Os jovens portugueses passam muito tempo nas aulas e os professores têm pouco tempo para fazer outras coisas além de dar matéria. O diagnóstico é de Andreas Schleicher, diretor da OCDE para a educação e competências, que deu uma entrevista à TSF em antecipação ao evento “Educação 2030”, que se realiza em Portugal até 18 de maio e reúne professores, alunos, investigadores e responsáveis políticos de mais de 30 países.

Se analisarmos entre os diferentes países descobrimos que quanto mais horas de aulas têm, piores são os resultados nos testes PISA. A resposta está na qualidade da aprendizagem, que é sempre produto da igualdade de oportunidades e da qualidade do ensino. Portugal investiu muito na quantidade do ensino, os alunos têm muitas horas de aulas. É tempo de investir mais na qualidade do ensino. É este o desafio para Portugal, não pensar que precisam de ter mais horas do mesmo mas, sim, usar o tempo dos alunos e dos professores de forma mais eficiente”.

Numa análise crítica em relação ao ensino em Portugal, o especialista diz que “uma das razões pelas quais não está a ter melhores resultados é porque os alunos são muito bons a reproduzir conhecimentos mas ainda não conseguem muito bem extrapolar os conhecimentos e aplicá-los em situações não familiares. É isso mesmo que o mundo espera deles. Acho que esta é uma área que deveria merecer mais atenção”, recomenda.

Outra crítica é o excesso de chumbos. “Repetir o ano não ajuda os alunos a melhorar, é estigmatizante e custa ao país uma enorme quantidade de dinheiro, entre 15 e 20 mil euros por cada aluno repetente”. Qual é a solução para isso? “A resposta não passa pela progressão automática mas por uma sinalização mais precoce de quando os alunos estão a ficar para trás. É preciso dar mais apoio aos professores, os professores em Portugal continuam a ter muito pouco tempo para fazer outras coisas além de dar matéria”.

Onde tem havido indicadores mais positivos é no abandono escolar, onde os números têm caído mas continuam entre os mais elevados da Europa. Ainda assim, Andreas Schleicher diz que “a redução do abandono escolar não é fruto de medidas específicas mas da falta de crescimento económico — por não encontrarem alternativas no mercado de trabalho, alguns estudantes mantêm-se na escola”. A prova de fogo será quando a economia melhorar e houver alternativas no mercado de trabalho, os jovens vão continuar na escola?

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