Enquanto a opção por um determinado automóvel depende de uma série de factores, alguns racionais, como as dimensões ou o espaço, e outros mais emocionais, como a estética ou a imagem da marca, a decisão de optar por um motor a gasolina ou a gasóleo é, ou deveria ser, um mero exercício matemático. Importa acima de tudo decidir qual o mais barato na fase de aquisição e depois qual o que assegura os menores custos de utilização.

Para tirar isto a limpo, pegámos exactamente no mesmo veículo, no caso um Volkswagen Golf, e comparámos a versão a gasolina, equipada com o motor 1.0 TSI de 110 cv, com o seu “irmão” a gasóleo mais próximo em matéria de potência, o 1.6 TDI de 115 cv. E avaliámos as diferenças que existem entre ambos em matéria de preço, de consumo e de comportamento.

A história favorece os diesel

Durante anos os automóveis movidos por motorizações a gasóleo gozaram de vantagens evidentes face aos seus congéneres a gasolina. Se por um lado eram mais caros, por outro eram muito mais económicos e, como se isto não bastasse, eram igualmente mais agradáveis de utilizar, uma vez que o recurso ao turbocompressor permitia que as unidades turbodiesel – de longe a esmagadora maioria – tivessem mais força a todos os regimes, respondendo de forma mais enérgica às solicitações do acelerador. O que deliciava os utilizadores.

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Com a recente introdução dos pequenos mas complexos motores a gasolina, o panorama sofreu um sem-número de alterações, todas elas favorecendo estas motorizações. Com apenas três cilindros – na maior parte dos casos –, e capacidades muito reduzidas, entre os 1,0 e 1,2 litros, as unidades motrizes a gasolina modernas passaram a proporcionar uma utilização igualmente agradável, fruto de usufruírem também dos serviços de um turbocompressor, o que lhes permitiu passar a oferecer praticamente o mesmo tipo de binário, ou seja, de força.

Mas não só o hábito de privilegiar os motores a gasóleo está muito enraizado na nossa sociedade, como esta realidade se verifica também no mercado de usados, o que leva muitos compradores de carros novos a optar pelo diesel, simplesmente por serem mais fáceis de vender quando se pretenderem desfazer deles, cinco ou 10 anos mais tarde. Contudo, também aqui tem havido alterações nos últimos anos, pois as restrições de transitar em determinadas zonas das grandes cidades, que são substancialmente maiores para os motores que consomem gasóleo do que para os que queimam gasolina, têm tornado estes últimos cada vez mais atraentes.

Custos de aquisição: vantagem para os gasolina

No que respeita ao preço, a vantagem do Golf a gasolina é por evidente, sendo proposto 24.530€ na versão Trendline Pack que, em relação à versão base usufrui de algumas melhorias no equipamento, a começar pelo ar condicionado de comando electrónico. Porém, esta versão beneficia de uma campanha que reduz o preço de venda ao público para 22.900€, o que lhe incrementa a competitividade.

Pelo seu lado, o Golf turbodiesel é comercializado por 27.300€ na versão Trendline, exigindo um esforço adicional no momento da compra de 4.400€, que depois há que recuperar ao longo dos anos, fruto dos consumos inferiores, associados a um combustível que é, também ele, mais barato. Resta saber de que valor estamos a falar e de quantos anos é necessário esperar até se atingir o break even.

Consumos: diesel com vantagem, mas “curta”

Para estabelecer os consumos reais de cada uma das motorizações, submetemos ambos os veículos às mesmas condições, circulando em conjunto durante algumas centenas de quilómetros e trocando de condutor para eliminar diferenças devidas ao tipo de condução.

Em auto-estrada, a velocidade muito reduzida, oscilando entre os 60 e os 80 km/h, o Golf 1.6 TDI de 115 cv revelou um menor apetite – 3,8 contra 4,5 litros do 1.0 TSI –, confirmando o que já suspeitávamos: os motores a gasóleo têm mais vantagem quanto menor for o esforço, ou seja, a velocidade.

Com o incremento do ritmo, passando a circular entre 110 e 120 km/h, os consumos subiram, mas mais para o diesel. Nestas condições, o 1.6 TDI gastou uma média de 5,1 litros, enquanto o 1.0 TSI se ficou pelos 5,2 litros, revelando um equilíbrio surpreendente. O que é tão mais importante quanto é esta a velocidade adoptada pela maioria dos utilizadores.

