É a semana do empreendedorismo do Porto que quer transformar a cidade num “laboratório vivo” da inovação e da tecnologia. A Semana Start & Scale, que vai decorrer de 27 de maio a 3 de junho está na segunda edição, um ano depois da autarquia ter lançado o ScaleUp Porto Manifesto, uma estratégia conjunta do município com o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), Porto Business School, Instituto Politécnico do Porto e Agência Nacional de Inovação. E para a qual estão convocados universidades, incubadoras, empresas, investidores. Objetivo: “potenciar a cidade como centro de inovação e empreendedorismo, à escala nacional e internacional”.

Em abril, a Talkdesk, startup portuguesa que promete criar um call-center em “cinco minutos”, anunciou a abertura de um escritório no Porto, depois de já estar presente em Lisboa e em São Francisco, nos Estados Unidos. A empresa, que é apontada pela revista Forbes como o próximo “unicórnio” (startup avaliada em mais de mil milhões de dólares) português — só a Farfetch, loja online de artigos de luxo, atingiu esse patamar no país — anunciou ainda a contratação de mais 100 colaboradores, distribuídos entre Porto e Lisboa.

Também o grupo Hostelworld, a maior plataforma de reserva de hostels do mundo, escolheu a cidade do Porto para abrir o primeiro escritório no país e tem 50 vagas para jovens licenciados nas áreas de informática e tecnologia. São vários os exemplos de empresas, nacionais e internacionais, que se têm instalado no Porto nos últimos anos. Mas, afinal, o que é que o Porto tem?

Se tivesse de dizer um dos principais fatores que suscita esta atração pelo Porto, diria que são, sem dúvida, os recursos humanos de excelência que nós temos. A dinâmica do Porto é fruto das pessoas que aqui temos e da excelente formação que têm”, nota Filipe Araújo, vereador com o pelouro da Inovação e Ambiente da Câmara do Porto.

A par do capital humano e das infraestruturas e transportes, como o metro ou o aeroporto, o Porto está numa região “fortemente exportadora, vocacionada para a parte industrial” que põe a região em condições de competir com cidades como Barcelona – mesmo com Lisboa – e com outras capitais europeias, acredita Filipe Araújo.

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Quanto às dificuldades por que atravessa o ecossistema portuense, o vereador para a Inovação refere a “escassez de recursos” na área das Tecnologias de Informação (TI) como a principal barreira ao crescimento.

São dificuldades que já existem nos Estados Unidos e na Europa. Nós temos a noção de que para crescermos, temos que ser capazes de atrair talento”, sublinha.

Segundo um relatório publicado pela Comissão Europeia em janeiro de 2014, 15 mil vagas de emprego vão ficar por preencher em Portugal, em 2020. Tendo em conta o total dos 27 Estados-membros da UE (à data da publicação do estudo), vão sobrar 913 mil vagas. Se falarmos das mulheres nas TI, dados do Eurostat, publicados em abril, indicam que a União Europeia tinham cerca de 1,4 milhões de estudantes na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), em 2015. As mulheres representavam apenas 17% desse universo. Em Portugal, 14% dos estudantes das TIC eram mulheres.

É exatamente para perceber o que une (ou afasta) as mulheres da tecnologia, que o Hard Club vai ser palco de histórias no feminino. A 29 e 30 de maio, a plataforma Chicas Poderosas, organização sem fins lucrativos, lançada na América latina pela portuguesa Mariana Santos, é a responsável por promover a discussão da “felicidade e trabalho”, com apresentações, conversas em jeito de entrevistas e workshops onde se tentará descobrir de que forma o talento e a inovação podem ser postos ao serviço da humanidade.

Fazer negócio e “escalar” pela Europa

Os jovens procuram os desafios que os satisfazem, que os fazem ir mais além e encontram isso muitas vezes nestes projetos inovadores, que têm uma perspetiva global do mundo”, considera o vereador para a Inovação.

Por isso, o Doing Business vai voltar para dar a oportunidade aos “jovens” projetos e às startups de terem reuniões privadas com grandes empresas, a 31 de maio. Esta ação permite que startups tenham acesso à experiência de empresas mais maduras ou de potenciais clientes, enquanto que estas empresas têm a oportunidade de conhecer as inovações das startups que podem aumentar a sua vantagem competitiva. Neste momento, estão agendadas mais de 100 reuniões, adianta Filipe Araújo.

A 1 de junho, o ScaleUp for Europe vai, juntar investidores, empreendedores e órgãos de decisão europeus no Palácio da Bolsa, como o diretor de Economia da cidade de Nova Iorque, a diretora da Endeavor ou o diretor da Startup Amesterdão. Objetivo? Discutir estratégias de crescimento sustentável para startups e scaleups na Europa e à escala global, assim como o papel que as cidades têm como “catalisador” deste crescimento.

Queremos trabalhar o tema das scaleups, com parceiros europeus, numa lógica de desenvolver o escalar das empresas de forma a que a Europa siga também esse caminho. Porque é esse o caminho que temos de fazer: escalar as empresas para terem um impacto maior na economia e no emprego”, considera Filipe Araújo.

No dia seguinte, o Palácio da Bolsa será palco de um aula, na qual Alexander Grosse, diretor de Engenharia da BCG Digital Ventures, dará dicas de como gerir o crescimento de uma empresa ou equipa.

Nos dois últimos dias, a cidade será um “laboratório vivo”, com o Hackacity, a maratona de programação que vai ligar equipas do Porto, Manchester (Reno Unido), Olinda/Recife e Cuiabá (Brasil). Missão: trabalhar dados sobre as cidades, disponibilizados no momento, e criar soluções com aplicação prática no dia-a-dia em áreas como o turismo, mobilidade ou ambiente.

Por último, o Commit Porto é uma conferência tecnológica que vai reunir mais de 400 profissionais de TI na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Microsoft, Feedzai, Farfetch, Mindera e Blip, empresas que trabalham a partir do Porto, serão algumas das empresas presentes para debater os desafios das últimas tecnologias no desenvolvimento de software.

Da agenda da semana fazem ainda parte as open house. Instituições, empresas e Câmara Municipal vão estar de portas abertas a quem quiser conhecer a tecnologia que têm por dentro. Por exemplo, o Centro de Gestão Integrada do Porto vai dar a conhecer a tecnologia que gere a cidade. O Porto Innovation Hub vai ainda ser palco de uma exposição relacionada com Empreendedorismo e Inovação na cidade.

Com o objetivo de envolver toda a cidade neste movimento “Scaleup”, a Semana Start & Scale contará ainda com iniciativas na rua que vão abordar alguns dos conceitos ligados ao tema junto de um público mais alargado, para que “percebam o que é isto das startups e do empreendedorismo”, refere Filipe Araújo.

Isto se a chuva der tréguas. Estava previsto a semana arrancar este sábado com o Startup Fest, iniciativa promovida pelo Clube de Empreendedorismo da Universidade do Porto, que queria reunir mais de 80 projetos empreendedores e investidores de diversas áreas na “Praça dos Leões”, junto à reitoria. Mas a organização informou esta quinta-feira que o evento será adiado para o próximo mês de julho, dada a “instabilidade meteorológica prevista para os próximos dias”.