Adeus, Peúgas

De Benjamin Chaud (Orfeu Negro). 14€

Pelo título podia ser a história de uns pés encalorados, mas o ponto de partida do novo livro de Benjamin Chaud é muito mais surpreendente e capaz de prender qualquer leitor à cadeira. Peúgas é um coelho de estimação, assim batizado porque tem umas orelhas tão grandes “que se arrastam pelo chão como um par de meias”, como explica o pequeno rapaz que serve de narrador. Para além de anão, o Peúgas não é lá muito inteligente. É “gordito”, “molengão”, “rói os fios elétricos de casa” e para companheiro de brincadeiras “é um zero à esquerda” porque não sabe jogar à bola nem distinguir cowboys de índios. Solução rapidamente executada? Abandoná-lo na floresta. Pois.

Adeus, Peúgas é daquelas histórias que se leem de um fôlego, quase com o coração nas mãos, e que tem tudo para agradar aos miúdos e aos pais. O sentido de humor peculiar de Benjamin Chaud, autor dos livros A Cantiga do Urso e As Férias do Pequeno Urso está cá, assim como as suas ilustrações ricas. E está sobretudo uma história de amizade, cheia de reviravoltas e páginas inesperadas.

A Rainha do Norte

De Joana Estrela (Planeta Tangerina). 13,90€

O tradicional “e viveram felizes para sempre” dos contos de fadas é riscado sem dó nem piedade por Joana Estrela neste seu regresso aos livros para crianças, depois de Mana, um dos nossos favoritos de 2016. Em A Rainha do Norte, a autora pega na lenda das amendoeiras em flor para contar a história de um rei mouro que se apaixona por uma criada vinda de um país longínquo. “Casaram e viveram felizes… durante algum tempo”, lê-se logo na primeira página, com as seguintes a explicarem porque é que ser feliz para sempre não é nada fácil, sobretudo quando se é estrangeiro e diferente de todos os outros na cor da pele e do cabelo, como a rainha.

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Se as Maçãs Tivessem Dentes

De Milton & Shirley Glaser (Bruaá). 14€

Uma pequena mas poderosa conjunção é a grande protagonista deste livro publicado originalmente em 1960 e o primeiro da dupla Milton & Shirley Glaser. Com sentido de humor e bastante nonsense, a obra diverte-se a imaginar uma série de “ses”, num mundo disparatado que dá vontade de rir com a mesma vontade que a da improvável fruta da capa. “SE as maçãs tivessem dentes” é só a primeira hipótese (e o título), porque até ao fim há mais de 20 “se…tuações” imaginadas e ilustradas, desde cogumelos com cabelos a elefantes que, “se quisessem ajudar, podiam começar por aspirar” a casa com a tromba.

Gaston

De Kelly DiPucchio e Christian Robinson (Orfeu Negro)

Um buldogue e um caniche trocados à nascença são os grandes protagonistas deste livro que vem dos Estados Unidos mas podia vir de França. Gaston é um cachorrinho e os seus irmãos Fifi, Xuxu e Oh-lá-lá não se parecem em nada consigo. O mesmo acontece com Antoinette, em tudo diferente do resto da sua ninhada, Ruca, Rambo e Bruno. Uns não se babam, os outros sim, uns desfilam, os outros correm, uns fazem “béu-beu”, os outros rosnam. Contrastes explorados de forma quase cinematográfica pelo texto de Kelly DiPucchio e as ilustrações de Christian Robinson, num álbum premiado que mostra que as aparências são muito menos importantes do que os afectos.

Zé Pimpão, o Acelera

De José Jorge Letria e André Letria (Clube do Autor). 12,50€

A pensar nas crianças de hoje, “condutores de amanhã”, José Jorge Letria publicou, em 2003, a história de Zé Pimpão, o Acelera. O livro foi reeditado em abril e, como diz o cognome, conta a história de um rapaz que gosta de “pôr o escape a roncar” e de ser o campeão das ultrapassagens. Claro que tanta pressa não dá bom resultado, assim como as cervejas antes de ir para a estrada ou a impaciência na passadeira. Uma espécie de manual da boa condução onde se aprende muito, aprendendo primeiro o que não se deve fazer, com direito a uma lista das “10 regras de trânsito que nunca deves esquecer” no final, e às fantásticas ilustrações de André Letria.

