O complexo arqueológico de Troia, no concelho de Grândola, realiza escavações em junho, das quais são esperadas novas descobertas, e organiza visitas guiadas aos sábados à tarde, disse à agência Lusa a arqueóloga Patrícia Brum.

“Este ano iniciámos um projeto em que cada mês do ano é dedicado a um deus da mitologia romana, e junho é o da deusa Fortuna. As visitas guiadas terão essa temática, mas permitirão também visitar a área das escavações em curso, uma grande oficina de salga com sinais de uma profunda remodelação, num momento ainda indeterminado”, disse à agência Lusa Patrícia Brum.

“Espera-se que as escavações que se vão realizar no âmbito da Troia Summer School possam ajudar a esclarecer a evolução desta fábrica onde se preparava peixe salgado e molhos de peixe”, acrescentou.

A deusa Fortuna, filha de Júpiter na mitologia latina, era a deusa do acaso, da sorte (boa ou má), do destino e da esperança, correspondendo à divindade grega Tique, sendo normalmente representada com os olhos tapados, e com uma cornucópia e um timão (eixo de uma roda) nas mãos, que simbolizavam a distribuição de bens e a coordenação da vida da humanidade, respetivamente. Os romanos organizavam festas em sua honra nos dias 11 e 24 de junho.

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“Sob o signo de Fortuna, este ano serão realizadas escavações de tanques de salga de peixe da oficina que designámos por número quatro”, referiu a responsável à Lusa.

O complexo arqueológico de Troia tem identificadas 27 unidades de produção, designadas por oficinas de salga, sendo “o maior complexo industrial de salga de peixe do Império Romano que atualmente se conhece”.

Troia tornou-se uma imagem de marca de um dos produtos mais apreciados no Império Romano, o “garum”, uma pasta de peixe feita das vísceras de atum ou cavala, misturadas com outros peixes.

Atualmente, no complexo de Troia, que floresceu entre os séculos I e VI, são visitáveis duas oficinas de salga de peixe, um mausoléu, uma necrópole, uma zona residencial e um complexo termal.

Em junho, todos os sábados, às 15:00, realizam-se visitas orientadas por arqueólogos ao complexo, classificado como Monumento Nacional desde 1910, e que se encontra na lista indicativa da UNESCO para Património da Humanidade, desde o ano passado.

“O que se pode visitar é uma amostra da totalidade do complexo arqueológico, pois os vestígios romanos estendem-se ao longo de dois quilómetros”, sublinhou a arqueóloga. As visitas incluem a zona onde decorrem as escavações.

O complexo, cuja arqueóloga responsável é Inês Vaz Pinto, recebeu no ano passado 9.364 visitantes, “um número elevado”, tendo em conta os horários de abertura do sítio.

Em 2016, as ruínas de Troia estiveram abertas, de março a maio, apenas aos sábados, de junho a agosto de terça a sábado, de setembro a dezembro apenas ao sábado e, nos meses de janeiro e fevereiro, estiveram encerradas.

A mais antiga referência às ruínas data do século XVI, pelos humanistas Gaspar Barreiros e André de Resende.

Em 1850 realizou-se uma campanha de escavações com a criação da Sociedade Arqueológica Lusitana, que realizou trabalhos nas denominadas “Casas da Rua da Princesa” (atual rua residencial, que é visitável).

Entre 1948 e 1969 realizaram-se várias campanhas que levaram à descoberta, entre outros equipamentos, de duas grandes oficinas de salga, de umas termas, de necrópoles e de uma basílica paleocristã.