Pedro Santana Lopes defende que deveria haver pedidos de desculpa em nome do Estado pela “tragédia” do incêndio em Pedrógão Grande, onde morreram 64 pessoas. E de quem? Por exemplo, do Presidente da República que representa o Estado.

Em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, o presidente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e antigo primeiro-ministro, é questionado sobre as declarações do líder do PSD, em que Pedro Passos Coelho afirmou ter conhecimento de casos de suicídio por falta de apoios do Estado, tendo depois corrigido a informação. Sublinhando que não gosta de criticar quem já pediu desculpas, Santana Lopes responde:

Acho que pedir desculpas é muito bonito e talvez façam falta mais alguns pedidos de desculpa pela tragédia, em nome do Estado.

E quando lhe perguntam quem mais o devia fazer, Santana Lopes responde: Quem representa o Estado, referindo o Presidente da República, por exemplo. Ressalva contudo que Marcelo Rebelo de Sousa “tem estado muito bem em todo o processo, mas ele saberá quando o fazer”. Mas quando questionado sobre pelo que teria Marcelo de pedir desculpas, Santana diz: “Das falhas, porque algo falhou (…) Do Estado não ter sido capaz de fazer tudo quanto as pessoas tinham direito que fizesse”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nesta longa entrevista, Santana Lopes fala também do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal) que foi decidido quando liderou o Governo, entre julho de 2004 e fevereiro de 2005. O ex-primeiro-ministro garante que não acompanhou o processo, que vinha do anterior Governo, liderado por Durão Barroso, e diz que só soube de algumas coisas depois de sair de funções porque alguns ministros assinaram despachos com o Governo já em gestão, sem informar o primeiro-ministro.

Sobre o ministro da Administração Interna que negociou o contrato, o ex-líder do PSD lembra que Daniel Sanches era um procurador, e por isso considerou que “tinha razões para estar descansado”.

O antigo dirigente do PSD comenta ainda as eventuais consequências das autárquicas para o partido, defendendo que o resultado destas eleições não deve ter influência em questões nacionais. Para Pedro Santana Lopes, o atual líder do PSD deve disputar as próximas eleições legislativas e não acredita que potenciais rivais de Passos Coelho, como Rui Rui e Morais Sarmento, consigam ganhar a liderança do partido em eleições diretas.

Tema incontornável na entrevista conduzida pelos diretores da Rádio Renascença e do Público, Graça Franco e David Dinis, é a entrada da Santa Casa no capital do Montepio. Pedro Santana Lopes diz que há uma equipa coordenada a trabalhar nisso, mas avisa que as notícias de o negócio estaria à beira de ser finalizado eram “absolutamente exageradas”. Santana Lopes confirma uma informação que foi dada esta semana por Elisa Ferreira, administradora do Banco de Portugal, no Parlamento, de que existem outros interessados em entrar na caixa económica detida pela associação mutualista.

Elisa Ferreira. Estabilizar o Montepio é prioritário e há interessados em entrar

Recusando pressão para a entrada da Santa Casa no Montepio, Santana diz que é 100% livre para dizer não, admite interesse da instituição na criação de um verdadeiro banco da economia social que poderia passar pelo Montepio, mas é um projeto que demoraria pelo menos um ano a concretizar.