O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, contrariou esta quinta-feira o discurso populista de que os problemas atuais têm soluções simples, defendendo antes que exigem “respostas complexas”, diálogo e cooperação.

Os populistas acreditam que os nossos problemas podem ser resolvidos com fórmulas. Não, eles apenas podem ser resolvidos com diálogo e cooperação. Os populistas pensam que problemas complexos podem ter soluções simples. Não é verdade. Eles precisam do nosso trabalho, do nosso esforço para conhecer a história de uns e de outros, reconhecer autoridade e comunicar entre nós. Exigem respostas complexas.”

Santos Silva comentou ainda que os políticos populistas “pensam que as instituições podem ser postas de parte, mas as instituições são o verdadeiro centro da nossa vida em comum”.

O governante intervinha na abertura do Fórum Lisboa 2017, organizado pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, que tem este ano como tema”Interligando as Pessoas – Gerir as migrações, evitar o populismo, construir sociedades inclusivas e reforçar o diálogo Norte-Sul”.

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Os valores democráticos, o Estado de Direito, a democracia, a qualidade das instituições, o empoderamento das mulheres, a educação dos mais novos – estas são as receitas contra o populismo, radicalização, e, no fim, contra o terrorismo.”

No seu discurso, o chefe da diplomacia portuguesa enalteceu o papel do Centro Norte-Sul, sediado em Lisboa, que atua “num ambiente multilateral, com uma abordagem de baixo para cima”, na “promoção do diálogo e partilha da responsabilidade que cabe a todos, de contribuir para interligar as pessoas e evitar o populismo”.

Pela sua história e pela sua identidade, os portugueses são um povo com um grande sentido dos valores universais e com uma tendência para ser uma ponte entre geografias e culturas“, defendeu, considerando que a capital portuguesa é “uma boa localização para a estrutura do Conselho da Europa dedicada ao diálogo entre o Norte e o Sul”.

Santos Silva lançou o desafio para que o Centro Norte-Sul “estenda a sua cooperação para olhar novamente para a África subsaariana”.

O organismo tem 20 membros, incluindo países que fazem parte do Conselho da Europa, além do Vaticano e, ainda, da margem sul do Mediterrâneo, Marrocos, Tunísia e Cabo Verde, e, em breve, Argélia.

É uma estrutura única onde o Norte e o Sul se encontram em pé de igualdade e discutem desafios comuns, onde promovemos a solidariedade, onde criamos parcerias, onde desenvolvemos a interdependência, numa palavra, onde nós aprofundamos os nossos laços.”

O ministro português sublinhou que o Centro Norte-Sul “deve merecer mais apoio, especialmente dos Estados-membros do Conselho da Europa”.

Na abertura dos trabalhos do Fórum Lisboa, que decorrem até sexta-feira, o diretor executivo do Centro Norte-Sul, António Gamito, sustentou a necessidade de um trabalho em conjunto “para gerir as migrações, para prevenir o crescimento dos movimentos populistas anti-imigração, para promover sociedades inclusivas que respeitam a diversidade cultural e para reforçar o diálogo entre Norte e Sul”.

Nazim Ahmad, representante da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento – que acolhe o encontro de dois dias – também elogiou a abertura de Portugal: “Portugal é reconhecidamente um dos países que mais facilmente integra comunidades de diferentes origens, credos e culturas, é um dos países mais abertos a receber imigrantes, a integrá-los, a ajudá-los e reconstruir as suas vidas”.