O incêndio que arrasou a vila de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, e que está também a afetar com gravidade os distritos de Coimbra e de Castelo Branco, ainda é notícia lá fora. Os jornais internacionais continuam a acompanhar os desenvolvimentos da situação dramática em Portugal e as histórias das vítimas começam a ser partilhadas.

Maria do Céu Silva abrigou no seu tanque de água 12 pessoas que tentavam fugir às labaredas e ao calor intenso que se fazia sentir, “um filme de terror” que estaria longe de terminar. A história desta mulher rapidamente se espalhou além-fronteiras quando o Washington Post, a BBC ou o Times a noticiaram, jornais que têm seguido de perto a situação portuguesa. Mas porque é que Portugal é tão fustigado por este tipo de calamidades?

O Washington Post aponta vários fatores: “os ventos fortes e quentes”, os “bosques densos e as encostas nas áreas norte e centro do país” ou ainda a “grande mancha de eucaliptos e pinheiros, árvores de fácil combustão. Apesar de ter “muita experiência” e vários aviões para combate a incêndios, não é “suficiente para gerir surtos como o deste fim-de-semana”, aponta o jornal.

As altas temperaturas que se fazem sentir no país, associadas à humidade quase nula, são noticiadas pela BBC como uma “ameaça ao esforço dos bombeiros“, que conduz à propagação fácil do fogo. O ABC espanhol mantém-se a par do avanço das chamas que “parecem impossíveis de apagar” e que, apesar dos esforços, “estão a ganhar a batalha“.

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À medida que as horas vão passando, as culpas começam a cair. O relato das críticas, como o atraso das comunicações entre o governo e a equipa da UE especializada neste tipo de calamidades, é feito na EuroNews. Surgem também descritas as queixas relativas à falta de meios de combate a incêndio em certas zonas afetadas e o “abandono” que muitos apontam como incompreensível.

A revista Time aponta ainda algumas estatísticas em que refere que Portugal tem cerca de 35% do território coberto com floresta – um pouco acima da média europeia, fixa nos 31% – e que a indústria de pasta de papel representa 3% do PIB português.

Editoriais espanhóis muito críticos

Na imprensa espanhola foram também dedicados alguns editoriais ao tema. “Tragédia em Portugal“, escreve o El País num artigo em que defendem que “a força da natureza não deve impedir que se avalie com todo o rigor se a resposta das autoridades e os meios mobilizados foram os adequados”.

Também o El Español dedica o seu editorial aos fogos: “Portugal, indignação e cinza“, num texto em que apresentam a situação dos incêndios ser “uma realidade quotidiana no país vizinho sempre que chegam os meses de calor”. Só que o número de vítimas, realçam, e em especial “o dos que perderam a sua vida resultaram numa indignação óbvia”.

O diário online espanhol escreve que, “se já é incompreensível que num país desenvolvido da União Europeia um incêndio fortuito provocado por um raio provoque mais de 60 mortos e centenas de feridos, a suspeita de que a tragédia se tenha agravado por uma péssima gestão dos trabalhos de combate é cada vez maior.” E recorda que “todas as vítimas caíram numa ratoeira sem saída quando tentavam fugir nos seus carros” e acabaram, sem saber, no meio das chamas. “O azar precipitou a sorte de uns e outros”, comenta o El Español.