A notícia chegou à caixa de e-mail num tarde aparentemente tão normal como as outras: o vinho Blog bivarietal by Tiago Cabaço 2013 foi considerado “Best in Show – Best Red Blend” nos anuais Decanter World Wine Awards. Trocado por miúdos, esta foi a primeira vez que um vinho de mesa português conquistou uma das distinções mais cobiçadas do setor a nível mundial — ao Observador, o produtor que precisou de umas horas para perceber o que acabara de ganhar explica que o seu vinho pode agora ser apelidado de “melhor vinho tinto de lote do mundo”.
“O nosso vinho [um blend à base das castas alicante bouschet e syrah] foi o vencedor de uma das categorias onde há maior concorrência”, diz Tiago Cabaço ao telefone. Nem de propósito, o resultado em causa implicou a perícia de um júri composto por mais de 200 especialistas e uma exigente prova que passou por três fases.
Se numa primeira fase foram provadas cerca de 17.200 referências — às quais foram atribuídas medalhas de bronze, prata ou ouro –, num segundo momento foram avaliados apenas os vinhos medalhados com ouro, de maneira a atribuir as medalhas de platina. No final, coube ao mesmo júri escolher o melhor vinho em cada categoria. O Blog colheita de 2o13 foi um dos honrados, um vinho de pequena produção (só existem nove mil garrafas) e que está no mercado a 30 euros — de referir que o vinho Madeira Bual de 1987 da casa Cossart Gordon também recebeu um prémio idêntico, na categoria “Best Sweet Fortified”.
O título “melhor vinho tinto de lote do mundo” é chamativo e ajuda a colocar no mapa os vinhos de Tiago Cabaço que, em boa verdade, em pouco mais de 10 anos conseguiu afirmar-se no mercado e ganhar o respeito de outros produtores. Foi precisamente em 2004 que Cabaço decidiu investir num negócio próprio e que leva o seu nome no rótulo. Olhando para trás, parece que nunca houve outro rumo a seguir que não o da viticultura: Tiago Cabaço nasceu e cresceu em Estremoz, entre vinhas dos pais. Em jeito de brincadeira, o produtor assegura que praticamente aprendeu a andar entre os vinhedos, pelo que o cheiro e sabor das uvas estão entre as principais memórias de infância.
A agricultura que lhe estava no sangue depressa passou para o currículo: com apenas 22 anos de idade, Tiago Cabaço tornou-se produtor de vinho. Adquiriu a Herdade do Trocaleite e, com ela, 80 hectares de vinha. Em 2012, inaugurou a nova adega, situada na Quinta da Berlica, com vista para os castelos de Estremoz e Evoramonte, e recebeu elogios do então Presidente da República, que o apelidou de “representante de uma nova geração de produtores alentejanos”.
A vontade de gerir uma empresa de vinhos surgiu precisamente porque Cabaço queria mostrar ao mundo o seu entender do que é o Alentejo e, em particular, como é esse vinho que nasce em terra de montados e sobreiros. O primeiro Blog — do qual o vinho premiado é “descendente” — surgiu em 2006 e, de lá para cá, tem vindo a ganhar cada vez mais nome. Um ano depois, a empresa começava a beneficiar da consultoria da enóloga Susana Esteban e, atualmente, do catálogo vinícola da empresa constam monovarietais, bivarietais, além de marcas como .Com e Blog. “Temos tentado crescer de uma forma sustentada”, diz o produtor, lembrando que a exportação para 14 mercados está nos 30 por cento.
Tiago Cabaço diz que, felizmente, já não tem conta dos prémios que ganhou, embora garanta que a atual distinção só vem “uma vez na vida”. Para o produtor, o prémio em destaque eleva não só os seus vinhos mas também o nome do Alentejo e de Portugal no sector cada vez mais global dos vinhos. E por mais fronteiras que os seus vinhos ultrapassem, Estremoz será sempre, na opinião de Cabaço, “o coração vinhateiro do Alentejo”.