O banco de investimento norte-americano Goldman Sachs comprou 2,8 mil milhões de dólares de dívida venezuelana ao Banco Central da Venezuela por 865 milhões de euros, numa altura em que o governo de Nicolas Maduro precisa desesperadamente de dinheiro, um negócio que está a ser duramente criticado pela oposição venezuelana.

De acordo com o Wall Street Journal, o Goldman Sachs terá pago apenas 31% do valor facial de 2,8 mil milhões de dólares desta dívida da empresa Petróleos da Venezuela que era detida pelo banco central e que vence em 2022.

Esta injeção de dinheiro nos cofres do banco central pode ser vital para o presidente Nicolas Maduro, que enfrenta uma dura contestação interna, com protestos nas ruas venezuelanas e a sua popularidade a cair a pique, e é acusado por vários governos do ocidente de vários abusos de direitos humanos.

Numa altura em que a escassez de alimentos e medicamentos é cada vez maior, e com uma economia que contraiu cerca de 27% desde 2013 e cuja inflação deve chegar aos 720% este ano, de acordo com o FMI, Maduro tem reagido aos protestos com tropas nas ruas — já morreram pelo menos 60 pessoas — e com a tentativa de mudar a Constituição para reforçar ainda mais o seu poder.

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Neste contexto, o investimento da Goldman Sachs no país caiu mal entre os detratores do regime, que têm feito uma campanha para bloquear as instituições financeiras internacionais de fazer negócios com o regime em dificuldades.

“O Goldman está colocar-se do lado errado da história com este negócio. (…) É um grave erro reputacional”, disse Angel Alvarado, um deputado da oposição venezuelana, acrescentando que considera que esta é uma má decisão, não apenas do ponto de vista ético, mas também como decisão de negócios, dizendo que se chegar à liderança do país, impedirá os negócios com este banco.

Segundo o jornal norte-americano, o Goldman Sachs terá vindo a aumentar de forma gradual o seu investimento no país, apostando na compra de dívida com descontos significativos que depois valorizaria substancialmente com a mudança de regime para uma situação mais estável. Os ganhos podem ser substanciais caso, de facto, a situação estabilize, mas o banco pode não só estar a evitar que o regime mude emprestando o dinheiro que o regime tão desesperadamente precisa para se manter vivo, mas também a arriscar-se perder tudo caso a situação se mantenha e o país entre em incumprimento.

Só no caso desta dívida, e sem contar sequer com os juros que anuais que estas obrigações terão de pagar, o Goldman Sachs poderá ter um lucro de mais de 1900 milhões de dólares, numa aposta no qual gastou menos de 900 milhões.

A dívida da Venezuela que o Goldman Sachs tem vindo a comprar, segundo o Wall Street Journal, tem condições semelhantes a esta mais recente operação. Devido aos anos de incumprimento e à instabilidade no país, os investidores preferem desfazer-se da dívida que detêm, mesmo que por uma fração daquilo que pagaram originalmente. Também o governo, desesperado por dinheiro, especialmente em moeda estrangeira, tem vendido a dívida pública, e das suas maiores empresas, a muito baixo custo.