O Instituto de Apoio à Criança (IAC) registou 37 casos de desaparecimento de crianças e jovens em 2016, mais dois do que no ano anterior, tendo a maioria (17) sido por fuga de casa ou de uma instituição e 14 por rapto parental, mais cinco casos (aumento de 38%) do que em 2015, segundo dados divulgados à Lusa.

Houve ainda dois casos de desaparecimentos de crianças migrantes não acompanhadas e dois casos de crianças perdidas. Noutras duas situações não é especificada a causa do desaparecimento.

Em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Internacional da Criança Desaparecida, que se assinala na quinta-feira, o coordenador do serviço SOS-Criança, Manuel Coutinho, manifestou preocupação com a situação das crianças migrantes.

“O que nos está a trazer muita preocupação” é a situação das “crianças migrantes não acompanhadas fugidas da guerra, que são muitas, que se deslocam pela Europa, e depois desaparecem, supondo-se que vão para as redes de tráfico”, disse Manuel Coutinho.

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Mas as situações de raptos parentais, quando uma criança é levada ou mantida num país diferente do da sua residência por um dos pais ou detentores da sua guarda, contra a vontade do outro, e as fugas também merecem reflexão: “Ninguém foge de um sítio onde está bem. Por isso, quando a criança é encontrada não deve ser devolvida (…) sem se analisar bem o motivo que a levou a sair de lá”, adiantou.

Nesse sentido, “é importante humanizar as instituições, tentar que funcionem da melhor maneira possível”, mas também é “importante pôr a lupa em cima das famílias e perceber o que é que leva as crianças a fugir de casa”.

O secretário-geral do IAC contou que muitos menores fogem por iniciativa própria, motivados por situações ligadas à internet. “Muitos não navegam nas redes sociais em segurança e vão atrás do que não devem, vão atrás de namorados, vão atrás de sonhos, vão atrás de ideias e isto é muitíssimo perigoso”.

Por vezes, “é mais perigoso” as crianças estarem a navegar na internet em casa do que estarem a brincar na rua, disse, advertindo que “o desaparecimento de crianças tem uma correlação positiva com a exposição, principalmente, dos estados de alma e da curiosidade que eles têm nas redes sociais”.

As crianças “colocam na internet os seus estados de alma, as suas tristezas, as suas preocupações, as suas angústias” e do “lado de lá, com um rosto invisível ou com um falso rosto”, pode estar “um predador” que “ao perceber-se da fragilidade da criança pode tentar selecioná-la para ser vítima das suas sevícias, das suas taras, das suas redes”.

Para evitar estas situações, Manuel Coutinho defendeu que é preciso explicar aos jovens os perigos que existem quando navegam na internet e alertou: “Os pais preocupam-se por os filhos estarem na rua mas deviam preocupar-se mais quando os filhos navegam de uma forma desprotegida na Net”.

O aumento dos raptos parentais e o impacto que têm nas crianças também constitui uma preocupação para o psicólogo, sublinhando que “é um mau trato psicológico” que tem de ser eliminado da vida das famílias.

“As pessoas têm muitas vezes esta atitude irrefletida porque os adultos estão numa grande conflitualidade, mas a criança fica partida por dentro, fica para sempre com um trauma psicológico bastante grave e deixa de confiar nas pessoas”, frisou. Do total de crianças desaparecidas, há quinze que ainda não foram localizadas, adiantam os dados do IAC.

Nas restantes situações, em que a criança foi localizada, a duração do desaparecimento é variável, sendo que na maioria dos casos foi inferior a 48 horas (24%). Do total de crianças desaparecidas, verifica-se que há quinze casos em que ainda não se localizou o paradeiro das crianças. Nas restantes situações, em que a criança foi localizada, a duração do desaparecimento é variável, sendo que na maioria dos casos foi inferior a 48 horas (24%).