Na escola La Sibelle, no 14.º bairro de Paris, ao início da tarde, era preciso fazer fila para votar e a expectativa era que houvesse uma forte participação eleitoral, disse à Lusa o vereador franco-português Hermano Sanches Ruivo. “Há fila. Isso só prova que estamos a recuperar aquele pequeno atraso que tínhamos sentido de manhã, porque, na primeira volta, às oito da manhã, já estava com fila. Estas eleições vão ser participadas. A questão é saber se podiam ser ainda mais do que na primeira volta”, afirmou o presidente da mesa de voto número 41.

Na escola, onde estão inscritos cerca de 3.000 eleitores, depois do almoço as pessoas chegavam com regularidade, munidas do bilhete de identidade e do cartão de eleitor, sendo obrigadas a esperar um pouco antes de colocarem o voto na urna e ouvirem o sonoro “Votou!”.

“Tivemos um início com menos pessoas neste domingo, mas, entretanto, já recuperámos uma parte do atraso porque tradicionalmente as eleições presidenciais têm essa capacidade de convencer as pessoas a mexer”, continuou Hermano Sanches Ruivo, precisando que se trata de um “fim de semana complicado com um aumento do número de procurações de pessoas que foram de férias”.

O presidente da mesa de voto mostrou-se confiante na participação eleitoral, ainda que receie que muitas pessoas não se desloquem às urnas por acreditarem que Emmanuel Macron vai ganhar logo à partida e por ser “uma forma de dizer que não querem que ele tenha um resultado tão forte”. À entrada da escola, havia dois guardas a revistarem rapidamente as mochilas de quem entra, numa altura em que a França continua sob estado de emergência, mas as pessoas vinham em família e mostravam-se descontraídas e indiferentes a qualquer ameaça terrorista.

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“[A segurança] foi reforçada, estamos aqui com dois seguranças sistematicamente, há mais polícias no terreno. Sabe-se que as coisas são possíveis, mas sinto as pessoas – entre aspas – mobilizadas. Ou seja, vão. Umas acham que têm que ir e não podem falhar. As outras vão. Basta ver quantas vêm com as crianças, são famílias inteiras. As pessoas idosas, os mais jovens, as famílias estão dentro dessa percentagem que nós esperamos forte”, indicou.

Para Raphaël Hehn, residente no 14.º bairro de Paris, esta eleição é tão importante quanto a de 2002 que opôs Jacques Chirac a Jean-Marie Le Pen, o que o mobilizou ainda mais a votar. “Se queremos defender a Europa, temos de ir votar Macron. Ainda assim, é mais um voto para travar Marine Le Pen. Não acho que ela passe, mas tenho medo que tenha um resultado importante. Certo é que não vai ser como em 2002, não vamos ter 82% contra 18%”, afirmou à Lusa instantes depois de ter votado.

Também Hugues e Florence Woestelaindt foram votar contra a Frente Nacional, ainda que seja Florence quem mais receia a vitória de “madame Le Pen”. “Tenho medo que ela passe, porque ela tem uma maneira de falar ao que ela chama de ‘o povo francês’ que faz com que as pessoas votem nela porque estão muito desanimadas com o balanço do mandato de Hollande. Essas pessoas deixam-se levar pelas palavras e pelas ilusões e pensam que vale a pena tentar a Le Pen”, afirmou.

Para Hugues Woestelaindt, “é simplesmente uma vergonha que esta senhora esteja na segunda volta e é preciso fazer tudo para a eliminar”, explicando, ainda assim, que o seu voto em Emmanuel Macron “é um voto de adesão a 80%”. Quanto a Hermano Sanches Ruivo, apesar de ter apoiado o socialista Benoît Hamon na primeira volta, esta noite espera “festejar a derrota de Marine Le Pen” e “festejar uma vitória de Emmanuel Macron, sobretudo se ultrapassar os 65%”.

Os franceses votam hoje na segunda volta das eleições presidenciais, a fim de decidir quem irá dirigir o país nos próximos cinco anos, o centrista pró-europeu Emmanuel Macron ou a candidata de extrema direita Marine Le Pen.