo do BE em França e na Europa, disse à Lusa que voltou a marcar presença para denunciar “uma obscenidade” três anos após o colapso do BES e numa altura em que “o governo apronta-se para vender o Novo Banco de borla” à Lone Star que classificou como “o fundo abutre americano”.

“São três anos que passaram após o colapso do Novo Banco. Já vai quase um ano que passou desde a vinda do primeiro-ministro e do Presidente da República festejar o 10 de junho em Paris, dia em que eles afirmaram que ia ser encontrada uma solução. O presidente da República até disse que vinha passar o 10 de junho em Paris porque os emigrantes eram até mais importantes que os residentes nacionais e está-se a brincar com os emigrantes”, defendeu Cristina Semblano.

Há duas semanas, a Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP) entregou no parlamento português uma petição com mais de 7.000 assinaturas a alertar os deputados para o seu caso e a defender uma investigação às vendas fraudulentas de produtos bancários, designadamente com uma comissão de inquérito.

O Governo e o Banco de Portugal assinaram em março um acordo com o fundo norte-americano Lone Star para a venda de 75% do Novo Banco, mantendo o Fundo de Resolução os 25% de participação restantes.