Ainda tinha 18 anitos mas perdeu todo o respeito pelos mais velhos, agarrou no microfone e tomou conta da festa. No ano passado, faz segunda-feira um ano, Renato Sanches, o menino querido dos adeptos encarnados, tomou conta da festa do Benfica no Marquês de Pombal. “Tudo a saltar, tudo a saltar, tudo a saltar, SLB, SLB, SLB, tricampeão, tricampeão, tricampeão”, ouvia-se. As imagens estavam focadas em milhares de pessoas que enchiam o espaço, mas aquela voz de garoto nem precisava de legenda: era ele, o prodígio que despontara nesse ano. Tocou-lhes no coração em campo, soube tocar fora dele. E quando começou a gritar “1904, 1904”, aí, foi a explosão.

Renato tinha falhado o encontro decisivo com o Nacional, por castigo. E, poucos dias antes, tinha sido confirmado como reforço do Bayern Munique, por um astronómico montante de 35 milhões de euros. Foi uma semana de fortes emoções mas, quando fazia a festa, já sabia que ia sair. Pouco depois, foi Gaitán. Para o Atletico Madrid, por 25 milhões. Em janeiro, completou-se a trilogia: Gonçalo Guedes rumou ao PSG, por 30 milhões. No total, entre o mercado de Verão e de Inverno, o Benfica arrecadou um total de quase 120 milhões de euros, de acordo com os números do Transfermarkt. O sucesso tem esse outro lado que faz sorrir os cofres. E agora não será exceção.

Olhando para os Campeonatos ganhos pelo Benfica este século, 2005 foi o único ano onde a vitória ao sprint na última jornada acabou por não arrastar grandes negócios. Bem, na verdade houve apenas dois com algum significado: Miguel, o extremo que um dia Chalana transformou num dos melhores laterais portugueses e que chegou à seleção, que foi para o Valencia por oito milhões de euros; e Alex, o também extremo/lateral que se transferiu para os alemães do Wolfsburgo por 1,8 milhões.

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A partir do título de 2010, a realidade foi diferente. Bem diferente. Após o Campeonato do primeiro ano de Jorge Jesus no Benfica, Di María saiu para o Real Madrid por 33 milhões, ao passo que Ramires passou para o Chelsea por 22 milhões. Mais tarde, na reabertura de mercado em janeiro, David Luiz juntou-se ao compatriota brasileiro nos blues por 25 milhões. No total (e sem contar com deduções de comissões e percentagens de passes), os jogadores que saíram na sequência desse título perfizeram uma soma total de 86 milhões. É muito? Houve mais.

Em 2014, após o primeiro dos quatro Campeonatos do tetra, Enzo Pérez (Valencia, 25 milhões), Markovic (Liverpool, 25 milhões) e Oblak (Atl. Madrid, 16 milhões) foram as três maiores transferências, num “bolo” que, segundo os números do Transfermarkt, rendeu 105 milhões. Quase o mesmo do ano seguinte, onde os mais valiosos foram Rodrigo e André Gomes, ambos para o Valencia, por um montante de 50 milhões.

Quem são os senhores que se seguem?

Chelsea, Manchester United, PSG, Inter e Bayern foram apenas alguns dos clubes que foram falados como possíveis destinos do central sueco Victor Lindelöf, campeão europeu sub-21 em 2015, que teve um crescimento fantástico nos últimos dois anos (até golos marca de livre direto, por sinal de grande relevo). O escandinavo é o jogador com o maior valor de mercado do Benfica e, em paralelo, um dos mais cobiçados.

Ainda na defesa, o setor onde começou a ser consolidado o quarto título consecutivo, o guarda-redes Ederson e o lateral Nélson Semedo são outros dos nomes mais falados. Pela atual qualidade, pela idade, pelo potencial, pela margem de progressão. E a eles só não se junta tanto Grimaldo, porque falhou cinco meses da temporada.

Do meio-campo para a frente, e além do maestro que pauta todo o jogo, Pizzi, existem também os avançados Mitroglou e Jiménez, que são internacionais e garantem pontos nessa subespécie que nunca está em extinção mas é cada vez mais procurada: goleadores. O argentino Salvio também poderá ter mercado.

O plantel comandado por Rui Vitória não irá sofrer uma razia de alto a baixo mas, a atentar pelos últimos anos, é muito provável que dois/três titulares possam sair, caso sejam apresentados valores ao nível das transações mais altas que os encarnados têm conseguido fazer. Até porque, como se tem visto, a sucessão não tem obrigatoriamente de ser um problema. E o caso de Renato Sanches é exemplo paradigmático disso mesmo: saiu, rendeu 35 milhões (valor que pode aumentar, pelas cláusulas de objetivos) e Pizzi, a ‘8’, foi o melhor jogador do Campeonato.