O senhor árbitro tem dúvidas em assinalar penálti? Não se preocupe, o vídeo ajuda. Não viu aquela cotovelada discreta e já só reparou no jogador a rebolar no relvado? Não se preocupe, o vídeo ajuda — e sai um cartão vermelho convicto. Tem dúvidas se foi golo? Resolvido. Mais uma vez, o vídeo ajuda. A tão esperada revolução tecnológica vai chegar ao futebol português: na próxima época, todos os jogos da Primeira Liga vão ter recurso a vídeo-árbitro, como anunciou esta quinta-feira a Federação Portuguesa de Futebol (FPF). E o primeiro teste é já a final da Taça de Portugal, que vai colocar frente a frente Vitória de Guimarães e Benfica.

Mas como vai funcionar o vídeo-árbitro, oficialmente designados como Vídeo-Árbitros Assistentes (VAR)? Na prática, este recurso só vai ser utilizado em situações muito específicas, como a validação de golos, a marcação de grandes penalidades, a atribuição de cartões vermelhos e possíveis erros na identificação de jogadores castigados.

O recurso aos VAR pode ser decidido pelo árbitro, através do sistema de intercomunicações, ou podem ser estes assistentes a recomendar ao juiz que reveja uma decisão tomada no decurso do jogo. Passo seguinte: os vídeo-árbitros, devidamente instalados numa sala de operações, revêm o lance e informam o árbitro da decisão correta. O homem do apito pode depois decidir rever ele próprio a jogada junto à linha lateral ou simplesmente aceitar a recomendação dos auxiliares. E segue o jogo.

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Os casos de fora de jogo não vão ser analisados pelo vídeo-árbitro, a não ser que resultem em golo. Em contrapartida, este sistema pode funcionar como incentivo aos bandeirinhas para que deixem prosseguir as jogadas que suscitem dúvidas — em caso de golo irregular, a decisão será revertida.

Nesta época, nove jogos da I Liga já foram arbitrados com auxílio do vídeo-árbitro, mas ainda em modo de teste offline, como explicava aqui o Observador. Nestes testes, o árbitro adicional, responsável pelo controlo das gravações, ficava junto à equipa técnica numa carrinha, no exterior do estádio.

A introdução do vídeo-árbitro era há muito defendida pelos principais responsáveis pelo futebol em Portugal. Foi isso que vieram a terreiro defender Fernando Gomes, presidente da FPF, Pedro Proença, presidente da Liga de Futebol, e Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem.

“Queremos claramente que os árbitros errem cada vez menos e esta ferramenta, estamos convencidos, será muito importante para diminuir a margem de erro”, afirmou esta quinta-feira Fernando Gomes, esclarecendo que os custos, elevados, serão assumidos pela FPF.

O passo decisivo foi dado a 5 de março de 2016, no 130º Encontro Anual realizado em Cardiff, quando o International Board decidiu dar finalmente luz verde à introdução deste recurso. Portugal foi um dos primeiros seis países a avançar para os testes, a par de Austrália, Brasil, Estados Unidos, Alemanha e Holanda. Os australianos foram os primeiros a adotar o sistema, e espera-se que, além de Portugal, se juntem à revolução tecnológica Holanda e Alemanha. De resto, os árbitros portugueses já foram experimentando o sistema na Cidade do Futebol, em Oeiras.

No final de abril, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, confirmou que a tecnologia do vídeo-árbitro será utilizada no Campeonato do Mundo de futebol de 2018, na Rússia.

E é infalível? Não. Na primeira vez que foi oficialmente testado, no Mundial de Clubes de 2016, as equipas de arbitragem deram alguns tiros no pé, como recordava aqui o Observador. Na final do torneio, entre o Real Madrid e o Kashima Antlers, defesa blanco Sergio Ramos deveria ter sido expulso por acumulação de amarelos mas acabou por ficar em campo por falha de comunicação.

Antes, na meia-final entre os japoneses e o Atlético Nacional, o árbitro interrompeu a partida para assinalar uma grande penalidade num lance onde o jogador que sofreu a falta estava fora de jogo.

E a revolução no futebol pode não ficar por aqui. A FIFA está a estudar um conjunto de propostas pensadas pelo ex-internacional holandês Van Basten – que é agora diretor técnico da FIFA — que podem mudar a face do futebol. Em causa estão alterações como o fim do fora de jogo, a adoção de penalizações de cinco ou dez minutos em substituição dos cartões amarelos, a interrupção do relógio sempre que a bola não estiver em jogo nos últimos dez minutos da partida, a introdução de duas substituições nos prolongamentos, a substituição dos desempates por penáltis pelo ‘shoot out’ (cinco tentativas em que o jogador faz 25 metros até à baliza e remata à baliza, podendo driblar, chutar, enganar o guarda-redes, etc.), e a limitção do número de faltas, por exemplo. Propostas que estão ainda em análise muito inicial.

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