A Cidade dos Animais

De Joan Negrescolor (Orfeu Negro). 14,50€

Perante as imagens catastróficas do futuro, o ilustrador catalão Joan Negrescolor propõe uma visão muito mais colorida e selvagem. Nas suas páginas cheias de ilustrações quase em negativo — a fazer lembrar aqueles desenhos que víamos com os óculos 3D — ergue-se uma cidade povoada por animais para onde uma rapariga chamada Nina foge sempre que pode. Os animais gostam de a ouvir contar histórias e ela gosta de procurar os “objetos perdidos”. Nessas mesmas ilustrações percebe-se que A Cidade dos Animais foi outrora dos humanos, e que os prédios e carros foram tomados pela floresta. Uma espécie de regresso ao mito do bom selvagem onde tudo está em harmonia.

Como Desenhar uma Galinha

De Jean-Vincent Sénac (Bizâncio). 9,90€

A capa de Como Desenhar uma Galinha está riscada mas é mesmo de propósito. Neste livro ilustrado que dá continuidade à nova coleção infantil da editora Bizâncio, Jean-Vincent Sénac propõe-se ensinar os leitores a desenharem uma galinha, passo a passo. Como escreve o autor, só é preciso uma caneta, um copo para a caneta e um bom par de olhos. O problema acabam por ser as galinhas, que não param de fugir do papel e de reclamar perante a ideia de verem as suas partes separadas, para melhor serem desenhadas. Tão didático como divertido, e grande impulsionador dos mais pequenos (e imperfeitos) rabiscos.

Preço: 9,90€

Olhos Tropeçando em Nuvens e Outras Coisas

De João Pedro Mésseder e Rachel Caiano (Caminho). 9,90€

Depois de o Pequeno Livros das Coisas, o escritor João Pedro Mésseder e a ilustradora Rachel Caiano dão continuidade à série feita de observações com este Olhos Tropeçando em Nuvens e Outras Coisas. O livro tem como subtítulo “Haicais ou Quase” porque é feito de pequenos poemas de três versos, à semelhança dos haikus japoneses. Um exemplo: “Abril – as copas das árvores/ já tentam imitar/ as nuvens.” Um registo profundamente poético e introspetivo, pintado em pouco mais de quatro tons e através do qual os autores esperam que os jovens leitores se sintam desafiados a criar os seus próprios poemas.

Máquina

De Jaime Ferraz (Pato Lógico). 13,50€

Sem palavras, o livro de estreia de Jaime Ferraz mostra como estamos “máquino-dependentes”, seja para ir para o trabalho, subir até à porta de casa ou — cada vez mais — usar o telemóvel. Em tons de azul, branco e laranja, Máquina vive apenas das ilustrações, pois é precisamente essa a ideia desta coleção da editora Pato Lógico, chamada “Imagens que contam”. Não estarem lá palavras não significa, no entanto, que não haja uma história. Há e é uma bonita homenagem ao livro, esse objeto feito de papel e tinta, tão mais arcaico do que as máquinas mas que nunca saiu de moda nem foi alterado.

Fica a nota: Dia 4 de junho há uma apresentação do livro na loja A Vida Portuguesa do Intendente, às 16h30, e dia 10 de junho, às 17h30, na Feira do Livro de Lisboa. Em ambas haverá uma oficina plástica com o autor.

Dia Bom ou Dia Mau?

De Isabel Zambujal e Inês Fonseca (Oficina do Livro). 11,90€

Pegando no velho ditado de ver o copo (ou a taça de gelado, neste caso), meio cheio ou meio vazio, Isabel Zambujal constrói uma história em torno do otimismo e do pessimismo. No centro estão dois gémeos, o Abel e a Amélia, que embora pareçam iguais não podiam ser mais diferentes. “Um vê tudo com olhos zangados e o outro com olhos alegres”, mesmo que tenham acesso à mesmíssima realidade. Uma forma de dizer que o otimismo também se aprende e que há coisas que podem salvar um Dia Bom ou Dia Mau, como fazer uma lista de coisas boas antes de dormir e adormecer a “pensar noutras ainda melhores para o dia seguinte”.