O primeiro-ministro cabo-verdiano admitiu esta segunda-feira a necessidade de reforçar a diplomacia cabo-verdiana no Reino Unido, principal mercado emissor de turistas e de onde têm surgido repetidos alertas sobre insegurança e doenças transmissíveis em Cabo Verde.

Ulisses Correia e Silva disse, no entanto, que não está em perspetiva a abertura de uma representação diplomática cabo-verdiana no país e que esse reforço terá que ser feito com um embaixador não residente e com um cônsul honorário.

Abrir nova embaixada não, mas ter um embaixador não residente. Estamos em processo de nomeação de um cônsul honorário que possa ser também um elemento de ligação mais estreita com Cabo Verde” disse.

O chefe de Governo adiantou ainda que será feita “uma ação de marketing institucional muito forte no Reino Unido com a participação de membros do Governo e também com as câmaras de comércio e do turismo para fazer face a estes ruídos. Precisamos afirmar-nos cada vez mais no Reino Unido”.

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O Reino Unido emitiu no final do mês de junho um novo alerta aos viajantes que pretendem deslocar-se a Cabo Verde, destacando a insegurança e as doenças transmissíveis por mosquitos, como o vírus Zika, aspetos que têm sido também destacados por alguma comunicação social inglesa. O Reino Unido é o principal mercado emissor de turistas para Cabo Verde, representando 21% dos cerca de 195 mil turistas que entraram no país no primeiro trimestre de 2017.

Ulisses Correia e Silva falava esta segunda-feira no âmbito de um encontro com embaixadores e cônsules cabo-verdianos no estrangeiro, que decorre, à porta fechada, desde sexta-feira na cidade da Praia. No encontro, o primeiro-ministro apresentou aos representantes das missões diplomáticas e dos postos consulares a linhas gerais da política externa de Cabo Verde, centrada numa aposta na diplomacia económica e no reforço da parceria com a União Europeia.

“O eixo central da nossa política externa é o reforço das relações com a União Europeia, além das relações fortes que queremos também com os Estados Unidos, com a China, com o Brasil e com os espaços da CEDEAO e da CPLP”, disse. “Mas, com a União Europeia temos um historial de relações comerciais, de investimentos, de turismo que queremos reforçar e a parceria”, acrescentou.

Ulisses Correia e Silva disse ainda ter transmitido aos embaixadores e cônsules orientações no sentido de que Cabo Verde tem que se posicionar internacionalmente com base nas suas características próprias.

“Um país com mais de cinco séculos de existência, estável, com baixos riscos políticos e sociais, que tem que se afirmar pela confiança nas relações com investidores e parceiros e arquitetarmos todo o nosso princípio de política externa na base disto”, disse.

Os embaixadores e cônsules têm mantido encontros com membros do Governo e responsáveis de outros organismos, nomeadamente do Tribunal de Contas, que revelou que mais de metade das embaixadas de Cabo Verde não apresenta contas.

Confrontado com esta realidade, Ulisses Correia e Silva sublinhou tratar-se de uma situação “de há muitos anos” que tem que ser corrigida.

É algo que tem que ser superado. Precisamos criar mecanismos para que as embaixadas tenham acesso a mais recursos, não estejam sistematicamente a gerir problemas e possam concentrar-se mais naquilo que é a sua missão. Evidentemente que isso pressupõe cumprimento das regras e a apresentação de contas”, disse.

O encontro prossegue esta segunda-feira à tarde e na terça-feira será a vez de o Governo reunir os diplomatas estrangeiros acreditados em Cabo Verde.