Cerca de 500 portugueses sujeitos a trabalhos forçados nos campos de concentração Nazi estão agora identificados e vão ser homenageados, no próximo domingo, em Mauthausen.

A investigação levada a cabo pelo Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, conta com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros e é financiada pela fundação alemã EVZ (Erinnerung, Verantwortung, Zukunft – Memória, Responsabilidade e Futuro). A fundação tem como objetivo a indemnização de estrangeiros submetidos a trabalhos forçados, que ocuparam o lugar dos homens mobilizados para as frentes da guerra.

O grupo de investigação, liderado por Fernando Rosas, intitulou o projeto de “Trabalhadores forçados portugueses no III Reich” e debruça-se, desde 2014, sobre os nacionais vítimas de escravatura nos campos de concentração Nazis.

Mauthausen celebra, este fim de semana, a libertação do campo de concentração que aconteceu há precisamente 72 anos. A libertação, feita pelo 3º Exército dos Estados Unidos da América, entrou nas instalações já desprovidas de oficiais alemães.

A placa a ser afixada no local, no próximo domingo, tem uma inscrição em alemão, português e inglês onde se pode ler : “Aos portugueses de todas as origens e credos que foram vítimas da barbárie nazi. Reconhecimento do Estado Português por iniciativa do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros”.

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À equipa constituída por três portugueses – Fernando Rosas, Cláudia Ninhos e Cristina Clímaco (investigadora em Paris) -, juntou-se o espanhol António Muñoz e o alemão Ansgar Schäfer, residente em Portugal. A diversidade da equipa facilitou a consulta dos arquivos das autoridades francesas, alemãs e espanholas, essenciais para a investigação.

Partindo de várias fontes foram identificados 70 portugueses nos vários campos de concentração do III Reich, 53 dos quais morreram antes do fim da Segunda Guerra. Cerca de 376 foram submetidos a trabalhos forçados.

O financiamento foi por duas vezes rejeitado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Face aos entraves monetários que impediam que a investigação se iniciasse, Ansgar Schäfer recorreu à Fundação EVZ. Depois do primeiro o contacto, o projeto avançou e começou a dar resultados.

Os investigadores apontam que este número é só a ponta do iceberg. Casos como os nomes dos portugueses que se escreveram em espanhol, devido a estarem inseridos num grupo dessa origem, faz parte do leque de temas complexos. Em declarações ao Diário de Notícias, Ansgar revela que havia “nesse período um recrutamento ativo em Espanha, nomeadamente em Vigo, para trabalhar na Alemanha. Muitos portugueses que enfrentavam o desemprego deste lado da fronteira foram até lá para se inscreverem. Como muitos não tinham passaporte, os alemães deixavam-nos entrar, mas depois já não os deixavam sair”.

A investigação tem data de divulgação prevista para 17 de novembro, numa exposição no Centro Cultural de Belém. Será o primeiro dia de um congresso internacional que se prolonga até dia 18, nas instalações do Goethe Institut de Lisboa, uma das instituições de apoio ao projeto. Envolvidas estão também a embaixada da Alemanha e da Áustria em Portugal, bem como o corpo diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros.