O número de novos casos de infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) continua a baixar. Em 2016, foram diagnosticados 841 novos casos, menos 357 do que no ano anterior e quase metade daqueles que foram diagnosticados em 2014, segundo o relatório da Direção Geral de Saúde (DGS) que faz o ponto de situação sobre a infeção VIH, Sida e Tuberculose, em 2016, e que foi divulgado esta segunda-feira.
Recuando um pouco mais e olhando para o início do novo milénio, a quebra é ainda mais significativa: menos 73,5% do número de novos casos entre 2000 e 2016. E a DGS aponta algumas explicações: “o acesso a esquemas terapêuticos mais eficazes e a implementação de políticas e estratégias na área das drogas, nomeadamente a descriminalização do uso de substâncias ilícitas e programas de redução de riscos e minimização de danos (programa troca de seringas e programa de susbtituição opiácea)”.
Estes 841 novos casos — que ainda podem sofrer alguns ajustes — traduzem-se numa taxa de 8,1 novos casos por 100 mil habitantes, ainda assim acima da média dos países da União Europeia que registam uma taxa de 6,3 novos casos por 100 mil habitantes. Dos 841 casos, 161 já tinham sida. Estima-se que 45.501 pessoas vivam com sida em Portugal, dos quais 41.073 diagnosticados, segundo o mesmo relatório.
Mas esta redução global do número de novos casos, quando analisada mais à lupa, permite tirar outras conclusões. Desde logo que por cada três mulheres infetadas, há sete homens infetados. Mas não só.
Embora, em termos absolutos, o número de novos casos seja maior na população que se infeta por via heterossexual [57% dos novos casos em 2016], quando vemos a evolução dos últimos anos onde está a haver maior aumento é na categoria homens que têm sexo com outros homens [35% dos novos casos em 2016]“, confirmou ao Observador Isabel Aldir, responsável do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida, da Direção Geral de Saúde.
E para enfrentar esta realidade — que é a do aumento dos novos casos em homens que têm sexo com outros homens — “para além do que já está no terreno e que temos de melhorar, temos de nos adaptar às diferentes realidades porque esta é uma categoria que é dentro de si própria muito diversa. O que acho que vai poder fazer a diferença é a disponibilização ainda este ano da profilaxia pré-exposição, em pessoas reconhecidamente em situações de risco”.
Basicamente consiste num tratamento muito específico, que só será receitado após uma avaliação do risco, por pessoas conhecedoras e experientes na matéria, e que deve ser tomado durante o período em que adota esse comportamento de risco. Este comprimido atualmente é administrado a doentes já infetados em tratamento.
Além disso, outro dos pontos que é reiterado este ano é o da localização dos novos casos. A maioria residiam no distrito de Lisboa (41,1%), Porto (18,5%) e Setúbal (11,3%). A concentração de novos casos nas grandes cidades não é exclusiva de Portugal daí que se tenha criado o projeto ONUSIDA: o Fast Track Cities: Cidades na Via Rápida para eliminar o VIH. Portugal vai assinar a estratégia conjunta esta segunda-feira. A ideia é “que os municípios se envolvam num compromisso de criarem uma rede e melhorarem as circunstâncias de vida das populações”, com estratégias locais que permitam combater este problema.
Quanto às faixas etárias dos novos casos, Isabel Aldir preferiu separar os grupos. “A faixa etária depende da categoria de transmissão. Ou seja, nas pessoas que se infetam através de transmissão heterossexual a mediana de idades é de 41 anos. Nos homens que fazem sexo com homens a mediana é de 31 anos. Na prática infetam-se 10 anos antes e cada vez este fosso de idades se vai alargando mais”, avançou ao Observador.
Ao todo, entre 1983 e 2016 foram notificados 55.632 casos de infeção por VIH, sendo que desses 11.008 morreram entretanto.
1.699 novos casos de tuberculose em 2016
Em relação aos novos casos de tuberculose, também os números são positivos. Em 2016, foram notificados 1.699 novos casos, traduzidos numa incidência de 16,5 novos casos por 100 mil habitantes. “Mantendo-se, como usualmente, uma redução da taxa de notificação e incidência de 5% ao ano”, lê-se no documento a que o Observador teve acesso, que frisa contudo que os resultados definitivos deverão ser “superiores e estimados numa taxa de notificação de 19,8 por 100.000 habitantes e numa taxa de incidência de 18,0 por 100.000 habitantes”.
Recorde-se que em 2000, as taxas de notificação e de incidência “situavam-se em valores próximos dos 40, conseguindo-se, neste intervalo de tempo, uma diminuição para menos de metade”.
Também no caso da tuberculose se verifica uma concentração dos novos casos nos distritos de Lisboa e Porto. “Desde o início do milénio reduzimos imenso a taxa de incidência da tuberculose. Temos é agora também assimetrias regionais como no VIH, daí voltar à importância das estratégias mais locais. O que pode ser uma solução num sítio não é necessariamente a melhor opção noutro. E temos de ter particular atenção a grupos mais vulneráveis”, rematou a responsável da DGS, Isabel Aldir.