Ainda esta quarta-feira o INE confirmou que a economia cresceu 2,8% no primeiro trimestre do ano, mas por mais que os indicadores económicos estejam a ser “positivos”, Pedro Passos Coelho nega que o PSD tenha ficado sem discurso político. Primeiro, porque o Governo, apoiado nos partidos à esquerda, não está a fazer as reformas de fundo que o país precisa para poder crescer sem estar dependente dos bons sopros da conjuntura externa; e, depois, porque foi o PS que se “converteu” ao fim de um ano às políticas de controlo orçamental que antes criticava, ao adotar as prioridades e o discurso macroeconómico do PSD — sobretudo no que diz respeito ao controlo do défice e ao crescimento pela via das exportações líquidas.

Pedro Passos Coelho tentou inverter os argumentos a seu favor, dizendo que “o Governo demorou um ano a mostrar ao país que toda a conversa” que fazia contra o PSD, dizendo que os sociais-democratas viviam “obcecados pelo défice e dívida” acabou por ser incorporada no próprio discurso dos socialistas. “Ao fim de um ano o Governo converteu-se àquilo que antes motivava a sua repulsa na política que nós fazíamos. E noto que os comentadores dizem que agora o PSD ficou sem discurso”, criticou o líder do PSD. “Mas eles é que adotaram como prioridade e como discurso aquilo que antes criticavam que nós fazíamos. Então, o PSD está sem discurso porque o Governo afinal defende que não podemos ter défice?”, atirou Pedro Passos Coelho, notando que quando o ministro das Finanças se apercebeu de que era preciso cumprir as metas “fechou as torneiras” do investimento e da despesa pública.

Quanto ao crescimento económico, Passos sublinha que, como nota o INE, a aceleração teve como impulso o aumento das exportações liquidas. “Isso é positivo, mas há alguma alteração de fundo que tenha sido feita por este Governo para motivar essa aceleração? Não há”, disse ainda, explicando que naquilo que estava ao seu alcance, o Governo só “retardou” esse crescimento.

Prova disso, afirmou Pedro Passos Coelho no discurso de encerramento das jornadas parlamentares do PSD, no Algarve, é o facto de que “há um ano o crescimento da economia estava a abrandar” e o país “estava a perder oportunidades”. “Foi preciso esperar um ano para o país retomar o crescimento, mas esse é um crescimento que não está a depender de reformas do Estado feitas pelo Governo, mas sim de fatores externos que não dependem de nenhuma decisão tomada“, acrescentou.

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Agora Passos admite que o receio da “geringonça” se dissipou e que isso pode não afastar os investidores nesta fase, mas “a seu tempo o país, e a comunicação social, irá perceber” que “a austeridade está lá toda”. Só não está no mesmo sítio. Pode não estar nos salários, mas está nos impostos e na ausência de despesa para fortalecer os serviços públicos, disse.

A ideia é clara: é preciso pôr Portugal a crescer sem estar dependente da conjuntura, e para isso é preciso reformas. Reformas que o atual Governo, apoiado no PCP e BE, não vai fazer. Logo, a atual solução de Governo não passa de uma “falsa alternativa”. “Se queremos que a economia cresça independentemente dos ciclos económicos temos de acrescentar reformas àquelas que já fizemos, não podemos empurrar com a barriga”, defendeu, dizendo que é “criminoso” o Governo estar a “enganar o país dizendo que não é preciso fazer reformas que são urgentes”, apenas porque não as consegue fazer com os atuais parceiros da esquerda. É o caso das reformas da Segurança Social, da descentralização ou do sistema eleitoral, tudo temas onde o PSD tem colocado na agenda para desafiar o PS a avançar.

Na intervenção do líder do PSD perante os deputados, não faltou a comparação com os tempos da governação de José Sócrates. Nessa altura, como agora, Passos Coelho afirma que apontou o dedo à falta de reformas estruturais. É isso que vai continuar a fazer, recusando mudar o discurso para entrar em qualquer via “populista” ou “demagógica”.

Se queremos alcançar um novo patamar de crescimento é agora que temos de fazer as reformas. O PSD chamou a atenção para isso todos os anos em que José Sócrates esteve no Governo e tínhamos razão. Por isso hoje voltamos dizer: este caminho não nos vai levar a uma situação em que possamos subir de patamar, Empurrar com a barriga só faz com que fiquemos dependentes da conjuntura, desde que o Estado não estorve muito”, acrescentou.

Um conselho: emitir dívida a 15 anos. Um desafio: ir à Grécia mostrar como se faz

Falando do rating e da possibilidade de as agências de notação financeira virem finalmente a rever a classificação de Portugal, tema em que tinha evitado tocar no primeiro dia as jornadas para se concentrar na constatação dos “problemas reais” da região do Algarve, Passos afirmou que “foi por o anterior Governo ter sido bem sucedido que hoje se está a pensar na subida do rating“. Uma questão indiscutivelmente positiva. “Acho muito bem que se peça para setembro, o mais depressa possível, mas façam por merecer que o rating melhore”, disse.

E mantendo a agulha nos assuntos económicos, Passos Coelho lançou um desafio ao instituto que gere a dívida nacional, o IGCP, já que os indicadores económicos estão tão positivos: que aproveite a onda e emita dívida a 15 anos em vez de ser a seis ou a sete. “Juros a 15 anos aliviam a pressão, e é de aproveitar agora enquanto dura a perceção de que as coisas na área orçamental correram bem e vão continuar a correr”, disse.

Já perto do fim, e em jeito de ironia, ainda teve tempo de lançar um desafio ao atual Governo: “Porque não apanham um aviãozinho para a Grécia e explicam ao senhor Tsipras como fazer?”, ironizou. “Afinal, não tem nada de chegar a entendimento nem pôr-se de joelhos à espera da próxima tranche, o importante é repor os cortes sobre pensões, salários, reformas”, disse.