Depois de mais de 100 dias de fuga, Joaquim “Jeki” Bitton Matos, o único dos três reclusos que se evadiram na madrugada de 19 de fevereiro do Estabelecimento Prisional de Caxias que está ainda por capturar, deu este sábado uma entrevista ao jornal Sol em que garante ter pago 100 mil euros a dividir por quatro guardas para poder fugir.

“Paguei para conseguir fugir da prisão de Caxias e tive o privilégio de gravar a minha fuga. Dentro daquela espelunca paguei a quatro guardas para fecharem os olhos e deixarem-me fugir”, disse o luso-israelita, de 30 anos e a viver em Portugal desde os 15, ao jornal, através de videoconferência. Terá entregue 25 mil euros a cada um deles.

Não se coibiu de revelar os nomes dos guardas — “já não preciso deles” — mas não quis revelar a origem do dinheiro com que lhes pagou. Ainda assim, detido preventivamente desde outubro de 2015 pelo alegado envolvimento em assaltos violentos a jogadores de casino e suspeita de crimes de extorsão, associação criminosa, branqueamento de capitais, ofensa à integridade física, roubo, furto e tráfico de droga, garantiu que não fez nada. “Sou inocente de todos esses crimes, eles tentaram num ano e meio provar e não conseguiram.”

Sobre as notícias recentes que davam conta da sua fuga para Israel, onde chegou a publicar uma fotografia, no Facebook, Jeki Matos explicou que esteve lá (“De férias, em casa de amigos”) mas que agora se encontra no continente africano — num país cujo nome, por motivos óbvios, não quis revelar. Em compensação, partilhou com o jornal os seus planos para o futuro: “Estive em Angola de férias e vou para a África do Sul daqui a uns dias. Desde que não pise a Europa ou países que têm a extradição, tudo bem“.

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Também explicou ao pormenor como escapou, com outros dois reclusos, de nacionalidade chilena, da prisão de Caxias, depois de meio ano a cortar as grades da cela, com uma serra em fio. “Estávamos a planear a fuga há oito meses e durante seis meses, todos os dias, cortávamos um bocado da grade. Todos os dias há uma revista das celas, eu soube lidar com os guardas e, para além disso, alguns deles sabiam exatamente o que eu estava a preparar.”

Diz que só precisou de um telemóvel, que garante ter comprado a outro guarda prisional — “Ele vende telemóveis a 350 e 500 euros, 350 para os amigos como eu e 500 para os não muito amigos, comprei um Samsung J1, ainda o tenho” –, para tratar de pôr em marcha o resto do plano. “Não tínhamos ninguém à nossa espera. Mandei um reboque deixar um carro perto da prisão de Caxias e entregar as chaves a um amigo meu. A esse meu amigo pedi que deixasse o carro aberto com as chaves debaixo do tapete do condutor. Eu sabia exatamente a matrícula e o modelo do carro. Saímos da cadeia e fomos calmamente para o carro.”

“São todos uns corruptos, foi muito fácil comprá-los, estes foram ainda mais fáceis”, explicou, a propósito dos guardas prisionais sem os quais, assegura, a sua fuga não teria sido possível.

“Vou continuar a dar chapadas aos polícias, mas sem mãos, prometo mais, muito mais, seus bananas”, disse o ex-preso número 348 ao Sol, numa alusão às publicações que tem feito no Facebook, a provocar guardas prisionais, forças de segurança e sistema judicial português. Pouco tempo depois, terá feito um direto na sua rede social favorita, a partir de uma discoteca: “Estou a divertir-me, seus bananas”.