Artigo publicado originalmente em maio de 2017 e republicado por ocasião da morte de Kobe Byant, a 26 de janeiro de 2020.

São quase dois metros de culto que desfilam ao ritmo de Kanye West e Rihanna, em Orlando, nos Estados Unidos. Quando Kobe Bryant — a estrela dos LA Lakers — entra no palco do Sapphire ao lado de Bill McDermott e de Derek Jeter — a estrela dos New York Yankees — há milhares de pessoas em pé. Não para ouvir pela segunda vez o líder da SAP, a multinacional alemã que é líder no mercado de software e aplicações para empresas, mas para se focarem nos dois ícones do desporto norte-americano. O que fazem duas estrelas do basquetebol e do baseball no encerramento de um dos principais eventos de alta tecnologia do país? Não sabemos ainda, mas sabemos como é que Bill McDermott se sente: “abençoado”.

Kobe Bryant e Derek Jeter têm 38 e 42 anos, mas já são “velhos” desde os 30, altura em que se começaram a despedir das carreiras “legendárias” — palavra do líder da SAP — que fizeram no desporto. Mas “novos” na carreira de empresários que entretanto começaram. Em 2013, a lenda da NBA lançou a Kobe Inc.,uma empresa de multimédia que se foca em ajudar atletas a maximizar o seu potencial, e juntou-se ao investidor Jeff Stibel para lançar um fundo de investimento em capital de risco no valor de 100 milhões de dólares. Já Derek Jeter, um dos principais capitães do baseball norte-americano, lançou a empresa de media Players Tribune em 2014.

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“No desporto, quando fazes 30 anos, o mundo faz questão de te lembrar que és velho”, diz Derek quando Bill lhe pergunta como foi reformar-se tão cedo. O ex-atleta dos New York Yankees explica que começou a planear o que faria depois de deixar o desporto ainda enquanto jogava.

“Gostei da transição, porque quando entrei no mundo dos negócios toda a gente me dizia que eu era muito jovem. Mas a verdade é que sempre fui muito bom a admitir as coisas que não sei. E por isso sempre me rodeei de pessoas que pudessem acrescentar valor à minha vida.”

Derek Jeter explica que, para liderar, é preciso conhecer as pessoas, ter tempo para ouvi-las. “Tento ter tempo para saber quem são as pessoas, que têm todas diferentes personalidades. A única forma de as conheceres é tendo tempo para elas. E só porque estás numa posição de poder, isso não significa que as pessoas te respeitem. Podem ouvir-te, mas podem não te respeitar”, diz.

Kobe Bryant ri e lembra que depois do último jogo contra Utah — em que bateu o seu recorde pessoal, marcando 81 dos pontos da sua equipa — os outros jogadores reformados lhe perguntavam constantemente se estava bem, como se o facto de não estar deprimido fosse uma negação à saída do desporto. “Mas quando me reformei, a minha cabeça já estava no que ia fazer a seguir”, conta. E como é que se é bom aos 20 e se continua a ser bom aos 30? “Fazes aquilo que consegues fazer e assumes o que não consegues fazer. Focas-te nas coisas que podes controlar e que podes fazer. Tentas melhorá-las”. E that‘s it!

Como Kobe Bryant se despediu dos Lakers. Foi assim, de forma memorável, fazendo 60 pontos

E como é que lideram equipas fora de um campo? “Tendo tempo para compreender as pessoas, as suas inseguranças, os seus medos. E só consegues isso comunicando”, diz, explicando que, para que isso aconteça, é preciso que os líderes se ouçam a si próprios primeiro.

“Tens de te compreender, saber quais são os teus medos e inseguranças, para que possas estar bem com eles sem os projetares nos outros. Quando entenderes isto sobre ti, entendes os outros e consegues ter mais empatia com os teus colaboradores. Enquanto líderes, é nossa responsabilidade entender isto e perceber qual é a melhor fora de acompanhar as pessoas ao longo do seu caminho.”

Derek Jeter recupera os conselhos do pai para aconselhar os milhares de profissionais de tecnologia que estão há cerca de uma hora sentados a ouvi-los. “Há pessoas muito talentosas, mas isso não é razão para não trabalharem. Cresci numa cidade pequena e o meu pai dizia-me sempre que, a toda a hora, havia alguém na Califórnia ou no Texas que era muito melhor do que eu. E a única coisa que eu poderia ter a certeza era do meu trabalho. Não há desculpa para não trabalhar, por muito talento que se tenha”, contou.

O líder da multinacional alemã que conta com 350 mil clientes em 180 países encerrou o painel no mesmo registo que o começou. “Sinto-me abençoado por ter tido a oportunidade de entrevistar estas duas lendas, que são das pessoas mais incríveis que já conheci.” Mas desta vez não foram as luzes de Kanye West e de Rihanna que disseram ‘adeus’ ao centro de congressos, mas a insurreição (Uprising) dos Muse. Até porque na tecnologia e no desporto, they will be victorious.

*A jornalista viajou para Orlando a convite da SAP