Um estilo simples sem ser simplista, que sai fora do expetável: a julgar pelas aparições em público — e sucessivos comentários na imprensa internacional — Brigitte Trogneux não será uma primeira-dama francesa convencional, um papel que lhe cai nos ombros já este domingo, aquando da tomada de posse do marido Emmanuel Macron. Calças justas e looks que favorecem o corpo de 64 anos começam a fazer parte de uma identidade política que está a dar que falar em França e no mundo.

Fazendo da roupa uma arma política, há meios, como o The Guardian, que defendem que a forma como Brigitte se veste é um manifesto silencioso sobre como o marido quererá governar o país. Nem de propósito, o jornal inglês relembra que no dia das eleições presidenciais — que ditaram a vitória de Emmauel Macron –, a futura primeira-dama saiu à rua com um casaco azul-marinho da Louis Vuitton que, além de elegante, evidenciava uma gola de feitio moderno em tons prateados. Falamos do mesmo casaco com que a ex-professora de Literatura se deixou fotografar a celebrar a vitória do marido, 24 anos mais novo do que ela.

Sendo esta uma cultura visual, a forma como nos vestimos pode refletir uma tomada de posição. A escolha de vestir um casaco mais ousado no (até agora) dia mais importante da carreira política do marido representou uma quebra com os looks formais (e, por vezes, aborrecidos) de quem desempenha papéis como aquele que Brigitte está quase a “herdar”. Mas não é só isso: a peça de roupa assinada pela maior marca de luxo francesa reforça a vontade política de Macron, já antes expressa, de estar à frente de uma administração progressista com olhos para “grandes negócios”, tal como escreve o The Guardian.

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Calças de cabedal ou skinny jeans, por exemplo, não tendem a fazer parte de um guarda-roupa oficial. Longe de ser apontada com uma fashionista ou de encarnar o estereótipo da mulher parisiense, Brigitte tem vindo a mostrar que não só respeita a estreita silhueta, como favorece a idade que já leva no BI. Nem de propósito, o britânico The Telegraph argumenta que a figura esguia e as longas pernas fazem crer que Brigitte é mais uma ex-modelo do que uma ex-professora.

Não esquecer que França está sem uma primeira-dama desde 2014, depois de Hollande ter sido apanhado a trair a então namorada, a jornalista Valérie Trierweiler. Tanto Trierweiler como Carla Bruni — que enquanto primeira-dama sofreu uma grande transformação de imagem — se distanciam do estilo de Brigitte (ou vice-versa). Trierweiler vestia-se mais para si própria, numa abordagem um tanto ou quanto descontraída, e Bruni chegou a ser acusada de copiar um estilo mais americano (à base de vestidos curtos sem mangas, casacos formais e sabrinas).

Brigitte Trogneux está a mudar o “Chic Bobo” que em tempos definiu o guarda-roupa das mulheres francesas na esfera política — é a Vogue britânica quem o afirma. Em vez de sapatos com pouco salto e penteados mais discretos, a mulher de Macron apresenta-se em público com características que já não estão a deixar ninguém indiferente: um bronze de fazer corar qualquer banhista fora de época, saltos dignos de uma passadeira vermelha e cabelo loiro e volumoso — há quem diga, tendo em conta as semelhanças físicas, que ela é a Jane Fonda francesa. “É o tipo de mulher que usa uma saia vários centímetros acima do joelho sem collants”, escreve a há muito considerada bíblia da moda.

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Recapitulando: casacos com fechos de correr, óculos de sol escuros, calças de cabedal, vestidos sem mangas e vestidos de noite curtos, a mostrar as pernas esguias e bronzeadas, são alguns dos looks preferidos de Brigitte — uma tendência para correr riscos que está a cativar fãs anónimos, bem como a imprensa especializada. A apetência para a moda — sendo que a imagem que Brigitte construiu se distancia daquela trabalhada a dedo com recurso a consultoria –, parece ser algo natural. Não é raro encontrar Trogneux na primeira fila dos desfiles que marcam as sempre concorridas semanas da moda em Paris. E por falar em desfiles e criadores, a futura primeira-dama francesa tem um carinho especial pela Louis Vuitton, marca que a veste num registo mais frequente desde 2014.

Brigitte Trogneux não é só a mulher de um político. Depois da tomada de posse, a futura primeira-dama francesa terá um papel no governo do marido e já está a reinventar aquilo que o The Guardian diz ser “a esposa política”.

É este o regresso do “je ne sais quois” do estilo na política francesa?

Artigo corrigido a 15.05.2017.