“O Sentido do Fim”

O indiano Ritesh Batra, realizador de “A Lancheira”, viajou até Inglaterra para assinar esta adaptação do livro de Julian Barnes, que colaborou no argumento. É um filme em tom de realismo quotidiano e sem sobressaltos à flor da pele, muito casual na forma como expõe a narrativa. Jim Broadbent interpreta Tony Webster, um reformado divorciado, que tem uma loja de máquinas fotográficas “vintage” em Londres, uma filha mãe solteira prestes a dar à luz e uma ex-mulher com a qual se dá tão bem, que é estranho que se tenham separado. Um dia, Tony recebe uma carta insólita, onde a mãe de uma ex-namorada lhe lega uma soma em dinheiro e o diário de um antigo colega da universidade e seu melhor amigo na altura. Esta correspondência remete-o para um passado que tinha varrido para debaixo da carpete da memória e deixado por contar à ex-mulher e à filha, levando-o a recordar acontecimentos, amores e ressentimentos antigos, a ter revelações insuspeitadas e a sentir a picada de um arrependimento retroativo.

Situado nos antípodas de um filme dos “Fast and Furious”, “O Sentido do Fim” é pausado e calmo, arrumado e articulado, e cheio de ótimas interpretações, com a de Broadbent à cabeça. Só no final, quando se dá a revelação que põe Tony a fazer um exame de consciência e a decidir ser uma melhor pessoa para quem o rodeia, é que a fita tropeça. Batra trata-a com uma leveza desconcertante, quando o momento estava a pedir uma convulsão dramático, nem que fosse para contrastar com o registo emocional comedido adotado pelo realizador. Este anti-clímax faz com que o “sentido do fim” do título (mal traduzido do original inglês, “The Sense of an Ending” – ou seja, de “um fim”, no sentido de “uma conclusão”) acabe por ficar pouco claro. Também com Charlotte Rampling, Emily Mortimer e uma excelente Harriet Walter no papel da ex-mulher do protagonista.

“Piratas das Caraíbas: Homens Mortos não Contam Histórias”

O quinto filme da série da Disney iniciada em 2003 e interpretada por Johnny Depp no papel do excêntrico capitão Jack Sparrow, “Piratas das Caraíbas: Homens Mortos não Contam Histórias” é assinado não por um realizador mais por dois, os noruegueses Joachim Ronning e Espen Sandberg, autores de “Kon Tiki-A Viagem Impossível”, e vem anunciado como sendo o último. A Disney pensou primeiro em fazer dois filmes “back to back” para rematar a série, mas depois desistiu do sexto. Só que há poucas semanas, Joachim Ronning disse que “Homens Mortos não Contam Histórias” poderá afinal ser “o início da última aventura”, embora no final deste todas as pontas soltas do enredo que tem vindo a ser continuado de fita para fita aparentem ter sido satisfatória e definitivamente atadas. A fita foi rodada na Austrália e exibe a já costumeira fórmula vencedora da série: aventura de piratas + comédia “slapstick” + elemento fantástico-sobrenatural, com este a pesar cada vez mais, por causa da crescente importância dada aos efeitos computacionais na indústria do cinema americano, e de cada filme ter que superar o anterior em aparato formal e vertigem visual. “Piratas das Caraíbas: Homens Mortos não Contam Histórias” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.

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