Uma jornada de fé junta há cinco anos, em Fátima, em frente à Capelinha das Aparições, as irmãs Luísa e Cristina, de Lisboa, uma forma de enfrentarem a perda do pai, há 25 anos, num 13 de maio.

Todos os anos as duas irmãs escolhem o mesmo lugar na “linha de frente”, por uma “questão de fé” e uma forma de “ultrapassar a perda” do seu pai junto a Nossa Senhora.

Ficávamos em casa e as cerimónias de Fátima chegavam-nos pela televisão, fazendo-nos sempre lembrar o nosso pai. Pensámos melhor, e decidimos vir e viver o 13 de maio precisamente onde a Senhora apareceu”, disse Cristina, casada e mãe de dois filhos.

O “compromisso” das duas irmãs com Maria não envolve a família, que, contaram, “respeita e compreende” a decisão de viverem juntas este momento que definem como “um encontro com Nossa Senhora”.

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“Eles compreendem que é um assunto só nosso, e uma conversa intima que temos com Nossa Senhora”, explicou Luísa. O compromisso é levado tão a sério que adquirem roupas idênticas – quentes e leves – para estarem estes dias em Fátima.

Luísa admitiu que após a morte do pai teve “um momento de revolta” e “uma zanga com Nossa Senhora”, por não ter conseguido compreender a razão de uma partida tão precoce.

Foi difícil compreender porque é que o meu pai teve de partir tão cedo, quando todos precisávamos dele. Com o tempo e, sempre com fé, percebi que teve de ser assim. Agora sei que foi tudo para que ele não sofresse”, contou.

As duas irmãs chegaram ao santuário, que este ano recebe a visita do papa Francisco, na passada terça-feira e, desde então, estão posicionadas no mesmo local.

“Aqui temos tudo o que precisamos. Estamos em frente à capelinha, se precisarmos vamos lá dormir e há casas de banho abertas 24 horas por dia”, explicou Cristina, contando que em anos anteriores já dormiu no chão do recinto, quando a temperatura era elevada. Para cumprirem esta promessa de fé, que vivem juntas há cinco anos, as duas irmãs tiram férias dos seus empregos.

Cristina confidenciou que para vir todos os anos tem “um acordo com Nossa Senhora”, a quem agradece tudo o que recebeu durante o ano e pede saúde e força para poder voltar a Fátima nesta data.

Não posso vir aqui visitar a Senhora sem saúde, não vou querer fazer isto em esforço, por isso lhe peço saúde para a vir visitar”, sublinhou Cristina.

O 13 de maio é, também, ponto de encontro com “os vizinhos”, fiéis que, tal como elas, são presença regular na “primeira linha” por onde passa a procissão com o andor de Nossa Senhora entre o altar e a Capelinha das Aparições.

Encontramo-nos aqui todos os anos, e, apesar de termos os contactos uns dos outros, raramente nos falamos noutras ocasiões”, referiu Luísa.

Rocío e Pablo, um jovem casal espanhol da localidade de San Fernando, perto de Cádis, no sul de Espanha, são “estreantes” em Fátima, onde chegaram na quarta-feira, tendo montado esta manhã um pequeno ‘iglo’ de campanha na “linha da frente”. Esta não será a primeira vez que têm a possibilidade de ver o papa Francisco, a quem atribuem uma mensagem de “contemporaneidade para a Igreja”.

“Pablo, depois de Francisco ter assumido o papado, tornou-se mais próximo e praticante”, referiu Rocío.

Diamantino Oliveira, de São João da Madeira, que vem a Fátima há 22 anos, realçou que a presença do papa e a canonização dos pastorinhos, Jacinta e Francisco, reforçaram a sua vontade de ocupar um lugar privilegiado. Para este católico praticante, a canonização “é a confirmação do que há muito o povo já sentia, dirigindo-lhes pedidos e tendo obtido graças”.

O Santuário de Fátima recebe na sexta-feira o papa Francisco, que presidirá às celebrações do centenário das “aparições” e à cerimónia de canonização de Jacinta e Francisco Marto, duas das crianças que afirmaram ter tido visto Nossa Senhora na Cova da Iria, em 1917.