A circular em cidade, com bastante trânsito – como se comprova pela velocidade média ser de somente 19 km/h –, os Golf revelaram um consumo médio de 7,1 litros para o TDI e 8,0 litros para o TSI. O facto de possuir um pouco mais de força, atingida a um regime ligeiramente mais baixo, facilita a tarefa do motor a gasóleo, que assim exige menos acelerador para se deslocar, com vantagem nos consumos.

Depois de confrontar os Golf a gasolina e a gasóleo com as utilizações típicas, em cidade e em estrada, evoluímos para os percursos mistos enfrentando diferentes tipos de trânsito e distintas velocidades médias. Num percurso com menos pára-arranca e mais avenidas principais, com sensivelmente a mesma distância percorrida em estrada e em cidade, o motor diesel acusou uma média de 4,3 litros, contra os 4,7 do seu rival, valores que subiram para 6,0 e 6,3 litros com a redução da velocidade e incremento da distância percorrida em trânsito citadino.

Feitas as contas (considerando a gasolina simples 95 a 1,489€ o litro e o gasóleo simples a 1,269€ o litro), o Golf 1,6 TDI de 115 cv atingiu uma média geral de 5,3 litros, contra 5,7 litros para a versão 1.0 TSI de 110 cv a gasolina. Diferença mínima, que seria ainda menor se utilizássemos ambos os modelos com a mesma caixa de velocidades, uma vez que, se o modelo a gasolina utilizava uma caixa manual de seis velocidades, o Golf a gasóleo tinha montada a nova caixa DSG, com dupla embraiagem e sete velocidades, que segundo a própria Volkswagen assegura uma redução de consumo de 0,2 litros, em média.

Comportamento? Gasolina oferece outra agilidade

As diferenças entre a eficácia em curva de ambas as versões do Volkswagen Golf prendem-se, sobretudo, com o peso. Basta abrir o capot de ambos os veículos para nos apercebermos do que separa a complexidade de ambas as mecânicas. Enquanto no 1.6 TDI todos os espaços estão preenchidos, no compartimento do motor do 1.0 TSI há espaço de sobra.

O três cilindros é mais pequeno e substancialmente mais simples, o que acaba por confirmar-se sobre a balança, ao pesar menos cerca de 90 kg do que o seu rival a gasóleo. É esta diferença que explica que, apesar de ser ligeiramente mais potente e ter um pouco mais de força (115 cv em vez de 110 cv e 250 Nm em vez de 200 Nm), o motor diesel é mais lento para ir de 0 a 100 km/h (10,5 contra 9,9 segundos), em igualdade de caixa de velocidades.

No comportamento em curva, o motor a gasolina volta a ter vantagem, aqui não apenas pelo peso inferior, mas sobretudo pelo peso mais reduzido que incide sobre as rodas da frente, o que provoca uma atitude menos subviradora e leva a que o Golf 1.0 TSI fuja menos de frente quando o condutor decide impor um ritmo de condução mais “animado”.

Conclusão

Tendo em conta que não há grandes diferenças na agradabilidade de condução, a opção entre escolher motor a gasolina ou diesel resume-se a calcular o número de anos que é necessário esperar para recuperar o investimento adicional na versão 1.6 TDI, que exige mais de 4.000€ no momento da compra.

Se considerarmos um condutor que faça anualmente um reduzido número de quilómetros, 10.000 por exemplo, temos que a versão a gasóleo permite apenas economizar 176€ por ano, com o condutor a fazer break even ao fim de 25 anos. A isto será forçoso somar o custo de oportunidade, pois se os 4.400€ permanecerem no bolso do comprador, caso opte pela versão a gasolina, certamente ele poderá dedicar-se a actividades mais interessantes, para ele é claro, do que investir num carro novo com um motor diferente.

Com o acréscimo da quilometragem anual, torna-se mais interessante o investimento num Golf a gasóleo, mas menos do que muitos julgam. Por exemplo, um condutor que percorra 15.000 km/ano poupa 264€ em cada ciclo de 12 meses, pelo que consegue ter o dinheiro de volta ao fim de “apenas” 16 anos e meio. Para 20.000 km o equilíbrio é atingido aos 12,5 anos, valor que cai para 9,9 anos caso cumpra 25.000 km/ano, e para 8,3 anos para 30.000 km/ano. Só aqueles que percorrem 50.000 Km/ano é que se sentem recompensados após cinco anos de utilização do veículo, o que ainda assim é muito tempo para recuperar o investimento inicial.