A viagem pode ser uma forma de evasão. No caso de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, evasão dos problemas internos que o têm atormentado desde que despediu James Comey, o diretor do FBI encarregado de investigar as possíveis ligações da equipa de Trump a alguns russos próximos de Vladimir Putin, o presidente da Rússia.

Trump começou esta sexta-feira a sua primeira viagem ao estrangeiro e tem agendadas paragens na Arábia Saudita, Israel, Cidade do Vaticano e Itália. Primeiro objetivo: conseguir créditos na área da política internacional, principalmente na Arábia Saudita e em Israel, dois países com os quais Barack Obama não manteve propriamente uma relação amistosa.

A sua equipa disse à comunicação social norte-americana que considerava que Trump teria algumas dificuldades em manter um calendário tão exigente, porque não está habituado a manter longas reuniões diplomáticas, nem a viajar durante horas aterrando em fusos horários diferentes, nem à comida dos países anfitriões. E por isso mesmo é sabido que, quando aterrar na Arábia Saudita, o seu primeiro destino, o presidente terá à sua espera bifes com ketchup, a par das iguarias locais que pode ou não optar por experimentar.

Arábia Saudita é o primeiro país que Trump visitará

Trump chega à Arábia Saudita dia 20 de maio. O primeiro encontro é com o rei Salman em Riade para um café informal, ao qual se seguirá um banquete. Logo depois vem a parte séria: conversas bilaterias com o rei, o príncipe e o seu vice. Correm rumores de que Trump possa levar debaixo do braço um acordo de venda de armas na ordem dos 100 mil milhões de dólares e na agenda está a Síria e o Irão (inimigo dos sauditas, que podem mesmo pedir a Trump que demonstre com mais clareza a sua oposição em relação a um país que continua do lado do presidente sírio Bashar al-Assad).

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No dia seguinte Trump estará reunido com o Conselho de Cooperação do Golfo, que é constituído por seis país produtores de petróleo. O almoço será um affair bem mais concorrido: esperam-se 50 líderes de países muçulmanos à mesa com Trump, dos quais se destacam o presidente do Sudão Omar al-Bashir (que está sob suspeita de ser culpado de crimes de guerra devido à crise humanitária sem precedentes e à guerra civil que destruiu o país). A Síria e o Irão não foram convidados, até porque Trump deverá oferecer um discurso carregado de ideologia contra o fundamentalismo islâmico, diz o jornal Politico, que cita Stephen Miller, membro da equipa de Trump. O Presidente deve acabar o dia com a inauguração de um centro para a luta contra a radicalização e participar num encontro via Twitter com jovens de vários países.

Dia 22: Israel

A trama diplomática adensa-se. O último escândalo na Casa Branca de Trump dá conta de um encontro do Presidente com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, onde Trump terá revelado informação confidencial fornecida por Israel. Além disso, uma parte da comunidade judaica nos Estados Unidos — para não falar dos palestinianos — está contra a deslocalização da embaixada norte-americana de Telavive para Jerusalém, que é a capital reclamada tanto por israelitas como por palestinianos. Trump vai encontrar-se com Reuven Rivlin em Jerusalém e haverá uma cerimónia no Centro Mundial para a Lembrança do Holocausto. No fim do dia, Trump vai reunir-se, em privado, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Está planeado um jantar.

Mas logo no dia seguinte é com os rivais de Israel que tomará o pequeno almoço. Trump tem previsto passar algum tempo com o presidente da Autoridade Palestiniana Mahmoud Abbas em Belém, como parte do seu compromisso em dar passos na direção dos acordos de paz entre israelitas e palestinianos.

Próxima paragem: Cidade do Vaticano

Dia 24 de maio Trump encontra-se com o papa Francisco. Na agenda está o tema das alterações climáticas. “Vou tentar dizer-lhe o que penso, mas não quero julgar ninguém antes de ouvir”, disse o Papa, segundo a cadeia televisiva ABC. Trump também deverá encontrar-se com o presidente italiano, Sergio Mattarella, e a crise dos refugiados deve estar na agenda.

E agora para a Bélgica

O país que um dia foi classificado como Trump como “uma cidade muito bonita”. O presidente vai encontrar-se com o rei Filipe da Bélgica e com o primeiro-ministro Charles Michel. No dia 25 parte para Bruxelas, quartel-general da União Europeia, um bloco do qual Trump nunca foi um grande fã, tendo até dito que o Reino Unido estava a tomar a decisão certa ao aprovar o Brexit. Trump ganhou as eleições com um discurso protecionista, construído à volta da necessidade de cada país tomar primeiro conta dos seus cidadãos e das suas empresas, revelando-se contra a política de fronteiras abertas que os tratados europeus protegem. Na Europa, Trump fará um percurso que o levará por caminhos que ele renegou. Depois de apoiar Marine Le Pen para presidente de França, irá almoçar com Emmanuel Macron.

Trump aproveitará também a oportunidade para pedir um compromisso mais robusto com a NATO. “Para o bem da aliança, todos os membros da NATO devem partilhar responsabilidades e o peso das contribuições”, dirá Trump de acordo com o que o seu Conselheiro para a Segurança Nacional disse à CNN.

Itália: o regresso

A parte final do seu périplo será passado em Itália, onde regressa depois de ter estado no Vaticano. Nos dias 26 e 27 chegará à Sicília para a conferência do G-7. Nessa conferência tem um encontro marcado com a chanceler alemã, Angela Merkel, mas também voltará a encontrar Macron e a primeira-ministra britânica Theresa May. Justin Trudeau, que tem feito o possível para se distanciar de Donald Trump, principalmente no que respeita à política de acolhimento de refugiados, também lá vai estar. A decisão de os Estados Unidos se retirarem ou não do Acordo Climático de Paris só será feita depois do encontro com os líderes das sete maiores economias do mundo, confirmou a Casa Branca.

“O presidente Trump entende que ‘América Primeiro’ não significa ‘América sozinha”, disse o seu conselheiro para a Segurança Nacional Raymond McMaster.