O imperador japonês Akihito poderá abdicar das suas funções até ao fim do próximo ano, deixando o trono para o seu 126.º ocupante, o príncipe herdeiro Naruhito. O Governo japonês, liderado por Shinzo Abe, aprovou um decreto-lei quer permitirá que o imperador Akihito seja o primeiro em dois séculos a abdicar do trono, numa autorização exclusiva e especial. A última vez que aconteceu foi com o imperador Kokaku, em 1817.

Akihito, de 83 anos, numa aparição televisiva no passado ano, mostrou receio em ficar debilitado devido à sua idade e saúde, que o podem deixar incapaz de exercer as suas tarefas oficiais. Mas a abdicação do trono não estava prevista na lei japonesa. Por isso o Governo japonês apressou-se a criar nova legislação.

A imprensa nipónica noticiou que o imperador provavelmente renunciará em dezembro de 2018, abrindo caminho para o seu sucessor, o seu filho mais velho Naruhito, subir ao trono do Crisântemo no início de 2019.

O Governo considerou dezembro como a data ideal por ser a altura em que o imperador celebra 85 anos e completa três décadas no trono.

O diploma para a alteração legislativa deverá ser aprovado durante o próximo mês. É aplicável apenas ao imperador Akihito e não a futuros monarcas.

O anúncio do noivado da neta do imperador, a princesa Mako (25 anos), reavivou o debate sobre a escassez de herdeiros do sexo masculino e de uma possível crise da sucessão ao trono imperial. A princesa anunciou, há três dias, que se vai casar com um colega de faculdade, perdendo assim a condição de membro da família real, de acordo com a lei de 1947 que rege a Casa Imperial (esta lei dita que todas as mulheres da realeza que contraírem matrimónio com um plebeu perdem o seu estatuto). Sendo que, se Mako tiver um filho, este também não poderá ser imperador.

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Princesa Mako à saída da sua casa, em Tokio, depois de anunciar que ia casar com um plebeu.

O casamento de Mako reduz para 18 o número de membros da dinastia reinante no Japão. Destes 18 apenas 3 são homens: o príncipe herdeiro Naruhito (57 anos); o irmão dele, Akishino (51 anos) e o filho deste último, Hisahito (10 anos).

A preocupação aumentará se Hisahito não tiver nenhum filho.

O primeiro-ministro japonês não cedeu contudo à pressão de incluir uma cláusula na nova lei que permitisse às princesas estabelecer os seus próprios ramos dentro da família imperial depois de se casarem com plebeus.

No entanto, antes da de 1947, o trono nipónico chegou a ser ocupado por mulheres (a última no século XVIII). A imperatriz Suiko (554-628), 33.º ocupante do trono, foi a primeira mulher a liderar o Japão.

Há pouco mais de uma década, retomaram-se as discussões sobre a sucessão feminina ao trono japonês. A mudança foi defendida pelo primeiro-ministro da altura, Junichiro Koizumi, que teria permitido que a única filha do imperador Naruhito, a princesa Aiko, se tornasse imperatriz. “Eles consideram a possibilidade da princesa Aiko casar com um homem de olhos azuis, depois de se apaixonar quando estava a estudar no estrangeiro e a possibilidade do seu primeiro filho se tornar imperador?”, questionava na altura Takeo Hiranuma, um ex-economista ultraconservador.

Porém, todo este debate se desvaneceu quando nasceu Hisahito, em 2006, que veio terminar com uma espera de quatro décadas por um herdeiro masculino.