Já havia o polícia bom, polícia mau. Agora, graças a Ridley Scott em “Alien Covenant”, temos o androide bom, androide mau. Neste filme que se segue a “Prometheus” e que continua uma nova trilogia que antecede a saga “Alien” original e faz a ponte para o primeiro desta, “Alien, O 8º Passageiro”, David, o androide interpretado por Michael Fassbender, afinal sobreviveu após a nave onde seguia com a Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) se ter despenhado num planeta distante, metendo-se a fazer pesquisas genéticas e desenvolvendo um complexo de demiurgo. E há ainda um androide seu gémeo, mas tecnologicamente mais avançado e eticamente mais afinado, chamado Walter, também personificado por Fassbender e tripulante da nave Covenant que dá título ao filme.

[Veja o “trailer” de “Alien: Covenant”]

Este encontro de irmãos-inimigos cibernéticos com diferentes atitudes para com os humanos que devem assistir, proteger e defender, de acordo com a forma como foram originalmente programados, é um das poucas novidades de um filme que no resto é muito familiar. Ou não tivesse sido a intenção de Ridley Scott regressar às primícias narrativas da série “Alien”, não obstante os fumos de Grandes Temas que por aqui pairam (a origem da humanidade, o poder para criar vida). Assim, a Covenant, que transporta colonos em hibernação e embriões, é atraída por uma estranha transmissão de rádio para um planeta aparentemente paradisíaco. Lá, os tripulantes descobrem o citado David, o que resta da Dra. Shaw e uma estranha e sinistra necrópole, cedo começando a ser atacados, trucidados e usados como incubadoras pelos “aliens”.

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[Veja a entrevista com Ridley Scott, Michael Fassbender e os outros atores]

“Alien: Covenant” é, tal como o original, um filme de terror num enquadramento de ficção científica, sendo que aqui, os membros da tripulação da Covenant têm que enfrentar os “aliens” a céu aberto, no planeta onde aterraram, e no interior da sua nave espacial; e os “aliens” são morfologicamente mais variados, embora as suas intenções continuem a ser as dos costume: atirarem-se aos humanos como gato a bofe e transformá-los em hospedeiros das suas crias. A fita é de tal forma pão pão queijo queijo, que as personagens humanas são rapidamente descartáveis. Exceção feita à imediato Daniels de Katherine Waterston, que é uma Ripley em tom menor, e ao Tennessee de Danny McBride, o piloto-chefe “country & western”, já que até o comandante improvisado de Billy Crudup se aguenta pouco tempo no balanço. “Alien: Covenant” está feito para os monstros alienígenas e para os seres artificiais.

[Veja as filmagens de “Alien: Covenant”]

Mesmo com a estereofonia de androides, com Michael Fassbender a recorrer a subtilezas de representação para transmitir o que separa David de Walter, e com o “upgrade” dos “aliens”, “Alien: Covenant” não rompe com o genoma da série e a sensação de “já aqui estivemos antes”, “been there, seen that”, domina a fita. Mas ao leme continua a estar um cineasta de primeira água, que sabe tirar do chapéu como poucos sequências de ação quer em espaços apertados, quer em paisagens rasgadas (a sequência do ataque noturno na superfície do planeta fica para a história da saga) e é um administrador consumado do terror, da tensão e da crispação cardiológica, atenuando assim a familiaridade do empreendimento.

Como seria de esperar, o filme tem um final “pendurado”, remetendo para o próximo deste novo ciclo, e que em princípio o fechará. E se Ridley Scott injetar mais audácia no argumento do “Alien” que se segue, talvez o bicho que anda outra vez à solta vá mais longe do que aqui (e até modifique seriamente o seu ADN).