São mais de 600 páginas para acompanhar nove meses na vida de uma mulher. Um “obstreta pessoal” que cabe na mesa de cabeceira e já vendeu 18 milhões de exemplares em todo o mundo. À quarta edição, e depois de mais de uma década afastado das nossas livrarias, o manual da gravidez What to Expect When You’re Expecting tem uma nova tradução em português e foi adaptado à realidade nacional.

Patrícia Lopes, médica pediatra no Hospital D. Estefânia, foi a responsável pela revisão técnica e a adaptação. Como muita gente, conhecia a obra dos filmes norte-americanos onde “sempre que aparece uma grávida está a ler este livro”, e depois do desafio da editora Casa das Letras passou um ano a lê-la “à lupa” — “foi quase um parto”.

Editado originalmente em 1984, nos Estados Unidos, What to Expect When You’re Expecting, em português traduzido para O Que Esperar Quando Está à Espera de Bebé, já teve várias edições atualizadas, foi adaptado ao cinema, deu um site, uma app e uma fundação, o que explica que a sua autora, Heidi Murkoff, tenha sido considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela Time, em 2011. Nessa altura, a revista escolheu o título “ajudante das mães” para o perfil de Murkoff, o que sintetiza uma das grandes capacidades do calhamaço que já vendeu 18 milhões de exemplares em todo o mundo e esteve 10 anos na lista de bestsellers do New York Times: responder às dúvidas das futuras mães, desde antes da concepção ao pós-parto.

O livro foi editado pela Casa das Letras e custa 28,50€.

O livro descomplica absolutamente. Foi inicialmente escrito nos anos 80, quando ainda não havia muita informação, mas de facto responde a tudo”, diz a pediatra Patrícia Lopes ao Observador. “Ainda a grávida nem se lembrou de fazer a pergunta e já está lá a resposta. Por outro lado, todo o tom é muito tranquilizador. Há até uma advertência engraçada na parte da patologia: se não tem estas doenças, não leia, passe à frente.”

Dividido em cinco partes, das recomendações do que fazer (e não fazer) antes de engravidar às dúvidas pós-parto e de amamentação, O Que Esperar Quando Está à Espera de Bebé é comparado pelo médico norte-americano Charles J. Lockwood, que assina o prefácio desta quarta edição, a um “obstetra pessoal” que irá guiar a futura mãe na aventura da gravidez.

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Algumas perguntas respondidas no livro

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  • Quando devemos dizer aos amigos e à família que estamos à espera de bebé?
  • Posso fazer madeixas? E depilar-me com cera?
  • O que é permitido fazer no que diz respeito a sexo?
  • A poluição citadina pode prejudicar o meu bebé?
  • Julgo que senti o bebé a dar pontapés — mas não tenho a certeza. Como saber ao certo?

“De facto, por melhor que seja o obstreta e por mais humanizadas que sejam as consultas, os pormenores técnicos a analisar são tantos que acaba por não haver assim tanto tempo para responder às perguntas do dia-a-dia”, diz Patrícia Lopes. E elas não faltam na obra, desde a melhor posição para dormir aos melhores alimentos a comer, passando pelos exercícios físicos mais indicados (com direito a ilustrações). Outra grande mais-valia são os capítulos divididos mês a mês, com uma descrição do desenvolvimento do bebé semana a semana, numa espécie de radiografia do que se passa dentro do útero. Um exemplo:

17ª semana: Olhe para a sua mão. O seu bebé é agora mais ou menos do tamanho da palma da sua mão, com um comprimento da cabeça até ao fundo das costas de cerca de 13 centímetros e um peso aproximado de 140 ou mais gramas. A gordura corporal começa a formar-se (a gordurinha do bebé, embora a da mãe também deva estar a acumular-se bastante depressa nesta fase), mas o seu bebé ainda é magricelas e tem a pele praticamente translúcida. Nesta semana, o seu bebé está a preparar intensamente o nascimento. Uma capacidade importante que o bebé está a aperfeiçoar agora: o movimento de sucção e deglutição, para se preparar para aquela primeira mamada (e segunda… e terceira). O ritmo cardíaco do seu bebé é regulado pelo cérebro (acabaram-se os batimentos espontâneos) e é de cerca de 140 a 150 batimentos por minuto (mais ou menos o dobro dos batimentos da mãe.” (pág. 217)

As especificidades portuguesas

Se os sintomas de uma mulher grávida são mais ou menos universais, falar de uma gravidez em Portugal não é o mesmo que situá-la nos EUA. “Há grandes diferenças entre os dois países, nomeadamente ao nível da organização dos cuidados de saúde”, diz Patrícia Lopes, responsável pela adaptação da versão portuguesa. “Em primeiro lugar nós temos um Serviço Nacional de Saúde que funciona muito bem, não é um drama se a mulher não tiver um seguro de saúde, e isso está contemplado no livro. A outra grande diferença é que não existe a figura da midwife, da parteira. Em Portugal o acompanhamento da gravidez é feito ou pelo médico de família ou por um obstreta, as parteiras estão exclusivamente no hospital.”

Em 2012 o livro foi adaptado ao cinema, com Cameron Diaz como protagonista. © Lionsgate

Outras questões que a pediatra teve de adaptar, socorrendo-se nalguns casos da legislação portuguesa, foram as da vacinação e as das licenças de maternidade. Houve também uma especial atenção aos cuidados a ter para prevenir a infeção da toxoplasmose, uma vez que a taxa de imunidade em Portugal é muito baixa, o que não acontece noutros países. “Em Portugal temos de ter imensos cuidados mas em França, por exemplo, 80 por cento da população é imune à toxoplasmose porque os franceses comem carne crua praticamente desde bebés”, diz a pediatra.

De “toxoplasmose” a “ácido fólico”, passando por “tonturas”, “apetite” e “azia”, todos os principais termos, mais ou menos comuns a uma grávida, podem ser consultados no índice remissivo, no final do livro. E porque a aventura da gravidez não se vive apenas entre mãe e filho, há ainda um capítulo inteiramente dedicado aos pais, para eles saberem “lidar com os sintomas dela” e muito mais.