O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados divulgou, esta sexta-feira, que mais de 3.000 refugiados da República Democrática do Congo chegaram nos últimos dias à província angolana da Lunda Norte, elevando o número de refugiados naquela região para 20.563 pessoas desde abril.

De acordo com o ponto de situação feito em Genebra, Suíça, pelo porta-voz da UNHCR, Andrej Mahecic, estes refugiados fogem da “violência” que se faz sentir há meses na região de Kasai, na República Democrática do Congo (RDCongo).

O exército angolano está a transportar os recém-chegados dos pontos de fronteira para os dois centros de acolhimento, em Cacanda e Moussunge [província da Lunda Norte, próximo do Dundo]”, indicou Andrej Mahecic.

Entre os 3.000 refugiados que chegaram ao leste de Angola nos últimos dias, acrescentou, incluem-se pessoas “com ferimentos graves e queimaduras, que foram transferidas para um hospital local para receber atendimento médico urgente”. Um hospital do Dundo já estará ajudando cerca de 70 pessoas “com ferimentos graves e queimaduras”.

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Em causa estão os conflitos étnico-políticos no Kasai e Kasai Central, na RDCongo, que desde meados de 2016 já provocaram, segundo o ACNUR, um milhão de deslocados, 11.000 dos quais tinham fugido para Angola, através da província da Lunda Norte, até 30 de abril.

O número mais atual do ACNUR aponta agora para 20.563 refugiados, só desde abril.

Os centros de acolhimento de refugiados em Angola já estão sobrelotados e estão em dificuldades para acomodar as chegadas diárias. O ACNUR está atualmente a ajudar as autoridades angolanas a identificar um local adequado para a deslocação de refugiados dos centros de acolhimento temporários”, informou ainda Andrej Mahecic.

Essa concentração é defendida pelo ACNUR “a pelo menos 50 quilómetros da fronteira” angolana.

Aquela agência da Organização das Nações Unidas refere na mesma informação que está a fornecer alimentos e artigos de socorro aos refugiados recém-chegados a Angola, além de tendas e folhas de plástico “para fornecer abrigo adequado, priorizando as pessoas mais vulneráveis”.

O ACNUR pede atualmente um apoio financeiro 6,5 milhões de dólares (5,9 milhões de euros) para fornecer assistência imediata a estes refugiados “para salvar vidas, incluindo comida, nutrição, saúde e itens de socorro para refugiados”.

Segundo informação anterior do ACNUR, estes refugiados relatam ataques de grupos de milícias, que estão a alvejar a polícia, militares e civis que suspeitem de apoiar ou representar o governo congolês.

O comandante-geral da Polícia Nacional de Angola informou recentemente que estão em curso ações de reforço de patrulhamento na fronteira com a RDCongo, para evitar a penetração de grupos armados em território angolano.

Estão a ser tomadas as medidas. Nós não podemos ficar impávidos, estamos a tomar as medidas de contenção para que não haja penetração de forças armadas para dentro do nosso país”, disse o comissário Ambrósio de Lemos.

A situação já levou o chefe do Estado-Maior Adjunto das Forças Armadas da RDCongo, general Dieudonnè Ameli ao Dundo, para uma reunião com o general Gouveia de Sá Miranda, comandante do Exército angolano.

Só a província da Lunda Norte partilha 770 quilómetros de fronteira com a RDCongo, dos quais 550 terrestres e os restantes com limites fluviais.