“O Meu Pai e Eu”

A boa surpresa desta semana é este filmezinho independente, estreia na realização do argumentista Bob Nelson (“Nebraska”, de Alexander Payne). O pequeno Anthony, de oito anos, miúdo certinho e aluno modelar, vai passar o fim-de-semana com o pai (um ótimo Clive Owen), um carpinteiro aplicado mas amigo da bebida e que só trabalha esporadicamente, enquanto a mãe e o padrasto vão para um retiro religioso. O roubo de uma caixa de ferramentas vai fazê-los viver uma série de peripécias tragicómicas e, no final, aproximar pai e filho e mudar a ideia que cada um tinha do outro, como nenhum deles sonharia no início do fim-de-semana. “O Meu Pai e Eu” é um robusto e terno filme de argumentista, com uma história finamente carpinteirada (nem por acaso), personagens principais e secundárias bem desenhadas, peripécias que são sempre significativas para o decorrer do enredo e para a caracterização dos intervenientes, humor e drama em doses equilibradas e atores inatacáveis (além de Owen e do pequeno Jaeden Lieberher, Maria Bello, Patton Oswalt, Robert Forster, Matthew Modine e Stephen Tobolowski). Um filme de família que não é só para as famílias.

“Foge”

A primeira realização do ator Jordan Peele é uma combinação indigesta de filme de terror, de “blaxpoitation” serôdia e de comentário social e racial politicamente correto. Um jovem fotógrafo negro vai passar o fim-de-semana à casa no campo dos pais da sua namorada branca, que tal como ela, parecem ser totalmente tolerantes e melindrosamente progressistas. Mal sabe ele que o que aparenta ser um calmo fim-de-semana se vai transformar num pesadelo racista. Este “Foge” parece ter viajado até nós numa máquina do tempo, direitinho dos anos 70, em que realizadores negros como Gordon Parks, Melvin Van Peebles ou William Crain lançavam mão de géneros como o policial ou o filme de ação e de terror para fazerem filmes políticos de afirmação racial e críticos de um “sistema” dominado pelos brancos, os chamados “get whitey movies”. A fita tem os seus momentos arrepiantes e satíricos (a chávena de chá que induz em transe hipnótico, as cenas de embaraço social na festa), mas Jordan Peele filma como Barack Obama nunca tivesse chegado à Casa Branca e os EUA ainda estivessem no tempo das marchas pelos direitos civis, e mete-lhe dose reforçada de molho de “gore” à Quentin Tarantino.

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“A Cidade Perdida de Z”

O novo filme do realizador americano James Gray (“Nas Teias da Corrupção”, “Nós Controlamos a Noite”, “A Emigrante”) é a adaptação do livro homónimo de David Grann, e conta (embora tomando bastantes liberdades, sobretudo omitindo o que diz respeito ao lado excêntrico da personagem, dada a inventar muito e a exagerar a importância da sua atividade enquanto cartógrafo) uma história verdadeira. A do militar, arqueólogo e explorador inglês Percy Fawcett, que viveu entre meados do século XIX e o início do século XX, e desapareceu com o filho Jack na selva amazónica em 1925, durante mais uma exploração em que procurava encontrar os restos de uma cidade a que deu o nome de “Z”, onde teria prosperado, há milénios, uma civilização relativamente sofisticada, e que poderia ainda ter ligações à mítica El Dorado. Charlie Hunnam interpreta Fawcett, acompanhado por Robert Pattinson, Tom Holland e Sienna Miller. “A Cidade Perdida de Z” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.