A época foi péssima. Não há volta a dar na análise: pé-ssi-ma.

Cedo, bem cedo, pouco depois do Natal, não havia mais o que disputar em Alvalade: a Liga dos Campeões fora-se; à Liga Europa o Sporting não chegaria – de tão má que a primeira foi –; às taças nem vê-las – da Taça de Portugal foi eliminado pelo Chaves nos quartos-de-final, da Taça da Liga pelo V. Setúbal ainda na fase de grupos –; o título (que ao Sporting foge desde 2002) seria discutido a dois entre Benfica e portistas.

Esta noite, diante do Chaves, Alvalade, descontente, fez-se escutar. Ou melhor: não fez. Na bancada Sul (com mais cadeiras vazias do que preenchidas de adeptos) do estádio, as claques do Sporting, em protesto, desenrolaram uma tarja onde a negro se podia ler: “VINTE MINUTOS IGUAIS À VOSSA ATITUDE”.

O recado fora entregue. Não se escutaria vivalma da bancada durante vinte minutos. Nem durante os golos se escutaria.

E houve dois. Logo aos 11’, penálti em Alvalade! O árbitro Jorge Ferreira não hesitou: Ponck adiantou a bola, Podence tratou de surripiar-lha, e o central do Chaves não teve outro remédio a não ser derrubá-lo em falta. Na conversão, Bas Dost atirou rasteiro para a direita, Ricardo caiu para o lado contrário, e o Sporting chegava à vantagem. 31 jogos, 32 golos de Dost.

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Pouco depois, aos 15’, canto de Matheus à esquerda, Dost surge isolado na área entre Rodrigo Soares e Patrão, quase não precisando de saltar para cabecear, na “gaveta”, para o segundo golo da noite. A defesa do Chaves ficou mal na fotografia. Foi o décimo “bis” de Bas Dost no Sporting.

Vinte minutos após o início, escutar-se-ia outra vez a bancada Sul.

É certo que o Sporting nada venceu esta época. Mas Dost, conseguisse ou não ultrapassar Messi na disputa da Bota de Ouro, seria sempre o goleador-mor em Portugal no final. Título individual? Check! Título para reconfortar o ego? Também há. É que ninguém como o Sporting aposta tanto na formação. Frente ao Chaves, de início, Jesus apostaria em Beto, Esgaio, Semedo, Palhinha, Adrien, Gelson, Pondence e Matheus. Oito. Geraldes entraria mais adiante. Nove. E ainda havia Patrício no banco.

A aposta na formação é “verbo-de-encher”? À meia-hora os rapazes de Alcochete provariam que não. Com talento.

Depois de desmarcado por Dost (OK, este não é de Alcochete mas nado e criado em Deventer) à direita, Gelson tabelou com Podence à entrada da área, recebeu a bola de volta, “entortou” um defesa primeiro, outro a seguir, e entregaria a bola à esquerda em Matheus. E como não há dois “entortados” sem três, Matheus fez uma revienga, trocou a bola de pé — do esquerdo para o direito, que é “cego” —, deixou o Soares de candeias às avessas e rematou cruzado e rasteiro, entre Ricardo e o poste esquerdo do Chaves: 3-0 em Alvalade. 15 jogos e 456 minutos depois, Matheus fez o primeiro golo no campeonato pelo Sporting. Quanto a Gelson, foi o décima assistência que fez esta época — ninguém assiste em Portugal como o menino das tranças pretas.

A segunda parte chegaria mas com pouco para contar.

Perigo, perigo, só por volta dos 53’. O livre era ligeiramente descaído para a direita, ainda distante da baliza do Chaves. Vinte e oito metros. E um centimetro mais de distância — só para ser preciso. Adrien ajeitou a bola. Ajeitou e voltou a ajeitar. Jefferson aproximou-se de mansinho, como se não quisesse nada com o livre. Mas queria: foi ele a batê-lo, forte e em arco, passando sobre a densa barreira do Chaves, Ricardo foi surpreendido e só teve tempo de correr para o canto superior esquerdo da sua baliza e desviar, a punhos, a bola para a barra. Ufffff!

O golo do Chaves – sem que ninguém o esperasse em Alvalade – chegou aos 60’. Fábio Martins e Lenho, à esquerda, entenderam-se, o primeiro desmarcaria o segundo, Esgaio ficou a vê-los jogar, e Lenho cruzaria depois para o primeiro poste. Coates falhou o corte, Semedo deixou Willian Oliveira escapar-se e o avançado do Chaves, esticado sobre o relvado até ao último tendão, desviou meeeeesmo nas barbas e Beto: 3-1.

Em Alvalade continuavam os recados vindos da bancada Sul: “SEMEDO, BON VOYAGE!”

O diretor desportivo do Lille, Luís Campos, está em Lisboa a negociar o central. E este não deixará saudade. Na época anterior (retornando do V. Setúbal em janeiro) Semedo afirmou-se ao lado de Coates. Os adeptos perdoaram-lhe a indisciplina que sempre demonstrara ao longo da formação (chegou a ser emprestado ao Reus de Espanha para “acalmar”, isto depois de ter chegado ao volante de um automóvel a Alcochete… quando era menor de idade), perdoaram-lhe também o episódio do Facebook – quando Semedo se assumiu como benfiquista e troçou do Sporting –, mas não lhe perdoariam uma época tão má, tão má, que perderia a titularidade para Paulo Oliveira.

A terminar, para lá dos noventa minutos, e com os recados todos entregues a quem de direito, prrriiiii… Mais um penálti em Alvalade. Jefferson cruzou para a área, para Dost, mas o holandês não chegaria à bola por estar a ser (ostensivamente) agarrado na camisola por Massaia. Na conversão, Bas Dost voltou a rematar para a direita, Ricardo voltaria, tal como na primeira parte, a escolher o lado esquerdo, e Dost chega ao terceiro hat-trick da época. Tudo somado, o holandês fez 37 golos esta época (36 no Sporting, um no Wolfsburg) e igualou a sua melhor temporada de sempre, em 2011/12, no Heerenveen.

A época, a valer alguma coisa, valeu por ele, o rapagão de Deventer. E pelos rapazes de Alcochete. Alguns: Gelson, Podence…